terça-feira, 5 de novembro de 2019

VOLTANDO À ESCRAVIDÃO


VOLTANDO À ESCRAVIDÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.209



SERRA DA BARRIGA. (FOTO: vidasemparedes.com).
 Acontecerá nas Alagoas farta programação relativa ao Dia da Consciência Negra, 19 de novembro. Turistas do Brasil e do mundo estarão subindo a serra da Barriga – patrimônio cultural do MERCOSUL – em União dos Palmares, entrando direto na história da escravidão negra e de seu bravo líder Zumbi. Participarão no cimo da serra de solenidades no espaço do Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Mas os festejos culturais, sociais e históricos, terão início antes, na Praça Multieventos, no Bairro Pajuçara, em Maceió, dia 14 com prolongamento até o dia 17. E mesmo após a serra da Barriga, dia 19, haverá atividade em Maceió, dia 20 e 22. “Quilombo de Cinema Negro” no Centro Cultural Arte Pajuçara.
A programação completa do evento já foi divulgada. Para o município de União dos Palmares é o seu grande resgate histórico e reconhecimento das lutas renhidas dos irmãos africanos pela liberdade. Deverá como sempre, receber de todo o estado, caravanas e mais caravanas de estudantes e seus professores, interessados também em conhecer a Zona da Mata e a famigerada montanha da resistência preta. Abre-se grande leque de trabalho escolar à escolha, dentro dos inúmeros episódios entre rios, montes, colinas e canaviais. Muitos livros podem preparar antes o espírito aventureiro dos que aspiram ao saber. As boas rodovias do estado tornam União dos Palmares, epicentro dos festejos, relativamente perto do ponto de partida.
Sempre planejada em pensamento, essa viagem a Terra de Zumbi, nunca deu certo para engajar em nossas incursões com alunos. Logo apareciam fatos novos que impediam esse desejo que perdura. Creio que o sertão santanense e seus matizes far-se-ão presentes na serra da Barriga. Isso tudo nos faz lembrar o robusto romance “O Tigre dos Palmares”, do saudoso autor palmeirense Adalberon Cavalcanti Lins, referindo-se à bravura de Zumbi.
E como quem não conhece a história do torrão em que nasceu fica um pouco desnorteado, O Dia da Consciência Negra já é um bom início para se achar.
Zumbi, viva Zumbi!
 

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domingo, 3 de novembro de 2019

AS BARBAS DE OURO DO CAMARÃO


AS BARBAS DE OURO DO CAMARÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.208

ORIGINAL BAR DAS OSTRAS. (FOTO: historiadealagoas.com).
Diante de um prato bem ornado de camarão, não me custou relembrar em segundos, fatos relativos ao saboroso crustáceo. No trecho Pão de Açúcar – Piranhas, um pescador, foguinho acesso perto da canoa, dizia: “esse povo da cidade não sabe comer camarão. É tanto mistura que coloca que perde o gosto verdadeiro. Para sentir o sabor especial do camarão, basta torrá-lo na hora com, no máximo, uma pitada de sal e pronto”. Já em Belo Monte, estava misturado pelos pescadores, camarão, pitu e peixe num escabeche só. Como não estava analisando nem café e nem vinho, para que discutir com pescador? E se o camarão é sozinho ou acompanhado deixe a coisa para quem sabe fazer e limite-se à degustação do oferecimento.
Numa outra oportunidade tive a honra de ser convidado pelo saudoso mestre, Alberto Nepomuceno Agra, para comer camarão no Bar das Ostras. Fiquei surpreso, pois pensava que o lugar não mais existia. Tradição, referência gastronômica de Alagoas, o Bar das Ostras foi ponto de encontro da elite política e intelectual do estado durante o longo período entre 1950 e 2002. “O Bar de propriedade de Dona Oscarlina e Seu Pedro (pescador da lagoa Mundaú e comerciante de peixes e crustáceos no bairro da Levada), mudou de endereço três vezes, tendo fechado as portas de sua última sede no bairro de Jatiúca em 2002. Ao longo desses anos a fama da receita se expandiu, o sabor conservou-se inalterado e a receita se manteve em segredo”.
O local era muito sofisticado e ficava em uma rua próxima ao Estádio Rei Pelé. Mas o camarão seguia todo aquele ritual de  ingredientes, talvez desnecessário, corrigidos pelo pescador do rio São Francisco. Dessa forma fui encontrá-lo em um restaurante do Trapiche da Barra, bairro das rendeiras de Maceió. Camarão puro e no palito, compadre, uma verdadeira delícia que confirmava a primeira teoria.
O Brasil produz artificialmente o camarão em cerca de 50%. São absurdos de toneladas do bicho, mas infelizmente o preço do produto continua restrito a imperadores e imperatrizes como as sortudas baleias dos nossos mares. Não importa se eles são de água doce ou salgada, tipo e tamanho. Em todos os lugares visitados é servido, um para comer, os outros para cheirar.
Mas que o peste é gostoso é.

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