domingo, 18 de fevereiro de 2024

 

ÁGUA DE COCO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.016

 



Sempre achei aquele trabalho empolgante. Trabalhar no IBGE, eram duas bênçãos ao mesmo tempo. Lidar com Geografia e salário firme. E como se fala muito ultimamente em São Sebastião, sempre estou a recordar uma viagem de pesquisa até ali com o meu chefe, então, José Pinto Araújo, no seu fusca azul. Cito essa recordação porque fiquei impressionado com aquelas terras férteis e bonitas da região.  E foi ali nas belas grotas da zona rural onde pela primeira e única vez, flagrei uma cobra jiboia descansando após engolir um caprino. Somente as pontas do animal doméstico se mostravam no lado externo da boca do ofídio. Para mim foi mesmo uma surpresa nas terras agrestinas daquele município. Uma bica permanente às margens da rodovia São Sebastião – Penedo, também foi novidade para este matuto de Santana do Ipanema.

Mas o que mais me impressionou mesmo foi o sítio, bem perto da cidade, o nosso destino. Ali, o contato nos esperava numa bela chácara de pomar exuberante, onde a água de coco era mais doce e mais abundante. Senti-me dentro de um paraíso que nos fez esquecer a missão “ibegiana”, por algumas horas. Por isso que sempre preguei em sala de aula: “primeiro conhecer o seu estado e só depois o restante do Brasil e do mundo”. Pois, a boa impressão que a cidade do Santo Mártir me deixou, eu a carreguei durante a minha vida até o presente momento. A propósito, São Sebastião possui em torno de 34.000 habitantes, está localizada a 200 metros de altitude e tem com Economia, mandioca, milho, fumo, amendoim, feijão, banana e laranja, mas também puxa um pouco para a pecuária e o artesanato de renda de bilro.

Sua padroeira é Nossa Senhora da Penha e sua Emancipação política se deu em 31 de maio de 1960. Antes, o lugar tinha o apelido de Salomé, porque um cidadão, isoladamente, vendia para quem passava, sal e mel. São Sebastião faz parte da grande região metropolitana de Arapiraca, é saída estratégica para a região do São Francisco, como Porto Real de Colégio, Igreja Nova, Penedo e, Piaçabuçu, Porém, acreditamos no ditado que diz: “Conhecer de perto, para contar de certo”. Pois faça essa visita e depois nos conte como foi, “cabra véi”. E a senhora não quer comprar renda!? Alagoas é massa!

IGREJA EM SÃO SEBASTIÃO (FOTO DEVULGAÇÃO)

 

 

 


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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

 

O CALANGO E O DOCE

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.015




 

          Criativas e sem sentidos eram muitas as modinhas inventadas no mundo rural do Sertão:

 

“Calango matou um boi

Retaiou botou na teia

Lagartixa foi bulir

Calango largou-lhe a peia

Lagartixa foi dar parte

Calango foi pra cadeia.

 

Quando a moça ia casar-se vinha do sítio rural para a igreja, na cidade. Além da comitiva a cavalo, vinha por último um cidadão escanchado numa égua conduzindo o baú de roupas da noiva. Era chamado de “calango”. Ao passar o calango pela praça defronte à igreja, era alvo de engraxates e desocupados que gritavam: Calango! Calango! E calango respondia às investidas, erguendo o braço e estalando bananas e mais bananas para a turba. (Fonte: Alberto Nepomuceno Agra).

Quando a comitiva retornava à casa da noiva, havia muito exibimento dos cavaleiros com seus animais baixeiros em corridas pelas estradas poeirentas. Ao chegar perto da casa da noiva, os mais afoitos corriam à frente, pegavam doce de coco na casa da noiva e traziam para ela ainda no caminho. A noiva e o noivo, felizes da vida, comiam o doce ali mesmo, cavalgando e metendo os dedos cheio de poeira nas taças abarrotadas. Era uma tradição. (Fonte: Escritor Oscar Silva).

 A pressa dos cavaleiros que iam buscar o doce, esquecia das colheres. Mesmo sem colher, o doce era doce. A figura do calango desapareceu, mas o doce de coco ainda é encontrado aqui ou ali sem a frequência do passado. Gostoso é. O “enjoativo” fica por conta de quem quer almoçar doce. E assim, os registros vão sendo feitos em livros esporádicos e ganham vida na boca dos mais velhos. Que bom, ouvir as narrativas da vovó, do vovô... E o Sertão velho de meu Deus, vai moendo, nos mitos, nas lendas, nas verdades, enriquecendo conhecimentos orais e literaturas curiosas que graças a elas seguramos a lupa preciosa de quem quer aprender. Envelheça, se puder e, conte seu mudo aos que virão.

 

 

 


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