quinta-feira, 12 de setembro de 2024

 

NO GINÁSIO SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.107

 



Em Santana do Ipanema, o prefeito Joaquim Ferreira, construiu com o governo estadual o Grupo Escolar Padre Francisco Correia e também a estrutura física para um hospital. Usou bastante mão-de-obra- indígena dos Carnijós de Águas Belas. Entretanto, o enorme prédio para hospital, ficou ocioso por falta de pessoal e equipamento. Mais tarde o prédio ocioso foi ocupado por um batalhão de polícia formado para combater o cangaceirismo no Nordeste. Quando o batalhão foi embora o prédio ficou novamente ocioso. Então, passou a ser usado para abrigar uma unidade escolar da Rede Cenecista em Alagoas. Foi, então, fundado o Ginásio Santana que foi inaugurado em 1950. Com seus idealizadores à frente: Padre Bulhões, coronel Lucena, padre Teófanes e outros mais o estabelecimento de Ensino passou a funcionar da quinta a oitava série.

O Ginásio Santana funcionava devido pagamento e, seus professores eram pessoas que se destacavam na sociedade pelo seu saber, gratuitamente ou com pequenas gratificações. Era um bancário, um contador, um padre, um comerciante, um médico e assim por diante, tudo a título de colaboração. Das décadas de 60-70, lembramos como alunos de algumas características de alguns professores: O professor de História Conrado Lima, nunca deixava de falar em Rocha Pombo; o professor de História e Matemática, Ernande Brandão, era “E assim sucessivamente... “, “a ordem dos fatores não altera o produto”; a professora de Desenho dona Déa, quando se dizia que não estava entendendo: “Tenho tanta pena do senhor...”: José Pinto Araújo, professor de Geografia: “A Ponta Seixas, no cabo Branco na Paraíba”; Genival Copinho, professor de Matemática: “O crivo de Erastóstenes”; A professora de Francês, Maria Eunice: “biquinho: oui, Mademoiselle”; padre Luiz Cirilo, professor de Latim: “Puela, puela, puela...;  Neco professor de Matemática: Cai fora, deputado!;  Doutor Jório, professor de Ciência: “Quantos corações nós temos? – Dois, doutor Jório, um meu outro do senhor; Alberto Agra, professor de Geografia: “O sujeito só quer seus direitos, compreendeu? Esquece dos seus deveres”; Branco, professor de Inglês: “Nos Estados Unidos é assim, na Inglaterra é assim”.

O silêncio medroso acontecia nas aulas de Dr. Jório, dona Isinha, Seu Alberto.


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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

 

AS PEDRAS E OS SAPOS

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 106

 



Na década de 60, quando o rio Ipanema botava cheia, nós, os adolescentes, com o rio sempre às vistas, marcávamos a intensidade dessas cheias de acordo com uma pedrada margem direita do rio, logo abaixo das olarias. A pedra tinha o formato de um anfíbio, daí a denominarmos “Pedra do Sapo”.  Se a cheia não chegava até lá, era pequena; se as águas chegavam até a sua base, seria uma cheia média e, se as águas chegassem quase a cobrir a pedra do Sapo ou mesmo a cobrir, seria uma cheia respeitavelmente grande. Tudo indica que foi na década de 80, quando o mangaieiro Zé Preto – que morava nas imediações da Rua São Paulo – por motivo de promessa, ergueu um oratório no topo da pedra e fez um acesso de alvenaria. Pronto, estava acabada a nossa tradição.

Mas, tempos depois, no sítio Barriguda, às margens da AL-220, um funcionário aposentado e artista amador, tendo adquirido uma chácara por ali, notou uma pedra em forma de sapo e usou a sua imaginação: Pintou o animal aproveitando as suas formas. A pintura do artista passou a ser uma grande atração turística. Muitas paradas de viajantes para uma fotografia tirada do pé da cerca de arame farpado. Até invasor subia na pedra para exibir fotografia como troféu. Assim encontramos outros artesãos que aproveitam pedras e árvores da caatinga com formato bruto de bichos.  Pintam a forma ou terminam o trabalho da natureza ao dá acabamento. Mas somente essas pessoas dotadas percebem essas formas de imediato porque a arte já está dentro da sua cabeça. Os olhos estão aguçados.

Tempos depois do oratório com escadaria na pedra do Sapo do rio Ipanema, os vândalos destruíram quase tudo, deixando apenas a escada de alvenaria. Nem chegamos a ver o santo da devoção de Zé Preto. Quanto ao sapo do sítio Barriguda, sempre estava sendo atualizado com pintura. Não sabemos, porém, se a manutenção continuou após a morte do proprietário da chácara. Mesmo assim, o “sapo” da Barriguda foi parar em nosso livro, ainda inédito: “Repensando a Geografia de Alagoas”, fotografado em 2016. (Ver abaixo). Quem marca agora as intensidades das cheias do rio Ipanema, não é mais a pedra do Sapo, pois, a modernidade aciona o Corpo de Bombeiros, cuja sede se encontra no Bairro São José.

Ô meu Sertão curioso!

 


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