VAGA-LUMES
Clerisvaldo
B. Chagas, 6 de abril de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.860
Santana
do Ipanema, cidade sertaneja de Alagoas, passou quatro anos no escuro. É que o
motor alemão que abastecia a cidade, caiu na exaustão. Após uma luta incessante
dos santanenses, o governador resolveu trazer energia de Paulo Afonso e
abasteceu a urbe. Muitas coisas interessantes aconteceram naquele período onde
afloraram toda a tradição da Ribeira do Panema. Lembramo-nos muito bem de
certas noites em que o céu era povoado desses insetos simpáticos e misteriosos
que são os vaga-lumes e que em outras regiões são denominados pirilampos. Não é
que todas as noites havia vaga-lumes, mas eles sempre apareciam em maior ou em
número reduzido, mas povoavam a nossa mente interiorana.
Os
vaga-lumes tornaram-se imortais na literatura cangaceira, quando na madrugada
de 28 de julho de 1938, foram confundidos com lanternas por duas mulheres bandidas
na Grota dos Angicos, em Sergipe. O engano entre vaga-lumes e lanternas de
verdade, fez a diferença no ataque que vitimou Rei e Rainha do Cangaço naquela
fatídica madrugada. Mas acontece que o progresso como faróis de automóveis,
luzes de postes atrapalharam o pisca-pisca dos pirilampos que se comunicam
assim e atraem as fêmeas para o acasalamento. Por outro lado, o seu habitat foi
invadido por desmatamento e construções, impedindo a reprodução desses coleópteros
que estão no momento desaparecidos.
As
luzes artificiais e companhia retiraram do ar esses maravilhosos insetos que
povoaram a mente de crianças e adultos no nosso mundo sertanejo. Vez em quando
vemos e ouvimos repentistas violeiros falarem sobre a lanterna natural desses
insetos que enfeitavam a abóboda do mundo sertanejo. São personagens do bioma
caatinga assim como as não menos famosas tanajuras que surgiam após as
trovoadas e enchiam de júbilos todas as faixas etárias do semiárido. E como a
parte traseira era volumosa e comestível, daí a expressão rasteira: “bunda de
tanajura”. Pois os vaga-lumes e outros personagens do Sertão, transformaram-se
apenas em saudade no mundo literário e na boca dos nossos avós. Parece
impossível conviverem em harmonia o moderno e o passado.
Mas
lembrar, pode?
VAGA-LUME
(FOTO: PINTEREST).
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