POETAS
ESQUECIDOS
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de
2024
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.136
Sim, conheci ambos os poetas. Zequinha gostava
de vestir uma roupa de mescla (azulão). Era cego e sempre aparecia nas feiras
dos sábados com o seu guia. Usava um ganzá de flandres para cantar os seus
versos que quase sempre eram de pedir. O homem era uma cachoeira de rima e
morava no sítio rural Travessão. Cantava
na feira e pedia, pedia e cantava de uma vez só pelo meio da multidão. Mão no ganzá,
outra abanando perto do olho. Dele ficou esta estrofe quando um cidadão disse:
“Perdoe Ceguinho”:
A bacia do perdoe
Deixei lá no Travessão
Só homem não sou menino
Todo ser é assassino
Só meu padre Ciço não.
Já Zezinho da Divisão (sítio rural na divisa
Santana Carneiros) se dizia galego buchudo. Poeta também fecundo, gostava de
tomar umas e cantar putaria quando se via apertado num duelo. Assim foi
convidado para cantar com Zé de Almeida na casa de um cidadão, no Bairro
Camoxinga, em Santana do Ipanema. A cantoria estava quente quando pediram um
tema: “Mais sou melhor do que tu”. Zé de Almeida disse:
Sou um tipo sem futuro
Desses que não valem nada
Sou igual a uma levada
Lugar que só tem monturo
Sou um recanto de muro
Onde só tem cururu.
Sou igualmente um tatu
Dentro dum buraco fundo
Sou a desgraça do mundo
Mas sou melhor do que tu
Zezinho já estava cheio da cana e muito
vermelho. Vendo tantos aplausos para o parceiro, disse:
Já perdi a cerimonha
Só ando cambaleando
Tem gente até me chamando
De fumador de maconha
Juntei-me com u’a sem-vergonha
Levei ponta pra chuchu
Foi corno em Caruaru
Fui viado em Maribondo
Mesmo soltando o redondo
Mas sou melhor do que tu.
O dono da casa expulsou os dois.
Nunca tivemos registro de nenhuma homenagem
feita aos dois fantásticos poetas.
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