sábado, 13 de maio de 2017

GINÁSIO PRESERVADO



GINÁSIO PRESERVADO
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maior de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.670

Ginásio Santana. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas) extraída do livro "230".
Semana passada estive no antigo Ginásio Santana, numa visita de cortesia. Prédio bem construído com uma arquitetura imponente, esse edifício teve origem entre 1937-38 no governo municipal de Joaquim Ferreira da Silva. Ali foi utilizada muita mão de obra indígena Fulni-ô. A dificuldade para adquirir equipamentos e material humano, fez com que o prédio ficasse ocioso até ser ocupado pelo 20. Batalhão de Polícia que chegou a Santana em 1936. Para combater cangaceiros, a Unidade ficou na Cadeia Velha, até que fez o deslocamento. Eliminado o bandido Lampião, pouco tempo após o ano de 1938, o Batalhão partiu deixando novamente ocioso o prédio.
Governava Santana do Ipanema o coronel Lucena, homem que comandou o Batalhão trazido por ele.  No dia 11.02.1950, foi fundado o Ginásio Santana, escola esta que prestou e presta relevantes serviços a Santana.
Não tendo para onde crescer, pois o espaço limita-se com ruas, praça e o Tênis Clube Santanense (outro casarão histórico), o Ginásio optou pelo crescimento vertical, preservando toda a arquitetura frontal e partes importantes do seu interior. De fato o edifício e de encher os olhos dos passantes. Sua fundação como escola veio da ideia do comerciante João Yoyô Filho (depois juiz) com o vigor do empreendimento através do pré-pároco Fernando Medeiros, o cônego Teófanes de Barros, o padre Bulhões e o coronel Lucena.
Nas proximidades do lançamento do livro “230”, a história contada através dos seus prédios públicos e mesmo particulares; a visita ao Ginásio Santana veio confirmar a necessidade de se preservar. Infelizmente, não se tem verba para a Cultura e quando tem é limitada ou some. A ignorância toma conta em administrações de analfabetos ou letrados, onde a Cultura é carro pequeno rebocado pela caçamba.
Bem defronte ao Ginásio Santana existe uma praça primeiramente chamada Praça da Bandeira. Como a febre de mudanças é grande, outras denominações já deram a esse logradouro. Logo à frente, guardando o espaço, acha-se a igrejinha/monumento de Nossa Senhora Assunção que deu nome ao bairro e foi construída para marcar a passagem do Século XIX para o Século XX. Tênis Clube, Ginásio Santana, igrejinha da Assunção, Escola Padre Francisco Correia, tudo num conjunto só, formam um quarteto histórico de peso em Santana do Ipanema. 


                                                                                              

Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2017/05/ginasio-preservado.html

quinta-feira, 4 de maio de 2017

BUCHO DE ALASTRADO



BUCHO DE ALASTRADO
Clerisvaldo B. Chagas
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.669

ALASTRADO. Foto (divulgação).
Como uma coisa puxa outra, o programa de TV que ontem mostrou os horrores da seca do Nordeste, trouxe lembranças de violência. E foi especificamente em cenas de um cidadão cortando, queimando e triturando alastrado para alimentar seus animais, o foco da questão. O alastrado, assim como o mandacaru, o facheiro, rasga-beiço e Quipapá, são vegetais espinhentos. O alastrado é o mais encorpado de todos e também chama atenção pela sua beleza e verde bonito. Sem alternativa nas secas puxadas o sertanejo apela para as cactáceas com o procedimento acima. Até pessoas são alimentadas com o miolo desses matos em situação de fome extrema.
Na minha terra existe um lugar denominado “Cipó”. Fica na periferia da cidade, saída para Olho d’Água das Flores. Sua estrada de terra paralela ao asfalto, leva até às terras do governo, fazenda “Sementeira”.
Conta o saudoso escritor santanense Oscar Silva, em seu primeiro livro de crônica “Fruta de Palma”, o episódio fatídico acontecido na seca de, provavelmente, 1932.
Alguém tinha ido até à delegacia para se queixar de roubos de bodes. O perverso soldado Zé Contente e certo companheiro foram designados para investigar. Percorrendo a região do Cipó, inclusive o serrote do Gonçalinho, nas imediações, deparou-se com a família de um morador do Cipó. Aquela filharada pequena, toda de barriguinha cheia nessa época de agruras, fez engendrar na cabeça doentia do soldado que as crianças estavam sendo alimentadas com os bodes roubados.
O malévolo recebera o apelido justamente por praticar suas perversidades sempre com os risos durante os seus atos. Assim procurou e encontrou o chefe da família no serrote do Gonçalinho acusando-o de roubo. O homem se defendeu afirmando que alimentava a família com miolo de alastrado e que não era ladrão. Zé Contente, para satisfazer seus instintos inexplicáveis amarrou o cidadão e saiu furando os seus intestinos a punhal. Nada saiu das tripas da vítima torturada até à morte, apenas a confirmação sobre o vegetal de espinhos.
Oscar não diz se o soldado Zé Contente foi punido ou não. Mas, no lugar onde foi morto o sertanejo honesto uma cruz foi fincada tendo resistido até quase os dias atuais. Hoje uma pequena fileira de casas pobres ocupa o lugar da cruz rumo à fazenda Sementeira.
O autor achou por bem colocar o título da crônica de BUCHO DE ALASTRADO.


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2017/05/bucho-de-alastrado.html