segunda-feira, 15 de abril de 2019

AS LAPADAS DO CAMALEÃO

AS LAPADAS DO CAMALEÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.092
 
MACACO-PREGO (REPRODUÇÃO).
Entre os anos 60 e 70, havia bom número de engraxates na praça da Matriz, em Santana do Ipanema, profissionais hoje em extinção. Uma algarobeira foi plantada no centro da praça, cresceu bastante e dava proteção aos engraxates. Primeiro surgiu, não se sabe como, um macaco-prego que passou a fazer morada no pé de algaroba. Chamava atenção de todos os passantes, crianças, velhos e adultos. Os engraxates passaram a alimentá-lo, com ajuda do comércio local. Mas o macaco-prego logo desapareceu tão misteriosamente quanto chegara. Tomando o lugar do símio, surgiu também do nada, um camaleão que, apesar de não fazer macaquices, tornou-se a atração da Praça Cel. Manoel Rodrigues da Rocha.
Ora, assistindo a um vídeo no Face, vimos que um camaleão havia mordido um dos dois homens que o capturaram. Um terceiro cidadão, nativo e experiente, mandava que o homem mordido, tomasse um melhoral, dissolvesse outro e passasse no local da mordida, caso contrário seria fatal. “Esse bicho é venenoso, briga e vence a cobra. Nem quero negócio com ele. Corra e vá para a cidade comprar o melhoral”. Camaleão são répteis da família chamaeleonidae e incluem cerca de 195 espécies. Elas estão na África, Ásia, sul da Europa, Brasil, Espanha e Portugal. O que nos surpreendeu foi a experiência do nativo e o perigo que para nós, o pacato camaleão representava. Além da mordida do bicho, um dos cidadãos estava repleto de lapadas levadas da cauda longa do animal.
Sabíamos das brigas que o teíu, tejo, tiú, tem com as cobras venenosas. O tiú sempre vence e, quando é mordido, corre para mato e morde um tipo de batata, antídoto, e volta à batalha com a serpente. Mas, como dizia os mais velhos, “é morrendo e aprendendo”. Por fim, “melhor não mexer no que está quieto”, diz o velho ditado.
Em Santana do Ipanema, o camaleão também anoiteceu e não amanheceu igualzinho ao macaco-prego. Se precisasse havia várias farmácias perto como a Vera Cruz, para vender melhoral, mas cadê o nativo para receitar?
Na ignorância, compadre, “teje” quieto!


                                                                                                                                         


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domingo, 14 de abril de 2019

LAMPIÃO, CORISCO E PIRANHAS

LAMPIÃO, CORISCO E PIRANHAS
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.091

Euclides Malta (centro chapéu branco). Foto: 2017. Ticianeli/Personalidades.

Até mais ou menos 1936, em Alagoas, Mata Grande (região serrana) era evidência no mundo sertanejo. Essa evidência vinha desde antes do início do século com a família Malta no poder estadual. Piranhas, às margens do rio São Francisco, também se destacava pela estrada de ferro Piranhas, AL – Jatobá, PE, construída entre 1881 e 1883. Praticamente Santana do Ipanema era isolada de Piranhas, cujo trajeto teria que ser feito através de Mata Grande. Nos últimos dois anos antes da hecatombe de Angicos, Lampião fixou-se em uma faixa do São Francisco entre Alagoas e Sergipe onde passou de nômade a sedentário.

O grosso do bando de Virgulino servia de guarda-chuva para Corisco que gostava de atuar independente com um grupo pequeno e que nas horas de precisão, juntava-se ao chefe geral.
Apesar do ataque a Piranhas comandado por Corisco e rechaçado pela bravura da população, tempos atrás, quando morrera o cangaceiro Gato, o bando continuava na região. Mesmo após a chegada do Batalhão em Santana do Ipanema, sede de todas as volantes, em 1936, a caterva continuava entre Alagoas e Sergipe. A região de Piranhas passou a ser muito perigosa pelos seguintes motivos: 1. A permanência prolongadíssima de Lampião no trecho entre os dois estados. 2. A truculência natural das forças, notadamente das volantes de João Bezerra e Aniceto. 3. O apoio coiteiro político sergipano e alagoano. 4. O liame Bezerra/Lampião entre jogatinas e buchadas. 5. As incursões de subgrupos pela região sanfranciscana, serrana e planuras até a fronteira com Pernambuco.
Vez em quando Lampião levantava acampamento e partia para lugares onde fizera estágio com os Porcino e habitara em sua fase inicial entre o trabalho e as estripulias. Retornava depois às malocas marginais do “Velho Chico”. Tinha uma confiança cega em Pedro de Cândido e jogava pesado na espionagem e nos comandantes venais das forças.
Somente depois dos apertos de cima e da determinação inflexível de Lucena, o mundo acabou-se para o bandido. 60 dias para o governador dá conta de Virgulino. 30 dias para Lucena Maranhão acabar com o banditismo. Lucena: “quero a cabeça de Lampião em 15 dias”.
Sejam entregues as cabeças... Cumpram-se.
  

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