RECORDANDO E HISTORIANDO
Clerisvaldo
B. Chagas, 22/23 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.114
ESPAÇO CÔNEGO BULHÕES. (FOTO: B. CHAGAS). |
Na Rua Antônio
Tavares – antiga Cleto Campelo – passava de tudo. Antigo trecho que fazia parte
da estrada construída por Delmiro Gouveia, a rua era bastante movimentada.
Lembro-me ainda de duas coisas importantes gravadas no cérebro da criança. O
recolhimento de cinzas dos fogões à lenha ou carvão, das residências e, seu
transporte para o leste. A cinza era recolhida nas casas, em sacos, e
transportada em lombo de jegue para os curtumes da periferia, Maniçoba e
Bebedouro. Esses curtumes alimentavam de sola e couros as fabriquetas de calçados
de Santana, com a de Elias (Bairro São Pedro), Evilásio (Comércio), Pimpim
(Comércio) e outras, além da exportação para Garanhuns.
Tempos depois, os
curtumes migraram para o município de Senador Rui Palmeira.
Fazendo trajeto oposto ao das cinzas, passavam as sextas, homens e
mulheres carregando à cabeça, feixes de folhas de catingueira. Soube depois que
as folhas iriam forrar o chão bruto na matança de bovinos. As reses eram
abatidas a machado ali mesmo no chão bruto e imundo no local chamado mesmo de
Matança. O terreno, antes, pertencera ao Cônego Bulhões e tinha ao fundo cerca
de três coqueiros altos e esqueléticos que ilustravam tristemente a paisagem.
Lembro-me que o artista plástico Roberval Ribeiro havia pintado aquele cenário,
sem a matança, cujo quadro foi vendido ao senhor Benedito Pacífico. Roberval
não gostava do quadro porque a tinta embolara. Pedi para que não o vendesse que
seria um quadro histórico dentro de poucos anos. Acertei no palpite e a
paisagem não mais existe. O senhor Benedito Pacífico, comerciante, é falecido e
nem sei se o quadro ainda se encontra com a família. Seria peça fundamental
para o Museu Darras Noya.
O lugar, antes
chamado Matança, virou baixo meretrício e atualmente é denominado Artur Morais
(o único dono de gandaia do Brasil homenageado com nome de Bairro). Ali nas
suas imediações, foi construído, recentemente, o Espaço Cônego Bulhões que será
ampliado, segundo o prefeito da cidade. Vê-se desse espaço os fundos de
quintais da Rua Tertuliano Nepomuceno, antes, capoeira onde se matava bodes e
cabritos em dia de feira. Os animais eram mortos com porretes e dependurados
numa forquilha. Rrss...
A história mistura o
bom e o péssimo, arre!
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