segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

VAI ENCARAR APIRANHA, CAMPEÃO?


VAI ENCARAR A PIRANHA, CAMPEÃO?
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.248

PÃO DE AÇÚCAR. (FOTO: PREFEITURA/DIVULGAÇÃO).
Em Santana do Ipanema, Sertão de Alagoas, para se encontrar lazer aos domingos, dói nos dentes. Para quebrar a rotina dos tempos de verão, turminhas são formadas e partem para o banho no rio São Francisco. Os lugares mais procurados são as cidades de Pão de Açúcar e Piranhas com, aproximadamente, uma hora de distância. Devido ao calor intenso e a falta de abrigo do Sol, os santanenses descobriram um lugarzinho mais aprazível com algumas árvores e um pouco de verde. Esse local passou a ser chamado “Lá no pé do morro”, afastado do centro. Ali a turminha já sabe: almoço trazido de casa, tira-gosto e muita bebida que é a cereja do preparo. O restante é mergulhar, beber, disputar às sombras, gargalhar e conversar miolo de pote.
De vez em quando chegava um aviso aos entusiasmados: “No pé do morro tem piranhas, Zé”. Bicho feroz que não pode ver sangue, a dentuça e suas companheiras devoram um boi dentro de poucos minutos, quanto mais um cristão. Mas, muitas vezes a cachaça superava a cautela. Nem todo domingo, porém, era dia de piranha. Banhista ficava na vantagem e retornava a casa levando apenas a ressaca de Sol e o bafo da ‘branquinha”. As mulheres,  geralmente mais cuidadosas, evitavam o banho direto no Velho Chico. Por outro lado, nunca vi ninguém fazendo caldo de piranha, mesmo se dizendo que o peixe é afrodisíaco.
O que imaginar, contudo, sobre uma piranha de metro e meio, quarenta e cinco quilos e trinta e dois dentinhos afiados sem cárie nenhuma! Pois essa tal piranha foi encontrada pelo pescador Jeremy Wade, mas não foi no pé do morro de Pão de Açúcar. Foi longe, compadre, nas águas do rio Congo. Mas quem se assustou com a divulgação e fotos comprovantes, a danada na verdade não era uma piranha e sim, uma espécie semelhante chamada de “peixe-tigre Golias” (Hidrocynus goliath). O peixe do Congo é considerado um dos mais ferozes do mundo e não enjeita parada, comadre.
Diante do que foi publicado para o mundo, acho que é bem melhor mesmo enfrentar o pé do morro de Pão de Açúcar... Dependendo da cachaça... Claro.

                                                                              

                                        

 



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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

OS EDIFÍCIOS


OS EDIFÍCIOS
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de janeiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.246
EDIFÍCIO PALMARES. (Foto:cadaminuto.com.br).

As edificações parecem com os humanos. Criam raízes, amor e simpatia, servindo muitas vezes sem reconhecimento. Um dia, ah!... Um dia elas partem também com seus variados modos de adeus. Quando adoecem causam muita tristeza aos que têm sensibilidade. E na hora da partida, muitas vezes deixam lágrimas e saudades como nós. Nada mais feio de que uma edificação que tanto serviu e aguarda apenas a morte anunciada, montada no seu próprio esqueleto. Esqueleto humano ou quase, sem nervos, sem vísceras, sem carne. Certo dia se aproxima um bicho feio e metálico de forças mil e, golpes após golpes, põe fim ao que restava da velha companheira. As reações da vizinhança são enormes, mas ninguém vivo poderá resistir à morte.
Em Maceió, capital das Alagoas, aguarda-se o fim do edifício Palmares, na praça de igual nome. Centro Comercial da cidade, lugar de muito prestígio, já iniciou o choro com anúncio de fim de questão. Vai ser demolido após 50 anos de decisão da Justiça. “O imóvel que foi desocupado há oito anos foi depredado e é considerado um risco para a população de Maceió. Será demolido após decisão da justiça”. É assim que diz o jornal Cadaminuto em edição de 14 de janeiro de 2020. Após a fase de defesa não cabe mais recurso e vem a de execução. Aguarda-se, portanto data e hora da marreta. O local já foi sede de diversos órgãos federas e hoje está com o INSS.
Outras edificações tombam pelo abandono. Esta, pela ordem durona da Justiça. Quem na capital nunca entrou no edifício Palmares para resolver problemas pessoais? Agora os ambulantes da praça e periferia, parecem maiores de que várias construções de peso na tradição maceioense. O povo aguarda o dia martelado do abate.
Você vai?
Haja coração de carne e tijolo.
Estarei longe, Zé.








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