terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

NO TEMPO DOS LAMBE-LAMBES


NO TEMPO DOS LAMBE-LAMBES
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.840

LAMBE-LAMBES. FOTO: (JORNAL LANCE).
Como os mais antigos fotógrafos profissionais alcançados por nós, estavam Seu Antônio e Seu Zezinho. Seu Antônio atuava na calçada alta – logo no início da Ponte do Padre. Depois se mudou para a Rua Coronel Lucena, entre os dois becos de acesso à Rua Ministro José Américo. Era magro, barba por fazer, calado e fumante. Seu estabelecimento tinha o nome de “Foto Santo Antônio”. Seu Zezinho trabalhava na Rua Coronel Lucena (defronte a antiga Praça Emílio de Maia) depois migrou para a Rua Benedito Melo (Rua Nova) parte de cima, perto do declive de acesso ao Bairro São Pedro. Morava no próprio lugar de trabalho, era gordinho, branco e ansioso. Ali funcionava o “Foto Fiel”.
A produção de ambos era mais voltada para o social, principalmente para documentos 3x4 e fotos maiores para lembrança. Afora isso, quando convidados registravam eventos como inaugurações, batizados, casórios, formaturas. Dizem que Seu Zezinho tirou várias fotos das cabeças dos cangaceiros mortos em Angicos e apresentadas em praça pública de Santana do Ipanema.
Não havia a percepção de fotografar inúmeras ruas e prédios públicos para engajá-las à História. Não havia percepção nem interesse, além do material fotográfico raro e caro.
Já os fotógrafos denominados lambe-lambes, atuavam na frente da Matriz de Senhora Santa Ana. Como os outros dois, limitavam-se aos 3x4 dos matutos da feira, das suas poses nos altares, de casamentos e batizados. Nada de registrarem em geral para a História, pois eles representavam a própria história presente.
No dia em que chegou um ditador abusado, meteu grades defronte a Matriz, expulsando os tradicionais fotógrafos do povo. Daí em diante, os lambe-lambes ficaram desarvorados. Nem na frente da Igreja e nem mais em lugar algum. A prepotência  havia dado o golpe de misericórdia numa riqueza cultural brilhante, prestativa e indefesa.
Enquanto o Papa anda com flores nas mãos, outros andam com relhos de couro cru. Droga de tanto ódio!
Dizem os espíritas que esses são os que reencarnam na marra.
Os fotógrafos ou retratistas hoje são raros e estão em cidades como Recife e Juazeiro do Norte, misturados aos romeiros e sobrevivendo como podem.                           


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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

ILHAS DE CALOR


ILHAS DE CALOR
Clerisvaldo B. Chagas, 6  de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.839

ILUSTRAÇÃO: (MUDA-MUNDO BLOGSPOT).
As geograficamente denominadas “Ilhas de Calor” são áreas com temperaturas mais elevadas do que as da redondeza. Isso costuma acontecer no centro das grandes cidades, onde há maior concentração de construções, calçadas, asfaltamento e veículos. Vários motivos juntam-se para essa formação como o concreto das edificações, a pavimentação de ruas e avenidas, a inexistência de áreas verdes e a poluição atmosférica que elevam a temperatura fazendo com que o ar torne-se mais quente e seco. Nos grandes centros urbanos predomina o concreto em detrimento a área verde. Mas não somente acontece nos grandes centros, pois as cidades menores também seguem os padrões das maiores com efeitos similares.
As cidades dos sertões nordestinos, antes com o calor amenizado pelo entorno da caatinga, hoje sofre com o desmatamento da antiga proteção. O progresso que vai chegando segue os padrões das metrópoles, mas, raramente a jardinagem urbana é lembrada permitindo as “ilhas de calor” em maiores ou menores proporções. Inúmeras dessas cidades incentivam a arborização, sem orientações técnicas alguma. Em várias delas as árvores são até inadequadas causando transtorno à população.  Outras são abandonadas à própria sorte como se a obrigação das autoridades não passasse de um discurso raro, chocho e cadavérico. O agrônomo, o urbanista, o geógrafo, o geólogo, tornam-se figuras raras no planejamento urbano e, os garis – os mesmos que recolhem o lixo – passam para os importantes ofícios dos especializados.
Além da arborização planejada de ruas e avenidas, ainda temos direito as áreas verdes do entorno da cidade, das praças e dos parques gigantes que são atualmente os amenizadores das tensões diárias da população. E se os climas do mundo estão sofrendo modificações negativas, deveremos cuidar da nossa própria casa que é o lugar onde a gente mora. Ainda como dizia um grande filósofo: “Se todo mundo varresse a porta de casa, o mundo inteiro seria limpo”.
Pois é assim que se formam as “ilhas de calor”, bem como é assim também que deveremos agir para uma melhor qualidade de vida. Sertão: cobre do seu dirigente local.


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