quinta-feira, 8 de outubro de 2020

 

VOU LHE LEVAR PARA A INTENDÊNCIA

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.396


FOTO (C4 notícias.com.br)

Foi noticiado mais um acidente no Sertão em que uma pessoa perdeu a vida ao bater num cavalo. Cidadão conhecido em Olivença não resistiu ao colidir com sua moto em animal na pista. Esse tipo de acidente não é raro em nossas rodovias. É uma coisa tão comum que virou negócio sem importância a vigilância rígida nas estradas e o recolhimento desses causadores de acidentes. Quem viaja, principalmente à noite, está sujeito às colisões fatais.  Causam mortes nas estradas com mais frequência: jumentos abandonados, cavalos e vacas. São as batidas frontais, cujos vultos só são percebidos já em cima. Esses animais se confundem com a noite, sendo os bichos mais escuros quase invisíveis aos faróis. Já o cachorro, mata mais pelo desvio do veículo com as capotagens que terminam às margens das vias.

Lembramos que na era de 60, havia verdadeira busca pelos animais que perambulavam sem condutores pelas estradas e pela Zona Urbana. Em Santana do Ipanema, pelo hábito do tempo dos intendentes, ainda se conduziam esses animais para a “Intendência”. O termo desvirtuava completamente o que fora denominado Intendência, uma coisa muito remota para a juventude dos anos 60. Qualquer animal solto, de porte, podia ser levado para a intendência que não era o gabinete do intendente, sombra do passado. Nesse período, a intendência era popularmente, apenas um curral cercado de arame onde o animal apreendido ficava preso até o aparecimento do dono que pagava multa para ter o bicho de volta. Lembramos ainda que o senhor Duda Bagnani, figura folclórica da cidade, parecia ter um prazer enorme em descobrir e conduzir os animais para a prisão provisória.

 A famigerada intendência, ficava no lugar vizinho à chamada Matança onde é hoje é piso do Bairro Artur Morais. Até motivo de chacota foi o lugar quando se dizia como brincadeira: “Vou lhe levar para a intendência”. Os caçadores de animais vadios não eram apreciados pelo povo. “Hem, hem, os bichinhos!”, diziam muitas senhoras com pena. Quanto aos donos dos animais capturados, reagiam desde à submissão à multa, aos argumentos recusados, ao ódio, discussão e ameaças a esses funcionários públicos “desalmados”.

Mesmo assim, a “intendência” de Santana do Ipanema, foi uma grande precursora na prevenção de acidentes nas estradas e no paisagismo urbano mais civilizado.

 

 


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terça-feira, 6 de outubro de 2020

 

IMPRENSE, ZÉ

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.395


                                     O PERNA DE PAU (FOTO: TREKEARTH

Com o mundo dos circos em alta e pouquíssimas diversões na cidade, a chegada de um deles agitava toda uma população, Em Santana do Ipanema, o circo era armado onde hoje estar implantado o Mercado de Cereais, no Bairro Monumento. Posteriormente os circos ficavam armados por trás da Delegacia de Polícia no lugar Aterro. Havia no local uma árvore centenária com uma casa ao lado de uma senhora branca, alta, cara enrugada, irritadíssima e “boca porca” chamada Mirindão. Apesar dos nossos apelos literários e ecológicos, o então, prefeito Paulo Ferreira amolou o machado na árvore de Mirindão. Os circos, geralmente distribuíam brindes (ingressos) com autoridades e gente de influência. Logo cedo, o palhaço perna de pau estava nas ruas acompanhado pela criançada com tinta preta nos braços como senhas para o espetáculo noturno. E quando não era o perna de pau, era o palhaço montado num jegue, virado para trás e megafone à mão.

“Peguei na aba do meu chapéu...” E a meninada respondia atrás: “Mulher buchada não vai pra o céu...”

O circo era grande espaço cultural. Além do espetáculo propriamente dito, apresentava ainda a segunda parte denominada: drama. Peça teatral muito bem encenada que chegava até arrancar lágrimas de muita gente. Alguns adolescentes sem dinheiro costumavam “maiá”, na linguagem deles, significava burlar a vigilância, passa sem ser notados pelas cerca de arame e entrar por baixo da lona, saindo em baixo do poleiro. Vez em quando eram flagrados pelos do circo.

Pois bem, um sujeito não perdia espetáculo. Mostrava um belo cartão ao porteiro com o nome IMPRENSA e entrava sem ser importunado. Um dia, porém, o porteiro estava com um mau humor terrível e indagou abusado: “O senhor é o quê? Repentista, comunista, jornalista ou o que peste é?

E o cabrão, fazendo trejeitos com a cara mais sem-vergonha do mundo, respondeu: “Eu mando imprensar, bobagem! Como você não imprensa, eu entro”.

Mas o progresso que derrubou teatros, bailes e folclore, também não deixou escapar o circo de uma permanente e mortal rasteira de validade.

 

 

 


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