domingo, 14 de abril de 2019

LAMPIÃO, CORISCO E PIRANHAS

LAMPIÃO, CORISCO E PIRANHAS
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.091

Euclides Malta (centro chapéu branco). Foto: 2017. Ticianeli/Personalidades.

Até mais ou menos 1936, em Alagoas, Mata Grande (região serrana) era evidência no mundo sertanejo. Essa evidência vinha desde antes do início do século com a família Malta no poder estadual. Piranhas, às margens do rio São Francisco, também se destacava pela estrada de ferro Piranhas, AL – Jatobá, PE, construída entre 1881 e 1883. Praticamente Santana do Ipanema era isolada de Piranhas, cujo trajeto teria que ser feito através de Mata Grande. Nos últimos dois anos antes da hecatombe de Angicos, Lampião fixou-se em uma faixa do São Francisco entre Alagoas e Sergipe onde passou de nômade a sedentário.

O grosso do bando de Virgulino servia de guarda-chuva para Corisco que gostava de atuar independente com um grupo pequeno e que nas horas de precisão, juntava-se ao chefe geral.
Apesar do ataque a Piranhas comandado por Corisco e rechaçado pela bravura da população, tempos atrás, quando morrera o cangaceiro Gato, o bando continuava na região. Mesmo após a chegada do Batalhão em Santana do Ipanema, sede de todas as volantes, em 1936, a caterva continuava entre Alagoas e Sergipe. A região de Piranhas passou a ser muito perigosa pelos seguintes motivos: 1. A permanência prolongadíssima de Lampião no trecho entre os dois estados. 2. A truculência natural das forças, notadamente das volantes de João Bezerra e Aniceto. 3. O apoio coiteiro político sergipano e alagoano. 4. O liame Bezerra/Lampião entre jogatinas e buchadas. 5. As incursões de subgrupos pela região sanfranciscana, serrana e planuras até a fronteira com Pernambuco.
Vez em quando Lampião levantava acampamento e partia para lugares onde fizera estágio com os Porcino e habitara em sua fase inicial entre o trabalho e as estripulias. Retornava depois às malocas marginais do “Velho Chico”. Tinha uma confiança cega em Pedro de Cândido e jogava pesado na espionagem e nos comandantes venais das forças.
Somente depois dos apertos de cima e da determinação inflexível de Lucena, o mundo acabou-se para o bandido. 60 dias para o governador dá conta de Virgulino. 30 dias para Lucena Maranhão acabar com o banditismo. Lucena: “quero a cabeça de Lampião em 15 dias”.
Sejam entregues as cabeças... Cumpram-se.
  

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sexta-feira, 12 de abril de 2019

EU, PITÚ E TU?



EU, PITÚ E TU?
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.090

(FOTO: III CARNAVAL DE ZÉ PILUCA).
PAU-DE-SEBO. (Jarbas Rocha).
Houve época em que um carro de som, estilizado, bonito e potente desfilava pelas cidades do Sertão e Agreste de Alagoas. Era a propaganda da aguardente pernambucana de marca Pitú. Participava de inúmeras festas regionais apoiando os eventos e divulgando o produto de Vitória de Santo Antão. Além das gravações trazidas no seu bojo, havia o apresentador com o vozeirão que combinava com aquele monumento móvel. E para animar movimentos como vaquejadas sertanejas, nada havia de melhor do que a presença viva da marca da aguardente pelo famigerado carro. Perguntava-se após elogios à cachaça: “Eu, Pitú e tu?”. A combinação da rima, certa ou errada no português, fazia um bom efeito nos ouvintes sedentos por uma “branquinha”.
as rochaHavia outras marcas de cachaça no mercado regional como a Serra Branca, forte concorrente da Pitú, e a Azuladinha das Alagoas, como as mais salientes no período. Mas com o carro de som perambulando mesmo, só havia a da marca Pitú. Pois bem, dizem que lá nas Águas Belas estava havendo uma brincadeira de vaquejada com animação do carro de som. Verdadeira multidão se divertindo na chamada “festa de cabra macho”. O carro da aguardente de Vitória fazia muito sucesso e o apresentador sempre entremeava a fala com a frase: “Eu, Pitú, e tu?”. Em um desses intervalos, foi passando por ali um caboclo de opinião própria, logo abordado, pelo locutor entusiasmado:
--- Eu, Pitú, e tu?
--- Eu, Serra Grande!... --- respondeu no som potente o caboclo.
Foi um desastre na locução.

Muitas vezes a nossa existência faz comparativos com a malícia das manobras. Vez em quando alguém que se acha poderoso no rádio, na literatura, nas organizações... Tenta nos quebrar a espinha dorsal. Não raras vezes o efeito bumerangue danifica seriamente o desavisado atirador. Uma espinha dorsal com revestimento divino fortifica-se cada vez mais com as ações nefastas dos medíocres. Alíás, o coitado não se cansa de tentar subir no pau-de-sebo com areia no bolso.
 --- Eu Pitú, e tu?
--- Serra Grande.

·         As marcas de aguardente citadas são apenas para ilustrar a “fábula”, merecendo de nós admiração e respeito.




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