OS
JACARÉS DE FERNÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 1 DE novembro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.140
Nunca
tive aptidão para a Matemática, mas o professor não gostava de faltar. Vinha de
longe, lá de Fernão Velho, montado em moto da época ainda chamada Lambreta. Eu
sabia que Fernão Velho era um distrito de Maceió, queria conhecê-lo, mas as
circunstâncias não permitiam. E o professor Arnaldo, moreno, novo e sisudo,
ensinava bem, cumpria o seu dever, mas não era chegado a conversas particulares
com seus alunos. E difícil era pegar um professor bom em um colégio já em
decadência. Como seguir estudando numa turma para engenharia se eu não gostava
de Matemática? Terminei migrando do Colégio particular famoso para uma escola
do governo no CEPA, onde vi maravilhas e como funcionava bem o ensino público.
Em cada matéria dois professores competentes formando um Curso Médio seguro e
competitivo.
Década depois, cismei em conhecer Fernão Velho
e terminei chegando lá. Após um aclive enorme, pus os pés ali na beira da lagoa
e fiquei encantado com a beleza do lugar. Da antiga e famosa ‘Fábrica de
Tecidos Carmem”, restavam apenas as ruínas e que alguns moradores ali jogavam
dominó. O que mais admirei foi o cais na lagoa Mundaú. Uma maravilha, tanto o
cais quanto as suas imediações. Outras décadas após, retornei ali, até
desejando conhecer o frigorífico de jacarés que se tornara famoso e exportava o
bicho para o restante do Brasil. Mas, qual não foi a minha decepção. Encontrei
o lugar decadente, feio, desorganizado e sem nexo. Não existia o cais de
outrora nem lugar que eu pudesse me sentir bem. Voltei tão ligeiro quanto fui e
nunca mais quis saber e nem recomendar lugares de visita a ninguém.
Como nunca mais estive por ali. Não sei se o
meu professor de Matemática, Arnaldo, se formou em Engenharia como estava
querendo, se é vivo ou se já fez sua passagem. Espero também que a comunidade
pobre e pescadora de Fernão Velho, tenha encontrado um ou mais administradores
para devolver o progresso e a beleza que o distrito merece. De um lado as águas
da laguna Mundaú, do outro, parte importante da Floresta Tropical (Mata
Atlântica) dominando as encostas que levam a Maceió. Após a extinção da Fábrica
de Tecidos Carmen, não havia surgido nada em grande estilo que empregasse toda
a mão-de-obra local que congregava a fábrica. E assim, aquele tesouro que
muitos estados gostariam de possuir, talvez continue sofrendo por falta de
política pública.
BAIRRO FERNÃO VELHO
Nenhum comentário:
Postar um comentário