terça-feira, 29 de outubro de 2024

SINUCA E VIDA

Clerisvaldo b. Chagas, 30 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.138




 

O salão de sinuca ficava no “prédio do meio da rua”, onde fora o armazém do senhor Marinho Rodrigues. Pertencia a Zé Galego, ex-jogador do Ipanema. Ainda estudando na escolinha de dona Helena Oliveira na Ponte do Padre, sentia grande atração por aquele melhor jogo que já provei na vida. Tinha até um colega nosso, já homem feito, família dos Bigula, que vinha a pé do sítio João Gomes para a escola e terminava sempre gazeando e indo parar no salão de sinuca como apreciador e apostador. Havia muitos bons jogadores, muitos nem dar para lembrar os nomes, mas o maior de todos para aplicar sinuca era o chamado Nego Dézio, também ex-jogador do Ipanema. Para enfrenta-lo só havia outro jogador que era o melhor em incestar. Portanto o duelo entre ambos era casa cheia e tempo de espetáculo no salão de Zé Galego.

Mas ali também se aprendia sobre a vida. Havia muitas reflexões como estas, tradicionais na sabedoria popular ou pensada na hora. Quando um jogador ficava alegre por iniciar ganhando, o parceiro dizia em voz baixa, resmungando: “Não existe Senhor do Bom Começo, somente Senhor do Bonfim”. Quando um dos jogadores queria fazer várias jogadas ao mesmo tempo incestando bolas e perdia uma dela, o parceiro dizia para a plateia: “Quem quer muito traz de casa”.  E ainda quando o adversário tinha muita sorte, mesmo na adversidade, o outro jogador retrucava: “Jumento carregado de açúcar, até o c... É doce”.  Em qualquer ambiente onde estejamos, seja no pior ou no melhor, aprendemos lições, chulas ou clássicas que nos servem de orientações na vida.

Mas também havia pessoas amadoras excelentes na sinuca, a quem chamávamos de ratos: Lembro de alguns deles: Tamanquinho, Remi, Tonho Bié e Carlos Soares. Surgiu um rapaz pequeno de estatura que também era rato profissional chamado Tonheiro. Havia outros profissionais como Desulica, Branda e Vardo. Mas que pena, não lembro o nome do grande adversário de Dézio, cujo nome é parecido com Maurício. Frequentei o lugar onde nunca presenciei nem uma briga, nenhuma confusão, mas quando me bateu o desejo de jogar apostando com os profissionais, senti a hora de me afastar para sempre de casa de jogo. Seguia os caminhos do meu pai Manezinho Chagas.

Ao Senhor, toda honra e toda glória!

CENTRO DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS)



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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 

ROCHEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.137

 



O Nome “Rocheira”, vi pela primeira e única vez numa antiga visita a Penedo, Alagoas.  O local alto e rochoso é muito bonito e faz parte da belíssima história penedense, com ênfase para as lutas dos nossos brasileiros da região contra os invasores holandeses. Foi pena, na época de a visita não haver nenhum guia turístico ou pessoa especializada para contar o significado da Rocheira nos anais do seu passado. Foi ali na Rocheira onde pela primeira e também única vez, comi carne de jacaré em um daqueles restaurantes. Gostosa, mas oleosa e nunca mais provocativa para uma segunda tentativa. Mas não é só a Rocheira que atrai o turista brasileiro. Outras atrações estão espalhadas pelo primeiro núcleo habitacional de Alagoas.

E se estou falando disso agora, é por causa da louvável tentativa da prefeitura de bem iluminar o local para os passeios turísticos noturnos e o roubo imediato de luminárias ali deixadas, conforme site noticiosos. Meu amigo, minha amiga, hoje ninguém quer trabalhar e se apega a esse vício infame em roubar que não tem castigo que conserte peste de ladrão. Até estava comentando quando as prefeituras tinham vigias permanentes dos logradouros públicos. Mas, de algumas décadas para cá, é no máximo, uma tal de câmera que não dá em nada. Os vândalos continuam levando armas de vigias que raramente aparecem. E assim tudo isso faz lembrar o cantador repentista:

 

Tamo na segundo etapa

Do tempo do realismo

Vai chegando o comunismo

Desse aí ninguém, escapa

Atiraram até no Papa

Mas eu Delfim Neto não

Que falta faz Lampião

Pratirar em cabra ruim

Se não der fim a Delfim

Delfim dá fim a Nação.

 

Mesmo assim entre assaltos, descuidos e mortes, a humanidade continua fazendo turismo, tentando conhecer o mundo, independente dos perigos de cada dia. E Penedo, nas Alagoas, com jacaré, sem jacaré, com Rocheira, sem Rocheira, ainda é uma excelente opção

ROCHEIRA (FOTO: ASSESSORIA/DIVULGAÇÃO).

 

 

 

 

 


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