domingo, 26 de maio de 2019

RECADASTRAMENTO


RECADASTRAMENTO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.115
PRAIA AVENIDA DA PAZ. (FOTO: BRUNO TENÓRIO).
Sem ter como fugir à convocação do governo estadual, lá se vão os matutos para Maceió. Um caminho que parece mais fácil é recadastrar o servidor no seu próprio município ou região, evitando despesas com alimentação e passagens. Mas o chamamento dos aposentados é para a capital e pronto. Não se recadastrou, cabra velho, não recebe o quinto do que você merece. O melhor mesmo é juntar os panos e partir, pois, segundo o sertanejo, “o pouco com Deus é muito”.  Estamos no meio das levas que irão até a Avenida da Paz para a prova do “ainda estou vivo”. Sangue geográfico, vamos observando a vegetação, o tempo, olhos grudados nas serras que ornamentam este maravilhoso solo alagoano.
E ali perto das Lojas Americanas, aproveitamos para lançar um olhar comprido para o oceano.  O dever chama e vamos penetrando na estrutura de vidro onde um enxame de gente procura a salvação. Verdade seja dita, um atendimento raro jamais visto por essas bandas. Recepção imediata para quem chega rápida triagem de documentos, guia para levar a uma sala, guia para levar a segunda sala, eficiência nos guichês e, num piscar de olhos você está recadastrado. Papelada em dia, você se afasta pensando em aproveitar o tempo restante na capita. Da nossa parte vamos até o IPASEAL acertar pepinos até que o meio-dia futuca a fome guardada.
Procuramos o Restaurante Marhiá, ali pertinho, casa típica com traçados regionais nas paredes e peças artesanais ornando até as mesas com objetos de barro e tábuas de carne. Ambiente nota dez (recomendo) e organização tão eficiente quanto fora a do recadastramento. O Sol vai pendendo para o poente e vamos aproveitando o comércio para os últimos retoques do dia, perto do “açude do governo”, o mar.
Final de tarde de um dia profícuo e cansativo quando um copo d’água, um banho reparador e um cochilo prolongado fazem toda a diferença.
Diz o velho Sertão de guerra: “Rapadura é doce, mas não é mole, não”.




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quarta-feira, 22 de maio de 2019

RECORDANDO E HISTORIANNDO


RECORDANDO E HISTORIANDO
Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.114

ESPAÇO CÔNEGO BULHÕES. (FOTO: B. CHAGAS).
Na Rua Antônio Tavares – antiga Cleto Campelo – passava de tudo. Antigo trecho que fazia parte da estrada construída por Delmiro Gouveia, a rua era bastante movimentada. Lembro-me ainda de duas coisas importantes gravadas no cérebro da criança. O recolhimento de cinzas dos fogões à lenha ou carvão, das residências e, seu transporte para o leste. A cinza era recolhida nas casas, em sacos, e transportada em lombo de jegue para os curtumes da periferia, Maniçoba e Bebedouro. Esses curtumes alimentavam de sola e couros as fabriquetas de calçados de Santana, com a de Elias (Bairro São Pedro), Evilásio (Comércio), Pimpim (Comércio) e outras, além da exportação para Garanhuns.
Tempos depois, os curtumes migraram para o município de Senador Rui Palmeira.
      Fazendo trajeto oposto ao das cinzas, passavam as sextas, homens e mulheres carregando à cabeça, feixes de folhas de catingueira. Soube depois que as folhas iriam forrar o chão bruto na matança de bovinos. As reses eram abatidas a machado ali mesmo no chão bruto e imundo no local chamado mesmo de Matança. O terreno, antes, pertencera ao Cônego Bulhões e tinha ao fundo cerca de três coqueiros altos e esqueléticos que ilustravam tristemente a paisagem. Lembro-me que o artista plástico Roberval Ribeiro havia pintado aquele cenário, sem a matança, cujo quadro foi vendido ao senhor Benedito Pacífico. Roberval não gostava do quadro porque a tinta embolara. Pedi para que não o vendesse que seria um quadro histórico dentro de poucos anos. Acertei no palpite e a paisagem não mais existe. O senhor Benedito Pacífico, comerciante, é falecido e nem sei se o quadro ainda se encontra com a família. Seria peça fundamental para o Museu Darras Noya.
O lugar, antes chamado Matança, virou baixo meretrício e atualmente é denominado Artur Morais (o único dono de gandaia do Brasil homenageado com nome de Bairro). Ali nas suas imediações, foi construído, recentemente, o Espaço Cônego Bulhões que será ampliado, segundo o prefeito da cidade. Vê-se desse espaço os fundos de quintais da Rua Tertuliano Nepomuceno, antes, capoeira onde se matava bodes e cabritos em dia de feira. Os animais eram mortos com porretes e dependurados numa forquilha. Rrss...
A história mistura o bom e o péssimo, arre!

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