quinta-feira, 10 de novembro de 2016

OS GARRINCHAS FRUSTRADOS

OS GARRINCHAS FRUSTRADOS
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crômica 1.587

Foto (paiaiáfc)
Soa como badalada forte a renúncia de um time de futebol numa disputa oficial do estado. Em todos os recantos do Brasil encontramos garotos nas várzeas, em terrenos baldios, nos terreiros de casa, em beiras de riachos e lagoas “derretendo-se” na bola. É uma febre arraigada e batida na alma nativa e na brasilidade continental. Muitos abandonam até a escola no sonho doce, extravagante e possível de um brilho futuro nos grandes estádios do país.
As chamadas crises sucessivas e as más administrações dos clubes pequenos erguem a esperança, plena de vida e felicidade para abatê-la logo à frente transformando-a em murcha frustração. Não é fácil galgar os degraus do futebol, principalmente pelos jovens das periferias, do campinho de terra, do relevo ladeiroso, de ocupação mista com os animais. Garotos bons de bola, repletos de vigor ou de fome, driblando a pobreza e sonhando um dia substituir Garrincha, o gênio das pernas tortas.
Ao conseguir seu estágio para o pequeno time da cidade – aquele que vai disputar o campeonato estadual na segunda ou primeira divisão – o jovem enche-se de orgulho com o início da carreira de seus anseios. É quando seu time não encontra jeito de cobrir as exigências do campeonato; ou guando perde de todos e se desfaz. Aí o futuro Mané Garrincha baixa a cabeça. Voltam às imagens da enxada, da roça, da panela vazia e da barriga oca das noites que parecem não ter fim.  
Os que decidem as paradas estaduais nem notam que hoje seus não adversários vivem um drama social, humano e íntimo de tantas dores juntas.

E assim vamos caminhando para frente diante das imperfeições encaixadas no mundo velho de meu Deus. Afinal, o trânsito entre riqueza e pobreza tem sempre intensa fumaça no meio. Para os sonhadores, não é fácil escapar pelos árduos caminhos futebol.

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sábado, 5 de novembro de 2016

O OFÍCIO DA ESPINGARDA

O OFÍCIO DA ESPINGARDA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.586

Durante a época cangaceira, algumas expressões acomodaram-se no dicionário sertanejo nordestino.
Uma das primeiras armas de fogo da região foi o bacamarte, notadamente, o boca de sino. Foi ele amplamente usado pelos bandeirantes. Com as bordas do cano enlarguecida o bacamarte facilitava a carregação e disparava chumbo grosso. Os primeiros cangaceiros brigavam com bacamarte boca de sino. Alguns fazendeiros possuíam essa arma poderosa. Matava-se em emboscada com esse objeto e o seu uso deu origem às expressões como: “Cabra ruim só vai no bacamarte!”, por exemplo.
No Semiárido seus habitantes usavam ainda o bodoque com bala arredondada de barro curtido ao sol para caçar passarinhos e aves selvagens. Posteriormente surgiu a peteca que em algumas regiões se chama estilingue ou baladeira. Trata-se de um gancho de pau, duas alças de borracha e um abrigo de couro para o projétil: pedra comum da estrada ou cozida igualmente à primeira.
 Depois chegou a espingarda proveniente das fabriquetas do Ceará ganhando espaço em todo o Sertão. Era um troço mais delicado do que o bacamarte cuja função objetivava substituir o bodoque e a peteca nas caçadas em sítios e fazendas. Foi logo apelidada de “soca tempero”, porque se carregava pela boca. Aqui, acolá, sua função era desviada para o instinto malévolo de matar gente. Assim criaram-se algumas expressões que ainda perduram como a de: “Vou mandar-lhe passar a espingarda!” ou “O ofício do homem é a espingarda!”.
Passar a espingarda é matar, não importando o tipo de arma de fogo, revólver, pistola... Ou outra qualquer.
No cangaço moderno de Lampião, às vezes chegava futuro cangaceiro que nada possuía, além de uma espingarda que logo era substituída por um rifle e posteriormente até pelo fuzil.
Mesmo com tanto tempo, ainda se usa essas expressões relativas ao bacamarte e à espingarda.
Os cangaceiros tinham um medo triste do bacamarte, usado algumas vezes por defensores ou atacantes fazendeiros.
Deu para esquentar?






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