terça-feira, 15 de outubro de 2024

 

O MURRO DO HOMEM

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 128

 



Vou contar de novo. Cícero de Otacílio era marchante igual ao seu pai Otacílio, em Santana do Ipanema.  Otacílio era ex-volante, participara da morte de Lampião e Maria Bonita, na fazenda Angicos, Sergipe em 1938. E falava entre outras coisas como morrera o cangaceiro Elétrico. Otacílio em Santana, como ia dizendo, era marchante e, o matadouro da cidade levava o nome dele como homenagem ao destemido policial. Pois bem, entre os seus filhos um deles também virou marchante. Era forte, no Mercado de Carne, transportava nas costas um boi inteiro. Dizem que certa vez o homem matara um boi com um murro. O marchante Cícero de Otacílio faleceu vítima de acidente de trânsito no lugar Largo do Maracanã ponto mais perigoso de Santana.

Difícil é contabilizar o número de acidentes do Largo do Maracanã, lugar central do Bairro Camoxinga, ponto divergente e convergente de 5 ruas e a BR-316.

Mas, voltemos à vida do homem. Forte, alegra, comunicativo e simpático, Cícero se dava bem com todo mundo. Cícero passou a namorar com uma senhorita da Rua Nova, minha ex-colega de Ginásio Santana, Socorro. Foi quando chegou um sujeito de Maceió e, passeando pelo Comércio, viu passar a senhorita e ficou impressionado. Então, indagou ao seu hospedeiro amigo: “Rapaz, quem é aquela moça tão bonita? Estou interessado nela”. O amigo, respondeu com toda naturalidade: “Aquela senhorita é a noiva de um rapaz aqui da cidade que mata um boi de um murro”. O assunto morreu ali. O sujeito frouxo desocupou o Comércio de Santana e embarcou de volta a Maceió, no primeiro pinga-pinga que apareceu.

E você, cabra véi!

Enfrentaria um homem que mata um boi de um murro?

MATADOURO PÚBLICO

 


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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

 

FERREIRINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.127

 




Poeta, compositor, cantor sertanejo, pescador e garrafeiro, Senhor das Plantas, Ferreirinha iniciara sua carreira cantando sertanejo com seu parceiro Ferreira, fazendo a dupla Ferreira e Ferreirinha. Cantava sempre no coral da Matriz de São Cristóvão e tornou-se nosso companheiro da “Associação Guardiões do Ipanema” – AGRIPA. A foto abaixo representa uma incursão nossa pelo rio Ipanema, trajeto comércio – Cachoeiras, ocasião em que Ferreirinha descrevia várias plantas medicinais no trecho. Era mestre no conhecimento de plantas e usos imediatos. Até livreto editara sobre o tema. Gostava de pescar (inclusive surge pescando de anzol no rio Ipanema no livro inédito “Repensando a Geografia de Alagoas”. Ele nunca viu.

Ferreirinha também era exímio cozinheiro e sempre era contratado para cozinhar para grande quantidade de homens. Infelizmente, em uma noite calma, o nosso poeta santanense, sentara à porta de casa para gozar a brisa da rua, quando passou um malandro das imediações. Pediu-lhe um cigarro. Ferreirinha respondeu que não fumava. O bandido seguiu adiante alguns passos e voltou de repente esfaqueando o cantor. Ferreirinha foi socorrido por familiares, enfrentou maratonas de hospitais, porém nunca sarou completamente e o ferimento nos intestinos virou um câncer. Com o escritor Marcello Fausto estivemos em sua residência para uma visita e ouvimos seu dedilhar numa viola muito boa e que o poeta gostava muito.

Para mim, era o maior de todos os guardiões do nosso grupo. Infelizmente ou felizmente, não sabemos o dia de amanhã. E Ferreirinha, morador da CONHB nova, curtindo aragem do bairro mais alto da cidade, teve sua integridade física atacada por um marginal do Bairro Lajeiro Grande. Monitorou o bandido por uns tempos com seus familiares, mas o destino não permitiu que o poeta sujasse suas mãos. Tempos depois, outros marginais ou a polícia fez o que muitos queriam fazer com o agressor.

No momento, revendo algumas fotos de Ferreirinha, bateu a vontade de homenageá-lo com uma crônica sentida.

Onde você estiver, meu poeta...

Receba um forte abraço do companheiro da AGRIPA.

ARISELMO E FERREIRINHA (DE BERMUDA) E FERREIRINHA SOZINHO NA ANTIGA ESCOLA HELENA BRAGA, SEDE DA AGRIPA.  FOTO: ARQUIVO DO AUTOR.

 

 

 


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