SINUCA
E VIDA
Clerisvaldo b. Chagas, 30 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.138
O salão de sinuca ficava no “prédio do meio da
rua”, onde fora o armazém do senhor Marinho Rodrigues. Pertencia a Zé Galego,
ex-jogador do Ipanema. Ainda estudando na escolinha de dona Helena Oliveira na
Ponte do Padre, sentia grande atração por aquele melhor jogo que já provei na
vida. Tinha até um colega nosso, já homem feito, família dos Bigula, que vinha
a pé do sítio João Gomes para a escola e terminava sempre gazeando e indo parar
no salão de sinuca como apreciador e apostador. Havia muitos bons jogadores,
muitos nem dar para lembrar os nomes, mas o maior de todos para aplicar sinuca
era o chamado Nego Dézio, também ex-jogador do Ipanema. Para enfrenta-lo só
havia outro jogador que era o melhor em incestar. Portanto o duelo entre ambos
era casa cheia e tempo de espetáculo no salão de Zé Galego.
Mas ali também se aprendia sobre a vida. Havia
muitas reflexões como estas, tradicionais na sabedoria popular ou pensada na
hora. Quando um jogador ficava alegre por iniciar ganhando, o parceiro dizia em
voz baixa, resmungando: “Não existe Senhor do Bom Começo, somente Senhor do
Bonfim”. Quando um dos jogadores queria fazer várias jogadas ao mesmo tempo
incestando bolas e perdia uma dela, o parceiro dizia para a plateia: “Quem quer
muito traz de casa”. E ainda quando o
adversário tinha muita sorte, mesmo na adversidade, o outro jogador retrucava:
“Jumento carregado de açúcar, até o c... É doce”. Em qualquer ambiente onde estejamos, seja no
pior ou no melhor, aprendemos lições, chulas ou clássicas que nos servem de
orientações na vida.
Mas também havia pessoas amadoras excelentes na
sinuca, a quem chamávamos de ratos: Lembro de alguns deles: Tamanquinho, Remi,
Tonho Bié e Carlos Soares. Surgiu um rapaz pequeno de estatura que também era
rato profissional chamado Tonheiro. Havia outros profissionais como Desulica,
Branda e Vardo. Mas que pena, não lembro o nome do grande adversário de Dézio,
cujo nome é parecido com Maurício. Frequentei o lugar onde nunca presenciei nem
uma briga, nenhuma confusão, mas quando me bateu o desejo de jogar apostando
com os profissionais, senti a hora de me afastar para sempre de casa de jogo.
Seguia os caminhos do meu pai Manezinho Chagas.
Ao Senhor, toda honra e toda glória!
CENTRO DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS)
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