LAMPIÃO
E VINTE CINCO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de outubro de
2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.123
La
para os idos dos anos sessenta, surgiu um soldado de polícia em Santana do Ipanema.
Alto, forte, de casquete, era muito cabuloso e arrogante. Sua antipatia logo
correu fama pela cidade. Ao chegar ao baixo meretrício durante algumas horas da
noite exclamava para as donas de Bordéus, repletas de clientes: “Cinco Minutos
para fechar, cinco minutos”, dizia batendo às mãos. E por causa disso, o
soldado ganhou o apelido de “Cinco Minutos”. E “Cinco minutos”, saiu metendo
medo na população santanense. Não era que vivesse brigando, era impondo com
arrogância que causava constrangimento em qualquer cidadão. Certa feita, porém,
notou no Comércio um volume de arma soba a camisa de um cidadão e pareceu se
alegrar. “Vou lá agora, tomar sua arma”. Foi aí que alguém o advertiu: “Aquele
ali é Floro, o Vingador do Sertão, vai lá? O valentão Cinco-Minutos deu um
cavalo de pau e deve ter pensado: “A peste é quem vai!”.
XXX
Em Olho d’Água das Flores, o maluco vulgo “Vinte
e Cinco”, perambulava pelo Comércio fechado, naquele feriado nacional Lampião
chegara na surdina pelas imediações. Na sua espreita pelos arredores, notou que
um cidadão iria passar por ali e parecia ter vindo da cidade. Lampião saiu das
moitas, apresentou-se ao homem e indagou educadamente: “Bom dia, meu amigo. Vem
da rua? ”. “Venho sim senhor”. “Tem
muitos soldados lá?” “Não senhor, na rua
só tem Vinte e Cinco”. Lampião agradeceu, dispensou o homem, voltou-se para seu
Estado Maior e disse: “Hoje dá certo não, atacar Ôi d’Água das Fulô. Nós só
samo 15 e lá tem vinte e cinco” E assim a vila de Olho d’Água foi salva sem
saber, pelo doido Vinte e Cinco. Uns cabras olhodaguenses me contavam isso sob
uma árvore na Rua Central daquela cidade, e gargalhavam de cair de costas.
No caso de cima, reflita com a sabedoria do
povo nordestino: “Remédio para um doido, é doido e meio “. E no caso de baixo,
ninguém é imprestável no mundo. Pois, um doido sem saber salvara uma vila
inteira da sanha endiabrada de Lampião.
Em Santana do Ipanema, o ébrio incorrigível “Coleta”,
tinha um medo horrível do delegado civil Izaías Rego. Com o seu chapéu de palha
quebrado lateralmente, exclamava ao se deparar com a autoridade: “Aves Maria,
Seu Izaías! “. A frase de Coleta
tornou-se moda geral em ditado popular.
Nem Cinco Minutos, nem Lampião: Ave Maria, Seu
Izaías!
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