segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 

ROCHEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.137

 



O Nome “Rocheira”, vi pela primeira e única vez numa antiga visita a Penedo, Alagoas.  O local alto e rochoso é muito bonito e faz parte da belíssima história penedense, com ênfase para as lutas dos nossos brasileiros da região contra os invasores holandeses. Foi pena, na época de a visita não haver nenhum guia turístico ou pessoa especializada para contar o significado da Rocheira nos anais do seu passado. Foi ali na Rocheira onde pela primeira e também única vez, comi carne de jacaré em um daqueles restaurantes. Gostosa, mas oleosa e nunca mais provocativa para uma segunda tentativa. Mas não é só a Rocheira que atrai o turista brasileiro. Outras atrações estão espalhadas pelo primeiro núcleo habitacional de Alagoas.

E se estou falando disso agora, é por causa da louvável tentativa da prefeitura de bem iluminar o local para os passeios turísticos noturnos e o roubo imediato de luminárias ali deixadas, conforme site noticiosos. Meu amigo, minha amiga, hoje ninguém quer trabalhar e se apega a esse vício infame em roubar que não tem castigo que conserte peste de ladrão. Até estava comentando quando as prefeituras tinham vigias permanentes dos logradouros públicos. Mas, de algumas décadas para cá, é no máximo, uma tal de câmera que não dá em nada. Os vândalos continuam levando armas de vigias que raramente aparecem. E assim tudo isso faz lembrar o cantador repentista:

 

Tamo na segundo etapa

Do tempo do realismo

Vai chegando o comunismo

Desse aí ninguém, escapa

Atiraram até no Papa

Mas eu Delfim Neto não

Que falta faz Lampião

Pratirar em cabra ruim

Se não der fim a Delfim

Delfim dá fim a Nação.

 

Mesmo assim entre assaltos, descuidos e mortes, a humanidade continua fazendo turismo, tentando conhecer o mundo, independente dos perigos de cada dia. E Penedo, nas Alagoas, com jacaré, sem jacaré, com Rocheira, sem Rocheira, ainda é uma excelente opção

ROCHEIRA (FOTO: ASSESSORIA/DIVULGAÇÃO).

 

 

 

 

 


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domingo, 27 de outubro de 2024

 

POETAS ESQUECIDOS

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.136

 

Sim, conheci ambos os poetas. Zequinha gostava de vestir uma roupa de mescla (azulão). Era cego e sempre aparecia nas feiras dos sábados com o seu guia. Usava um ganzá de flandres para cantar os seus versos que quase sempre eram de pedir. O homem era uma cachoeira de rima e morava no sítio rural Travessão.  Cantava na feira e pedia, pedia e cantava de uma vez só pelo meio da multidão. Mão no ganzá, outra abanando perto do olho. Dele ficou esta estrofe quando um cidadão disse: “Perdoe Ceguinho”:

 

A bacia do perdoe

Deixei lá no Travessão

Só homem não sou menino

Todo ser é assassino

Só meu padre Ciço não.

 

Já Zezinho da Divisão (sítio rural na divisa Santana Carneiros) se dizia galego buchudo. Poeta também fecundo, gostava de tomar umas e cantar putaria quando se via apertado num duelo. Assim foi convidado para cantar com Zé de Almeida na casa de um cidadão, no Bairro Camoxinga, em Santana do Ipanema. A cantoria estava quente quando pediram um tema: “Mais sou melhor do que tu”. Zé de Almeida disse:

 

 

Sou um tipo sem futuro

Desses que não valem nada

Sou igual a uma levada

Lugar que só tem monturo

Sou um recanto de muro

Onde só tem cururu.

Sou igualmente um tatu

Dentro dum buraco fundo

Sou a desgraça do mundo

Mas sou melhor do que tu

 

Zezinho já estava cheio da cana e muito vermelho. Vendo tantos aplausos para o parceiro, disse:

 

Já perdi a cerimonha

Só ando cambaleando

Tem gente até me chamando

De fumador de maconha

Juntei-me com u’a sem-vergonha

Levei ponta pra chuchu

Foi corno em Caruaru

Fui viado em Maribondo

Mesmo soltando o redondo

Mas sou melhor do que tu.

 

O dono da casa expulsou os dois.

Nunca tivemos registro de nenhuma homenagem feita aos dois fantásticos poetas.

 

 

 


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