domingo, 25 de agosto de 2019

QUILOMBOLAS



QUILOMBOLAS
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.169

FOTO: (deolhonosruralistas.com.br).
Naturalmente o amigo, a amiga, já conhece a palavra quilombola. Mas, para quem não sabe, é bom lembrar que os quilombolas, eram negros escravos fugidos dos engenhos de cana-de-açúcar, das fazendas, dos garimpos que se refugiavam em grupos, nas matas. A palavra tem origem no tupi-guarani Cañybó e significa: “aquele que foge muito”. Existem mais de quinze mil comunidades quilombolas no Brasil. Interessante, porém, é que essa palavra é usada na burocracia, na papelada pelo reconhecimento, nas organizações, mas popularmente é nula ou tem pouco uso. Hoje são os remanescentes dos quilombolas que moram no campo, nos sítios ou mesmo em lugares que se tornaram povoados.
Em Alagoas, terra de Zumbi dos Palmares, eles estão espalhados por todo o território. São organizados pela Fundação Palmares e que agora estão entrando no Programa de Cisternas. Cidades do Sertão e Agreste onde existem as comunidades quilombolas serão contempladas com cisternas de placas com capacidade para 16 mil litros cada. Trata-se de um programa exclusivo para essas comunidades, para água de consumo e produção de alimentos. Segundo divulgação, 35 cidades serão contempladas com um todo de 219 mil cisternas. Os órgãos envolvidos são Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH); Ministério da Cidadania (MC); Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura de Alagoas (Seagri).
A divulgação nos permite aplaudir mais essa conquista dos descendentes quilombolas e sua central de organização. Palmeira dos Índios, Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado, Estrela de Alagoas, Traipu, Craíbas e Taquarana, estão entre as 35 anunciadas. Em geral, os quilombolas de Alagoas dedicam-se à Agricultura e à Pecuária em pequenas propriedades, produzindo alimentos para eles e para nós.
A luta diária numa comunidade de descendentes, não é fácil, mas como a “união faz a força”, as lutas organizadas pelos direitos vão se materializando, nem que sejam de grão em grão.
Nada foi em vão, ZUMBI!
FOTO: (deolhonosruralistas.com.br).



  

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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

LAMPIÃO NO RIACHO GRANDE


LAMPIÃO NO RIACHO GRANDE
Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.168

Martiniano Cavalcante Wanderley, boiadeiro em Riacho Grande (atual Senador Rui Palmeira, AL) recebeu uma carta de Lampião pedindo três contos de réis. Recusou enviar. Partiu para Santana do Ipanema onde comunicou o fato ao, então, major Lucena. O major sugeriu comprar armas e balas para enfrentar o bandido. Martiniano nem fez uma coisa nem outra. Certa feita, em Viçosa, contando o caso para amigos, foi aconselhado pelo coronel Eduardo Maia que enviasse o dinheiro pedido e ficasse calado “pois Lampião era filho da besta–fera”. O boiadeiro não seguiu o conselho.
Aproveitando o bom inverno, Lampião chegou de repente à casa do vaqueiro Leandro Xixiu, com mais de setenta homens.   Pediu comida e, depois de comerem, era para o vaqueiro mostrar no Riacho Grande onde ficava a casa de Martiniano Cavalcante Wanderley e seu sogro José Wanderley. Escalado para buscar água num barreiro, Xixiu terminou fugindo e foi avisar os Wanderley no povoado Riacho Grande. Os avisados caíram fora com a família. Lampião chegou à casa dos Wanderley, encontrando apenas o vaqueiro Pedro Breba que servia de boi de piranha. Depois de o bando se fartar com tanta comida deixada, Lampião ainda deu uns safanões em Pedro Breba pelas suas mentiras. Depois mandou tocar fogo nas casas dos Wanderley e na tapera de Pedro Breba, que revoltado chamou Lampião de “fio de uma égua”. O bandido, sacando a parabélum matou o fiel vaqueiro.
Os Wanderley passaram a morar em Santana do Ipanema, porém, Martiniano continuou atravessando os sertões comprando garrotes e levando para a zona da Mata. Recebendo um alerta de coiteiro amigo que quase era pego ao comprar uma boiada na fazenda de Antônio Caixeiro, Sergipe, dessa vez resolveu aceitar. Mudou-se para Palmeira dos Índios onde permaneceu e ainda mais progrediu. Martiniano viveu mais de oitenta anos. Não se sabe o que ele fez pela família do vaqueiro Pedro Breba. Mas, como era muito “mão de vaca”, a única coisa que fez pelo vaqueiro Leandro Xixiu, que lhe salvou a vida, foi riscar um resto de dívida com juros, calculada em que cinco contos que o vaqueiro não conseguia pagar.
CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Grafmarques, Maceió, 2012. Págs. 143-144.



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