domingo, 9 de abril de 2023

 


USO DA PUA

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.861

 

Você sabe a diferença entre boiadeiro, vaqueiro, vaquejador, tangedor e vacorno? Já falamos sobre isso em um dos nossos trabalhos, mas surgiram dúvidas entre marceneiro, carpinteiro e carapina, também chamado carpina. Esta última palavra fomos ouvi-la pela primeira vez na zona rural. Aí embolou o meio de campo como dizem os aficionados ao futebol, porque alguém pode dizer que todos são a mesma coisa. Existe, porém, uma distinção interessante.  Todos três mexem com a madeira, mas de formas diferentes, vamos a elas:

Marceneiro: profissional que trabalha com madeira confeccionando móvel e fazendo consertos. Hoje em dia também recebe a denominação de moveleiro.

Carpinteiro: Profissional da madeira cujo trabalho está relativo à madeira usada em construção: vigas, escoras, caixas para concreto, e madeirame do teto, etc...

Carapina: Também chamado carpina, mas dizem que o nome correto é carapina que, aliás, é de origem indígena. O carapina trabalha principalmente no campo (zona rural) mexendo com madeira na construção de casa de taipa, por exemplo. Providencia a estrutura da casa como portas, janelas, paredes e teto relativos à madeira. Agem, portanto, como se fossem médicos, mas cada qual com sua especialidade. Quanto ao título da matéria, quem conheceu a pua? Instrumentos hoje obsoleto, usado pelos antigos profissionais da madeira e que servia para fazer furos manualmente. Hoje, substituída pelas furadeiras elétricas, ainda resiste por aí à fora.

A pua ficou famosa durante a Segunda Guerra mundial, quando os brasileiros a usaram no slogan contra os nossos inimigos: “Senta à pua!”. O que equivale a dizer que deveríamos usar todo o rigor sobre eles.

Não queremos dizer que os três profissionais da madeira não saibam sobre os serviços dos outros similares, pois, “quem não tem cão, caça com gato”, já diziam os antigos, todavia, “cada qual no seu quadrado”, fala a gíria hoje em voga.

A Igreja afirma que São José era um carpinteiro, portanto, pela divisória vista acima, o pai de Jesus dirigia seus trabalhos de madeira com destino às construções.

Ô Português complicado! Ou o complicado somos nós?

PUA (Foto).

 

 

 

 


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quarta-feira, 5 de abril de 2023

 

VAGA-LUMES

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.860



 

Santana do Ipanema, cidade sertaneja de Alagoas, passou quatro anos no escuro. É que o motor alemão que abastecia a cidade, caiu na exaustão. Após uma luta incessante dos santanenses, o governador resolveu trazer energia de Paulo Afonso e abasteceu a urbe. Muitas coisas interessantes aconteceram naquele período onde afloraram toda a tradição da Ribeira do Panema. Lembramo-nos muito bem de certas noites em que o céu era povoado desses insetos simpáticos e misteriosos que são os vaga-lumes e que em outras regiões são denominados pirilampos. Não é que todas as noites havia vaga-lumes, mas eles sempre apareciam em maior ou em número reduzido, mas povoavam a nossa mente interiorana.

Os vaga-lumes tornaram-se imortais na literatura cangaceira, quando na madrugada de 28 de julho de 1938, foram confundidos com lanternas por duas mulheres bandidas na Grota dos Angicos, em Sergipe. O engano entre vaga-lumes e lanternas de verdade, fez a diferença no ataque que vitimou Rei e Rainha do Cangaço naquela fatídica madrugada. Mas acontece que o progresso como faróis de automóveis, luzes de postes atrapalharam o pisca-pisca dos pirilampos que se comunicam assim e atraem as fêmeas para o acasalamento. Por outro lado, o seu habitat foi invadido por desmatamento e construções, impedindo a reprodução desses coleópteros que estão no momento desaparecidos.

As luzes artificiais e companhia retiraram do ar esses maravilhosos insetos que povoaram a mente de crianças e adultos no nosso mundo sertanejo. Vez em quando vemos e ouvimos repentistas violeiros falarem sobre a lanterna natural desses insetos que enfeitavam a abóboda do mundo sertanejo. São personagens do bioma caatinga assim como as não menos famosas tanajuras que surgiam após as trovoadas e enchiam de júbilos todas as faixas etárias do semiárido. E como a parte traseira era volumosa e comestível, daí a expressão rasteira: “bunda de tanajura”. Pois os vaga-lumes e outros personagens do Sertão, transformaram-se apenas em saudade no mundo literário e na boca dos nossos avós. Parece impossível conviverem em harmonia o moderno e o passado.

Mas lembrar, pode?

VAGA-LUME (FOTO: PINTEREST).


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