segunda-feira, 4 de março de 2024

 

TRADUZINDO PARA VOCÊ

Clerisvaldo B, Chagas, 5 de março de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.022

 



Até quase o final do século passado, o povo sertanejo alagoano usava bastante as palavras bogó, cabaça, aió e trempe. Você da capital sabe traduzir? Então, mãos à obra:

Bogó é uma bolsa de couro com boca estreita e dura. Serve para transportar água em viagens. Quanto mais quente é o tempo mais a água esfria. Por ser pesado estando cheio, é mais apropriado para ser transportado por animais como o cavalo, o burro, o jumento... Foi muito usado por vaqueiros e cangaceiros.

Cabaça fruto do cabaceiro, duro e cortado ao meio tem ínúmeras serventias. Inteira, tem a mesma função do bogó e que também foi muita usada pelos cangaceiros e forças volantes, na caatinga.  Também é usada em nome masculino como cabaço que se tornou pejorativo para a virgindade da mulher. O primeiro documento de Santana do Ipanema, menciona o rio dos cabaços, atualmente conhecido como Capiá, o mais importante do Alto Sertão alagoano.

Trempe é a junção de três pedras, fogo no centro, à lenha ou a carvão, geralmente no solo limpo onde será colocada a panela – a maioria de barro – para cozinhar a comida. Em algumas regiões do Nordeste a trempe também era chamada tucuruba, nome indígena, cuja diferença era que as tucurubas tinham o fogo no chão escavado, num buraco. Cangaceiros usaram muito as tucurubas.

Aió bolsa de tecido especial, entrançado, para ser pendurado na cabeça do animal cavalar, com ração, notadamente de milho. Foi muito usado por homens humildes do sertão, a tiracolo como se fosse uma bolsa de couro atual. Esses indivíduos eram discriminados e chamados com desprezo de “cabra de aió”. Isto é, sem confiança, sem caráter. Essa expressão foi muita usada pelos coronéis sertanejos – fazendeiros ricos, arrogantes e assassinos, cujos títulos vinham de patentes da Guarda Nacional, criada pelo padre Diogo Feijó. Assemelha-se às expressões: “cabra ruim”, “cabra peste”, “cabra safado” e “cabra de peia”.

Assim continua o terreno fértil sertanejo em aberto para os pesquisadores deste mundo encantado.

MUNDO ENCANTADO ENTRE JARAMATAIA E SERROTE DO JAPÃO (FOTO: B. CHAGAS)

 


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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

 

SÃO BENEDITO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.019

 



Nunca faltou tinta no mundo, mas a Igreja de São Benedito, em Maceió, sempre foi escura e nem sabemos por que. Situada ali no Comércio, defronte a, então, Secretaria de Educação, imediações da Praça Deodoro, sempre teve aquele aspecto de esquecida e discreta. Ali passei inúmeras vezes nas minhas andanças pela capital. Foi onde faleceu o ex-dirigente de Santana do Ipanema, ainda no tempo de vila, padre Capitulino, filho de Piaçabuçu, pároco de Santana, depois dirigente, substituto interino do governador Fernandes Lima, por alguns meses. Na época da vila quem mandava era a família Gonzaga, quando a irmã do padre casou com um deles. Padre Capitulino, terminou substituindo os Gonzaga, na política e fazia as duas funções em Santana do Ipanema.

Dividido pela opinião pública por ser um padre politiqueiro, estava quase sempre ausente do município. Foi ele que no ano de 1900, realizou a primeira reforma da Igreja de Senhora Santana. Com o governador afastado por problemas de saúde, Capitulino assumiu o cargo e que aproveitou para elevar à condição de cidade, a vila de Santana do Ipanema. Depois se dedicou somente à carreira sacerdotal e veio a falecer na igreja de São Benedito. Fora um ataque fulminante de coração, quando se preparava para celebrar a missa. Sua visita à Santana do Ipanema, como governador, é registrada no livro de cônicas do brilhante escritor santanense, Oscar Silva, “Fruta de Palma”.

Mas voltando a igreja de São Benedito e que tem sua marca na história santanense. Quando as igrejas pararam de receber defuntos, somente foi permitido receber cadáveres naquele templo. E na observação do início, sempre nos deparamos com aquela igreja escura por fora e por dentro, apesar da sua localização privilegiada na capital.  Acho que chegamos a um ponto em que havia muitas igrejas, poucos padres e verbas escassas, problemas esses que também notamos em nossa região. Porém, a Igreja de São Benedito, ali nas proximidades da Praça Deodoro, continua resistindo. E apesar de ser uma igreja discreta, somente notada por que já a conhece, é aberta a todos os devotos do santo e a todos aqueles que dela sempre precisaram para suas orações diárias ou visitas esporádicas de robustecimento da fé.

IGREJA DE SÃO BENEDITO EM MACEIÓ (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

 


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