quarta-feira, 22 de maio de 2019

RECORDANDO E HISTORIANNDO


RECORDANDO E HISTORIANDO
Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.114

ESPAÇO CÔNEGO BULHÕES. (FOTO: B. CHAGAS).
Na Rua Antônio Tavares – antiga Cleto Campelo – passava de tudo. Antigo trecho que fazia parte da estrada construída por Delmiro Gouveia, a rua era bastante movimentada. Lembro-me ainda de duas coisas importantes gravadas no cérebro da criança. O recolhimento de cinzas dos fogões à lenha ou carvão, das residências e, seu transporte para o leste. A cinza era recolhida nas casas, em sacos, e transportada em lombo de jegue para os curtumes da periferia, Maniçoba e Bebedouro. Esses curtumes alimentavam de sola e couros as fabriquetas de calçados de Santana, com a de Elias (Bairro São Pedro), Evilásio (Comércio), Pimpim (Comércio) e outras, além da exportação para Garanhuns.
Tempos depois, os curtumes migraram para o município de Senador Rui Palmeira.
      Fazendo trajeto oposto ao das cinzas, passavam as sextas, homens e mulheres carregando à cabeça, feixes de folhas de catingueira. Soube depois que as folhas iriam forrar o chão bruto na matança de bovinos. As reses eram abatidas a machado ali mesmo no chão bruto e imundo no local chamado mesmo de Matança. O terreno, antes, pertencera ao Cônego Bulhões e tinha ao fundo cerca de três coqueiros altos e esqueléticos que ilustravam tristemente a paisagem. Lembro-me que o artista plástico Roberval Ribeiro havia pintado aquele cenário, sem a matança, cujo quadro foi vendido ao senhor Benedito Pacífico. Roberval não gostava do quadro porque a tinta embolara. Pedi para que não o vendesse que seria um quadro histórico dentro de poucos anos. Acertei no palpite e a paisagem não mais existe. O senhor Benedito Pacífico, comerciante, é falecido e nem sei se o quadro ainda se encontra com a família. Seria peça fundamental para o Museu Darras Noya.
O lugar, antes chamado Matança, virou baixo meretrício e atualmente é denominado Artur Morais (o único dono de gandaia do Brasil homenageado com nome de Bairro). Ali nas suas imediações, foi construído, recentemente, o Espaço Cônego Bulhões que será ampliado, segundo o prefeito da cidade. Vê-se desse espaço os fundos de quintais da Rua Tertuliano Nepomuceno, antes, capoeira onde se matava bodes e cabritos em dia de feira. Os animais eram mortos com porretes e dependurados numa forquilha. Rrss...
A história mistura o bom e o péssimo, arre!

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