quarta-feira, 19 de agosto de 2015

OS LAMBES E SUAS MÁQUINAS MARAVILHOSAS



OS LAMBES E SUAS MÁQUINAS MARAVILHOSAS
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2015.
Crônica Nº 1.476

CORISCO, VENDIDO E COMPRADO.
Os fotógrafos, desde que as máquinas foram inventadas, são as verdadeiras testemunhas da história. Não fora esses profissionais e os pintores a óleo que os antecederam, contar o que aconteceu no mundo seria sem sal e sem açúcar.
Lembro-me, perfeitamente, dos dois fotógrafos mais famosos da minha terra. Seu Antônio, homem baixo, magro e barba por fazer, era amigo do cigarro. Atuava, onde o alcancei, em sua residência, no início da calçada alta da Ponte do Padre, lugar que separa o Comércio do Bairro Camoxinga. Depois Seu Antônio mudou-se para a metade da Avenida Coronel Lucena, entre os dois becos de acesso à Rua Ministro José Américo. Expondo na frente de casa uma réplica, fotografia de Corisco, eu a comprei por ser uma coisa diferente. Entre as moedas, Cruzeiro e o Cruzeiro Novo, paguei barato a Seu Antônio, provavelmente, no início da década de 60. Ainda hoje possuo a foto que está escrita atrás: “Foto comprada a um fotógrafo profissional em Santana, por Clerisvaldo”. Separadamente coloquei o nome “Curisco”, com “u”.
Seu Zezinho, o outro homem da máquina, morava e despachava à Rua Nova, no início do declive para à Rua de São Pedro, lado de cima. Quase alto, branco, gordinho, aparentava sinais permanentes de fadiga. Acho que fotografou as cabeças de Lampião, Maria Bonita e mais a de nove cangaceiros quando expostas nos degraus da igrejinha do Monumento.
Já os lambe-lambes, atuavam na porta da Igreja Matriz de Senhora Santana, aventurando no 3x4 e nos casamentos e batizados aos sábados, dia de feira. Certo padre que gradeou a frente da igreja, praticamente acabou com os lambe-lambes de Santana.
Quantas e quantas coisas foram registradas por aqueles homens e suas máquinas maravilhosas, hoje consideradas de domínio público. Muitas estão em nosso livro inédito “228, história iconográfica de Santana do Ipanema”, à parte, de “O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”.
Nossas homenagens aos que contribuíram com as letras.

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terça-feira, 18 de agosto de 2015

TEMA DO CANTADOR




TEMA DO CANTADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de agosto de 2015
Crônica Nº 1.475
(Para João Nepomuceno, Fábio Campos, Marcello Fausto e Ferreirinha).
AMANHECER NA SERRA DO ORORUBÁ. (Livro: Ipanem, um rio macho).
















Deixei tudo tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia

Meu velho sertão robustecido
Os odores profundos dos frutais
Peixeira alongada nos bornais
Um cachorro vermelho e atrevido
O touro da fazenda enraivecido
Os beijos da moça que eu queria
O cochilo na rede ao meio-dia
Ou a barra do sol que vai nascer
Deixei tudo tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia.

A torre da capela na tardinha
O gado deixando os seus currais
Bem-te-vi engrossando os madrigais
Os odores gostosos da cozinha
Uma arma de fogo que eu tinha
O café, o cuscuz que mãe fazia
A estrela que era a minha guia
Nunca mais pude vê-la renascer
Deixei tudo tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia

Onde está meu cavalo das ribeiras
Minha sela de prata, meus arreios
Tempos invernosos, rios cheios
Garranchos das brutas quixabeiras
As balas que deixei nas cartucheiras
O quadro na parede, de Maria
O aboio que eu mesmo produzia
Quando à vida de gado pude ter
Deixei tudo, tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia

Perdi o forró de pé de serra
A corrida de pega com a ema
O perfume mais doce da jurema
O mel de fabrico papa-terra
Deixei o sossego pela guerra
Nada é como quis e pretendia
Se lá fora a estrela reluzia
Aqui dentro não posso perceber
Deixei tudo, tudinho pra morrer
Num lugar sem cores sem poesia.









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