QUEROBINO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.124
Os mais velhos falavam em Santana do Ipanema,
que o homem mais mentiroso da região era tal Querobino. Segundo uns poucos,
esse indivíduo teria trabalhado no DNER – Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem, Residência Santana. Mentia por lazer. Muito embora no meu tempo o
maior de todos era o Lulu Félix< mas deixemos o Lulu para um outro trabalho.
Pelo que contam, Querobino era mais ou menos como o Lulu, chegava de mansinho
nas rodas de conversa e terminava soltando as deles, muitas vezes a pedido da plateia
sequiosa. Lembro com clareza apenas uma das suas inúmeras mentiras soltas no
mundo. Certa vez fora caçar e ficara numa
espera aguardando bando de cardinheiras que iriam chegar à bebida. Naquele
momento teve a ideia de pegar muitas cardinheiras de uma vez. Dirigiu-se a um
lajeiro próximo e passou leite de jaca em toda a superfície do lajeado. Aguardou
até a hora certa quando as aves migratórias começaram a chegar e posarem no
lajeiro. Sentavam e ficavam grudadas. Quando ele viu que o lajeiro estava
repleto de aves presas., correu para lá com um saco. Mas... Qual não foi a surpresa! As cardinheiras, ao
pressentirem que seriam capturadas fizeram tanta força para se despregarem que
carregaram o lajeiro pelos ares.
O homem se tornou um personagem muito querido e
solicitado nas palestras entre amigos. Estava bastante famoso na região
sertaneja. E num tempo em que não havia televisão, as mentiras de Querobino
divertiam jovens e adultos que procuravam rir de graça.
Certa feita o homem se aproximou de uma roda
grande de pessoas que falavam de inúmeros assuntos sérios. Vendo Querobino
chegar tristonho e sem falar com ninguém, disseram: “Querobino, rapaz, que bom
você ter chegado, conte aí uma mentirinha”. E o homem com ares de tristeza: “Hoje
não posso, acabo de perder a minha mãe e estou fazendo uma vaquinha para o seu
enterro. Naquele momento a turma começou a lhe dá os pêsames, metendo a mão no
bolso e enchendo-lhe às mãos de dinheiro. Querobino agradeceu a todos e foi
saindo. Alguém se lembrou de perguntar com o homem já distante: “Querobino,
quando é o enterro? E ele:
“ Não sei! Vocês não me chamaram para contar
uma mentirinha!
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