segunda-feira, 14 de março de 2022

 

DEBAIXO DA JAQUEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.673


 

 Não podíamos deixar de registrar a cena. Uma farra animada e barulhenta de homens na praça. Não havia bebida, mas o grupo aglomerava-se em torno de uma escancarada jaca mole, cada qual com um espetinho improvisado e parecia uma competição amundiçada. Os passantes achavam graça ou ficavam com inveja da brincadeira produtiva. Jaca não é fruto abundante no Sertão. Os terrenos de planura, inclinam-se mais para a criação de gado e raramente possuem fruteiras plantadas. Vamos encontrá-la em relevo de serra onde a fruticultura toma conta das elevações. Entretanto, durante época de safra sua presença nas feiras apresenta-se nas modalidades jaca dura e jaca mole.

A jaqueira (Artocarpus heterophyllus), é uma árvore alta e geralmente mais comprida de que esgalhada. Os seus frutos, as jacas, são ricos em açúcares, gorduras e proteínas. Pode funcionar como anti-inflamatório e contém outras propriedades medicinais. Troncos e galhos são usados para confecção artesanal com os mais diferentes tipos de peças, inclusive, instrumentos musicais. Apesar do seu plantio reduzido, aqui em Santana do Ipanema tem um sítio rural bastante conhecido e visitado chamado exatamente Jaqueira. Mas o bom mesmo disso tudo é a farra que se faz quando todos habitantes da casa participam da “comilança” dos seus gomos. Ou com garfo ou com espeto de pau os gomos moles vão sendo catados e deglutidos. A jaca dura vai mesmo de mão limpa. Dura ou mole, o resultado é sempre o mesmo: uma batidinha no ‘bucho” para medir o volume consumido e expressar a satisfação em ter passado tão saboroso fruto.

As expressões feias e chulas “Vá tomar na jaca” e “atolou o pé na jaca”, tentam desmerecer o fruto divino da jaqueira, porém, o seu prestígio crescente ganha corpo, notadamente, entre os mais humildes pelo volume tamanho família e que momentaneamente mata a fome de muitos. Em Maceió, a Chã da Jaqueira, bairro atingido pelo escândalo Braskem, oferece um cenário belíssimo do seu mirante para a laguna Mundaú, além de produzir o fruto na região.  Os que não podem comer açúcar, devem tomar cuidado com a glicemia alta dos seus gomos amarelos.

É tirar o pé da jaca e seguir em frente que atrás vem gente

JAQUEIRA E SEUS FRUTOS (FOTO: REVISTA NATUREZA)


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domingo, 13 de março de 2022

 

VISITANDO O MIAÍ

Clerisvaldo B, Chagas, 14 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.672


 

Não estamos tão distantes da Semana Santa, tempo em que nos dá bastante vontade para mudar de ares nas belas praias do Miaí de Baixo, litoral de Coruripe. Era uma viagem longa que passava em Arapiraca, São Sebastião, Penedo, Piaçabuçu e Feliz Deserto. Não compensava sair de Santana do Ipanema para Miaí, para ficar na praia por apenas um dia. Segundo boas informações, o governo estadual encurtou a distância quando asfaltou o trecho Colônia Pindorama – Coruripe. Após Arapiraca entra-se por atalho via Usina Pindorama, uma das cooperativas mais pujantes do Brasil. Já andamos outra vez ali por aquele atalho, porém sem asfalto e por dentro de desertos canaviais. Falam que agora é apenas um pulo de Arapiraca para Miaí, fora o direito de visitar a Colônia Pindorama já em terras de Coruripe, com seus fabricos de deliciosos sucos tendo como carro-chefe o de maracujá.

O pequeno povoado litorâneo ainda é um bom refúgio para quem quer descansar, mas no Carnaval descanso no lugar é perdido, tanto no Miaí de Baixo quanto no Miaí de Cima até a Lagoa do Pau. O que sempre nos chamou atenção por ali foi a praia que faz recuar suas águas fazendo o banhista andar muito ao encontro das ondas. Vezes que não se vê viva alma nas extensas praias desertas. Os mercadinhos se encarregam de abastecer a dispensa e, a feira do peixe na sede municipal é uma delícia para quem aprecia o pescado. Ainda é possível comprar camarão em barcos pesqueiros se o turista assim o preferir. Caso a preguiça não chegue dá para conhecer a cidade de Feliz Deserto e a própria Coruripe. Muito coqueirais e comidas típicas: paraíso alagoano.

Mesmo com esse atalho pela Colônia Pindorama, era muito bom rever os casarões e a orla de Penedo, cidade extremamente limpa e turística. A movimentação da cidade ensolarada de Piaçabuçu com seus barcos pesqueiros ancorados. Os infinitos coqueirais que levam até o Miaí de Baixo. O esforço de Feliz Deserto para progredir... Dunas, vegetação de beira de rio, vegetais praianos, atrações para uma boa câmera fotográfica. Geografia profunda na Foz do São Francisco, na Praia do Peba, nos desenhos dos encantadores cenários.

Alagoas, onde a felicidade mora.

“A gente faz uma latada

Cobre com paia de coco

De noite vê-se o pipoco

Da rapaziada...”

Obrigado, saudoso Jacinto Silva, forrozeiro do litoral.


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