segunda-feira, 21 de outubro de 2024

 

O MINGAU DO GRUPO

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.132

 



Para a criançada de Santana do Ipanema, o Grupo Escolar Padre Francisco Correia, no Bairro Monumento, ainda era o melhor lugar fechado da cidade tanto para estudar quanto para se divertir. Era muito bom quando dona Prisciliana, já de certa idade, tocava a sineta para o recreio. Saíamos todos para o enorme pátio ao lado, piso de terra cercado de muretas baixas. Antes da saída para o pátio recebíamos o lanche da escola que, na época, era apenas uma caneca de plástico rígido de mingau. Sim, o mingau tinha uma cor marrom bem clarinha, cheiro bom, mas enjoativo. Às vezes bebíamos. Outras vezes, após o primeiro gole, derramávamos o líquido sobre a areia do terreno. Aquilo devia ser bastante nutritivo, mas era enjoativo, talvez pelo excesso de açúcar.

Isso, aproximadamente em torno de 1954. Dona Prisciliana era ainda da turma fundadora do Grupo e naquela função: apenas bater a sineta, puxando num cordão, para o recreio e para o final das aulas. Viera da fundação desde o ano de 1938. Foi ali onde fui vacinado contra a “Influenza”, pela primeira vez. Era uma equipe volante da Saúde e lembro bem apenas de um dos membros da equipe, o senhor José Chagas. A vacina era aplicada no braço com uma pena de escrever, tipo daquelas que se usava molhando a ponta de metal num tinteiro. O vacinador arranhava aquele troço na pele da gente e que deixava para sempre a cicatriz. As bancas compridas de madeira e ferro, cabiam dois alunos. Se não estiver enganado o recreio durava meia hora. A diversão para os meninos era brincar de pega, ximbra ou pinhão.

Não estudei no Grupo com minha mãe, que era um doce de pessoa, mas gostava muito da professora Maria de Lourdes Queiroz. O grupo finalmente foi reformado no início do Século XXI. Por ali passaram muitos alunos importantes que iriam se destacar dentro e fora de Alagoas em todas as áreas, inclusive um futuro governador. O Grupo Escolar Padre Francisco Correia, estar aniversariando com suas 86 velinhas, este ano. A mesma idade do prédio do Ginásio Santana, joias da coroa santanense.

Orgulho em ser Nordestino, alagoano sertanejo.

GRUPO POUCOS DIAS APÓS REFORMA. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 

 

 


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domingo, 20 de outubro de 2024

 

PADRE BULHÕES/CADEIA VELHA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 131



 

Vimos anteriormente que Santana do Ipanema era o maior município de Alagoas, até, aproximadamente, 1950. Pertenciam a ela as terras do atual município de Carneiros, com os sítios rurais, “Mundo Novo” e “Bom Consolo”, entre outros. Pois bem, certa feita, quando o padre Bulhões estava na Igreja, em Santana, observou do altar que um matuto entrara na igreja com um cigarro apagado no bico e de chapéu que não tirou da cabeça. Ficou observando de lá o movimento do povo que chegava para a missa do sábado dia de feira. Viu quando o matuto se aproximou de um dos altares onde havia uma vela acesa e tentava acender o seu “boró” (cigarro de fumo de rolo). Aproximou-se do matuto e indagou primeiro: “De onde é o amigo? “Do Mundo Novo”, respondeu o agricultor. O padre coçou a cabeça e rebateu: “Só sendo do Mundo Novo, porque no mundo velho de meu Deus, ninguém acende braço de Judas em vela de altar... “. (Cigarro de fumo de corda, também é chamado por aqui de “braço de Judas’.

Por outro lado, no tempo da chamada “Cadeia Velha”, na Rua Antônio Tavares, chegara a Santana uma guarnição sob o comando de um sargento brabo e ficara aquartelada na dita Cadeia Velha. Certo dia, ao passar por ali um cidadão tangendo uns burros, estalava o relho como rotina do seu ttrabalho. O sargento tomou o relho do condutor e, nervoso, disse que detestava estalos de relho e chegou a ameaçar com uma surra o cidadão. Ora! Logo cedo do outro dia, surgiu defronte à Cadeia Velha, um proprietário rural, estalando um relho diante da porta, passando para lá e para cá diversas vezes, propositadamente. Gritava na rua: “Cadê o sargento brabo daqui para vim tomar meu relho e me dá uma pisa! E se triscar num só cabelo do meu padrinho fulano, a desgraça tá feita! Eu sou Brasiliano do Bom Consolo, venha tomar meu relho agora, seu fio da peste!

Foi assim que Bom Consolo e Mundo Novo conseguiram registros na história de Santana do Ipanema. Atualmente, procurando o nome de uma comunidade rural dos Carneiros, descobri no mapa os nomes dos sítios citados acima: Mundo Novo e Bom Consolo. Aproveitei para contar os fatos aos meus queridos leitores. Entretanto, estou procurando onde ficam as comunidades Lagoa do Rancho e Santa Luzia, você sabe?

 

 

 

 


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