domingo, 20 de dezembro de 2020

 

O ACAUÃ

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.438


O acauã é uma ave falconídea dos nossos sertões nordestinos, imortalizada pela cultura sertaneja e pelo intérprete Luiz Gonzaga. Ave do gênero Herpetotheres, é muito odiada pelos sertanejos não instruídos, mediante a tradição de ave agourenta.  Entretanto, quem estuda os bichos, não pode deixar o acauã na marginalidade. É fato, porém, e não superstição, que o seu canto é um aviso que está sendo iniciado um período de seca. Nesse caso não é um mau augúrio, mas só um aviso profético natural para que os habitantes da região, possam se preparar para a estiagem. Um amigo que orienta e não espalha o mal. Todavia, pôr o amigo da natureza prevenir sobre a seca, é perseguido e morto pela ignorância que perdura nos sertões.

Além de ser amigo do homem (e ser mal interpretado) o acauã faz a limpeza da região caçando e devorando, roedores, cobras não venenosas e peçonhentas como as mais perigosas do sertão: coral verdadeira, cascavel e jararaca. Veja sobre a própria ave:No acauã adulto, a cabeça é amarela pálida, variando de marrom a branco dependendo do indivíduo e do desgaste das penas. A máscara facial preta e larga estende-se em torno da parte traseira do pescoço com uma borda branca. As penas da coroa têm eixos escuros produzindo um efeito raiado. A parte superior das asas e da cauda é marrom muito escuro; o uropígio é também amarelo pálido ou branco; a cauda apresenta barras estreitas preto e branco, terminando com pontas brancas. A maioria da parte inferior é amarela pálida, salpicada de marrom escuro nas coxas, incluindo a base das penas primárias. O fim das penas primárias é barrado, com cinza mais pálido. Algumas manchas escuras sob as asas não são incomuns. Os olhos são marrons escuros. A íris é preta; os pés são cor-de-palha”. (Wikispécie).

Tudo isso faz lembrar o senhor Benedito Serra Negra com avançada idade, quando chegava à loja de meu pai em tempo de estiagem, sempre com a mesma frase, referindo-se ao canto do acauã: “Ê, meu fio...” Ê   meu fio...”. Um dia nosso romance “Fazenda Lajeado” virá a lume e mostrará uma velha da fazenda aconselhando a matar os acauãs por causa da seca e a defesa de um fazendeiro patrão esclarecido dando lições de preservação.  Muitos interpretam seu canto como “Deus está chamando”. “Vai mais um”, por isso e por aquilo o acauã leva pedradas e chumbo grosso.

O passarinho vem-vem (Pitiguari) quando canta, chega um parente distante; quando a rasga-mortalha passa rasgando, morte de pessoa conhecida; o canto da seriema chama a chuva; e o canto do acauã, já foi apresentado acima.

Muito temos ainda que divulgar sobre nossos costumes, crenças e tradições sobre a flora e a fauna sertaneja.

Procure ouvir a beleza da música de Gonzaga, O ACAUÃ E sinta o meu, o seu, o nosso sertão.

ACAUÃ (CRÉDITO: GILVAN MOREIRA).

 

 

 


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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

 

LAMPIÃO: O INGRATO NA MATA GRANDE

Clerisvaldo B. Chagas, 17/18 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.437



Quando a família Ferreira veio para Alagoas, 1918, chegava aliviada das ações dos seus inimigos na região de Pernambuco, em que viviam. O próprio Virgolino Ferreira teve a chance de viver honestamente como empregado do coronel Juca, na Mata Grande. Mas, devido ao seu próprio instinto, resolveu fazer parte do bando de Antônio Maltilde e criar asas no bando dos Porcino. Seu espírito guerreiro não o deixou viver totalmente com o suor do rosto. Fez incursões armadas em seu estado e foi vivendo entre o certo e o errado no lugar que o acolheu, oferecendo oportunidade de viver do trabalho e longe dos rifles adversários do Pernambuco. Vivendo em Água Branca e Mata Grande, região serrana do estado, perdeu a oportunidade de paz porque bem quis.

Já famoso em 1925, achou que podia tudo. Tanto é que após a visita que fez ao cemitério do arruado Santa Cruz do Deserto para visitar os túmulos dos pais, resolveu dar uma festa na fazenda Tanque do seu velho camarada José Crispim. Pressionado pelos irmãos Antônio e Levino para que o bando assaltasse Mata Grande, respondeu fraco que não podia por dever favores àquela gente. Quer dizer, ele mesmo reconheceu que não podia ser ingrato com os que o acolheram na adversidade. Mesmo assim resolveu atacar Mata Grande. Os fanáticos dirão que ele foi obrigado pelos irmãos, mas o chefe era ele, a força de se impor era a sua, portanto, a responsabilidade total foi dele, sim. Cedendo mais à ambição do saque e menos à vaidade do poder da força, teve a desculpa do pressionamento da irmandade.

Arrogante e azougado partiu para o ataque após receber como resposta do comércio mata-grandense ao seu bilhete, um desafio de macho: “Olha, aqui, vá dizer àquele moleque que o receberei à bala”. Como pensava que não haveria resistência, o bandido Lampião tentou invadir à cidade, mas as balas prometidas não deixaram o bando ir além das Rua Nova e Repitete. Lampião “botou o rabinho entre às pernas, bateu em retirada e foi se refugiar na fazenda Serrote Preto. É certo que ali atuou com êxito, mas isso foge ao foco da cidade Mata Grande. Sua ingratidão, truculência e ambição, não o impediram de comer bala.

Só muito depois, Mossoró repetia o feito da Mata Grande.

 


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