domingo, 5 de dezembro de 2021

 

ODE AO RIO IPANEMA

extra

Clerisvaldo B. Chagas, 6/7 de dezembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

POESIA NA PROSA EM 2.10.2007





Era um imenso e formidável lastro. Um paizão de 220 Km, coleante entre Pernambuco e Alagoas

Os desbravadores logo perceberam que o rio Ipanema – mesmo temporário – representava palpitações de vida. Uma veia grossa que irrigava todo o corpo sertanejo. E o pai amigo, generoso e bom, logo presenteou o semiárido com uma cidade morena, dourada, plena de Sol e ornada de colinas, chamada Santana.

As águas vivas sobre as areias, as águas serenas sobre as areias, as agitações supremas de cima, as quietudes divinais de baixo, o tempero salobro da ribeira, mataram a sede da “Rainha do Sertão”. E o rio gritou bem alto: Façam as casas, eu dou a areia; fabriquem os tijolos, eu cedo o barro verde; definam seus tetos, eu contribuo com argila; lembrem dos alicerces, eu tenho pedras milenares; tragam os animais, usem meus pastos; provem dos meus deliciosos peixes, e... Quando estiverem cansados do trabalho dignificante, durmam sobre colchões e descansem com travesseiros dos meus juncais.

E as espumas desciam das roupas sob lindos cânticos das lavadeiras caboclas; dorsos robustecidos submergiam nas águas turvas; e o sopro da leve brisa amenizava o suor negros dos corpos noturnos e nus.

Grita Santana, teu nascimento! Berra Santana, tua expansão! Enfeita teus aromáticos cabelos com a flor da craibeira. Embala teu berço com o sussurro do Cruzeiro, com a lenda da caipora, com o doce murmúrio dos regatos do mês de julho.

Silêncio, que esvoaça o gavião, câmera natural que filma e comanda os céus de borboletas e bem-te-vis. Olhos mágicos que perscrutam o Panema e a flora, e a fauna, e o relevo privilegiado do lugar. Sentinela altivo das paixões, dos amores... Dos queixumes do povo santanense.

Deus fez o Ipanema, o Ipanema fez Santana, Santana observa seu criador pelas frestas das portas, pelos rachões das janelas, pelas varandas de aroeiras... Pelo mormaço das tardes preguiçosas ou pela íris da mulata da ribeira.

Erga-se meu herói sertanejo, que o astro-rei traz a luz no Oriente; que os matizes do azul marcham no firmamento. Já soaram as trombetas dos pardais.

Breve, breve, minha cidade estará de pé; bênção meu Panema. Deus no ilumine neste novo dia.

RIO IPANEMA, SERENO, VISTO DA TRAVESSA PROF. ENÉAS. (FOTO: JEANE CHAGAS)

 

 


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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

 

O BOI MISTERIOSO

Clerisvaldo B. Chagas, 2/3 de dezembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.623





Ainda lembro da saudosa Dona Ester, esposa do farinheiro José Camilo, lendo folhetos de cordel para nós, meninos da vizinhança. Sentada no degrau interno da casa, rodeadas de crianças, lia com muito prazer “A Índia Neci” e outros folhetos que comprávamos na feira com o nome de romance. “O Cachorro dos Mortos”, “Cancão de Fogo”, “João Grilo”, “O Pavão Misterioso”, “O Boi Misterioso”, “O Negrão do Paraná e o Seringueiro do Norte” e mais uma porção deles. “O Boi Misterioso” falava de um boi que vaqueiro nenhum conseguia pegá-lo. A descrição dizia que o animal era enorme e dasafiava todos os vaqueiros da época. Infelizmente não lembro o final da história. Tudo vem à mente quando assistimos aos vídeos sobre o Boi Salgadinho, o mais famoso do Brasil, na atualidade que, com suas 46 carreiras, derrotou todos os vaqueiros dos nove estados nordestinos que tentaram trazê-lo na corda.

Salgadinho não é um boi gigante como o do romance do meu tempo dizia, o boi misterioso, é um animal amarelo, aparentemente normal, mas se transforma num fantasma ao levar corrida dentro do mato. Quem não acredita em inteligência fora dos humanos, tenha a coragem de apostar dez mil reais contra o boi Salgadinho na corrida de mato no município de Iguaracy, em Pernambuco. O dono do boi, senhor José Carlos dos Correios, bem que aceita. A última vaqueirama a correr o boi foi a do Piauí, mais uma derrotada contra o boi. Dizem eles que ninguém pega o boi Salgadinho naquela manga onde tem muitos empecilhos no mato, inclusive árvores caídas onde cavalo não passa nem por cima nem por baixo, O Boi conhece tudo e ao se ver apertado, penetra em lugares aonde deixa o vaqueiro completamente desarticulado. Não são poucos os que voltam dizendo que não sabem aonde o boi se escondeu.

Ê Dona Ester, minha boa vizinha! Se a senhora ainda estivesse nesse mundo, iríamos sentar naquele mesmo degrau e comentar sobre quem é melhor, se o antigo “Boi Misterioso” ou o Salgadinho de Iguaracy. Histórias do mundo, Histórias que povoam a mente de milhares de sertanejos iguais a nós. Isso também puxa pelo “Saia Branca”, boi famoso da região do povoado Várzea de Dona Joana, sertão alagoano, mas que perdeu a fama para um vaqueiro também encabulado daquele lugar. Falar em bois famoso é falar de Nordeste.

BOI SALGADINHO (FOTO: FACEBOOK).

 


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