domingo, 18 de dezembro de 2022

 

MÃE-DA-LUA

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de dezembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.815


Um dos maiores encantos do mundo é uma noite de lua no Sertão rural nordestino. São as “noites enluaradas” fontes inspiradoras permanentes de poetas, escritores, viajantes e demais apreciadores dos milagres de Deus. Entre as noites enluaradas são especiais as da Lua Cheia que transformam a noite em dia como estradas em imensas faixas brilhantes de areia. Os filhos do Sertão costumam viajar para longe, apreciando o tempo. Alguns preferem visitar a vizinhança, voltando logo para dormir cedo. E outros, ainda acham melhor a contemplação do alpendre da fazenda. Mas nem tudo no Sertão é somente noite enluarada. Conforme a fase da lua as noites são escuras “de meter o dedo no olho”, dizem os seus nativos. E de fato, são.

É neste último cenário onde surgem com mais frequência os bichos noturnos, destacando-se os feiosos de canto horripilantes e que são chamados de agourentos. O canto é apenas para se comunicar com seus semelhantes. São inofensivos e caçadores de insetos, roedores e outros pequenos animais. Todavia, por serem feios e de cantos sinistros, fazem correr muita gente que têm medo da fama do mau-augúrio. São estes animais: João Corta-pau, a Coruja, a Mãe-da-Lua, a Peitica, o bacurau... Apenas para falar nos mais famosos da noite. Assim o grande Luiz Gonzaga, intérprete de todos os momentos sertanejos nordestinos, com seu fiel escudeiro Zé Dantas imortalizaram essas aves noturnas na belíssima e sensível página musical “Acauã”. (Pesquise e ouça rapidamente na Internet). Vejamos apenas uma estrofe:

 

“Toda noite no Sertão

Canta o João Corta-Pau

A Coruja, a Mãe-da-Lua

A Peitica, o Bacurau...

 

A mãe-da-lua, é também chamada em outras regiões de Urutau. O que faz com perfeição é sua capacidade de disfarce. Arranja um toco de árvore da sua cor, ali se planta, ergue o peito para cima e parece fazer parte da árvore. Somente especialistas conseguem percebê-lo assim. Tem a boca grande parecida com a do sapo e com ela aterroriza seus predadores. Seus olhos são amarelos. O bicho é encontrado em todas as partes do Brasil.

Agora, quanto ao Pai-do-sol, só ouvimos brincadeiras e não sabemos se também é bicho do mato.

Conhece de perto a mãe-da-lua?

UMA DAS SETE ESPÉCIES DE MÃE-DA-LUA (FOTO: WIKIPÉDIA).

 


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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

 

MEU PAI TINHA MEDO...

Clerisvaldo b. Chagas, 14 de dezembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.814



 

Nesta época em que está havendo vacina contra aftosa, vem à tona as lembranças de uma época em que não havia veterinário em Santana do Ipanema. Para vacinar o gado, era uma novela, porém, com todas as dificuldades que havia, o ato de vacinar o gado bovino virava uma festa em algumas fazendas. O proprietário rural convidava seus amigos para o ato da vacina como se tivesse convidando alguém para um batizado ou casamento. Estamos falando daquele que tinham mão-aberta. Para o prático veterinário, seus auxiliares e amigos, havia almoço, bebida, farras e ofertas de produtos da fazenda, como frutas, ovos, galinhas, guinés... Além de passeios pelos açudes e visitas em pontos aprazíveis.

O cidadão Antônio Alves Costa, conhecido por Costinha, era um desses veterinários práticos. E de fato entendia muito bem dessas doenças que atacavam os animais. Era bem humorado e tinha um raciocínio veloz para uma resposta, a quem chamam de tirocínio. São inúmeras suas aventuras, muitas delas contadas pelo próprio Costinha. Foi comerciante, soldado do exército e diretor de disciplina no Ginásio Santana, em nosso tempo de estudante por ali. Gostava de conversar conosco e contar as coisas. Certo dia Costinha foi chamado para vacinar o gado na fazenda Santa Helena, da nossa família... E foi. E como falamos acima, havia de tudo para agradar amigos também convidados.

O tirocínio de Antônio Alves da Costa estava sempre em evidência. Onde ele se encontrava, os presentes tinham riso frouxo. Na hora da vacina, um vaqueiro chamado Chico, muito forte, laçava a rês, dominava-a e, Costinha encostava com a seringa da vacina. (Já contei essa passagem por outro viés). Não hora de laçar o touro, foi uma luta muito forte entre Chico e o possante. Mas até aí, Costinha se mantinha apena aguardando sua vez de entrar em cena. Foi, então, que o caboclo laçou uma vaca que deu um trabalho enorme para se acalmar. Costinha ficou à distância até que o vaqueiro o chamou: “Chegue, Costinha, que a vaca é mansa”. O veterinário prático mal deixou o vaqueiro fechar a boca e respondeu na bucha: “mansa? Mansa era minha mãe e meu pai tinha medo dela!”.

Foi uma gargalhada geral.

E no fim, missão cumprida com o “filósofo do improviso e comediante sem ribalta, Costinha.

Ô Sertão bonito!

VACINANDO O GADO (Foto: m.gov.br.).

 

 


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