quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

DICIONÁRIO DA CANTORIA



DICIONÁRIO DA CANTORIA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1109
FOTO RARA E ÚNICA. CLERISVALDO E ZÉ DE ALMEIDA CANTAM PARA OS VELHINHOS COM APRESENTAÇÃO DE JOSÉ PINTO DE ARAÚJO, NA IGREJA MATRIZ DE SENHORA SANTANA.

1.   Cantoria, peleja – Duelo de estrofes realizado entre dois cantadores violeiros-repentistas do Nordeste;
2.   Cantoria de pé de parede – Cantoria tradicional realizada em casa de família, principalmente em casa de fazenda e não em salões, festivais, congressos e semelhantes;
3.   Baionada  - Cada uma das fases  em que se divide a cantoria, após pequeno descanso dos cantadores;
4.   Emborcar a viola – Parada súbita da baionada, por um dos cantadores, ao escutar uma estrofe criativa e rara do parceiro e que ele não tem condições de “pagá-la”, no momento;
5.   Pagar o verso (estrofe) – Fazer uma estrofe tão excelente e rara quanto à do companheiro;
6.   Cantar elogio – Hora de elogiar as pessoas para arrecadar dinheiro;
7.   Baião de viola – Musical retirado das cordas da viola, enquanto os poetas pensam o que vão dizer;
8.   Deixa – rima obrigatória que o vate tem que fazer ao iniciar sua estrofe rimando seu primeiro verso com o último deixado pelo parceiro;
9.   Balaio – defeito grave em que o cantador, ao invés de cantar repentes como o parceiro, tentar burlar a plateia com versos decorados – cantar balaio;
10.          Repente – Estrofe criada na hora;
11.          Sextilha – Estrofe composta por seis versos, base da cantoria;
12.          Estrofe – Conjunto de versos de quantidade variável. Cada linha é um verso;
13.          Tema, mote – Um ou dois versos fixos para serem repetidos ao final de uma estrofe com dez pés (linhas, versos);
14.          Gênero – Cada uma das mais de 40 modalidades de estrofes usadas em cantoria, com musicalidades próprias. Exemplos: sextilhas, sétimas, martelo agalopado, martelo alagoano, martelo miudinho, mourão de sete linhas, mourão, oitavão rebatido, gemedeira, galope beira-mar, mourão perguntado e tantas outras.



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PRA CIMA CHOVE?



PRA CIMA CHOVE?
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1108

Nas anedotas do sertão nordestino, têm casos em que o cabra realmente morre de ri. E pegando a comicidade de frase de um caso longo, o sertanejo fora da terra costuma perguntar ao conterrâneo que chega: Lá pra cima chove? Esse lá pra cima se refere à altitude do sertão vista do litoral. Traduzindo tudo: No sertão estar chovendo?
Saindo de Santana do Ipanema e contando os velhos chavões para os da capital, sobre a seca braba, vamos repetindo: Vaca dá leite em pó e as galinhas estão comendo pipoca. As donas de casa jogam o milho no terreiro e antes que ele caía ao chão, vira pipoca devido à temperatura. Por trás da parte cômica, preocupação com o   gado, à pastagem, à morte dos animais. Vemos as usinas produzindo e armazenando bagaço de cana para vender aos sertanejos. A preocupação aumenta pela falta d’água nas torneiras do interior e, o céu azul e liso não traz esperanças nenhuma. Mas eis que à noitinha na varanda do apartamento, sobe uma lua danada de bonita. Lá longe ainda em direção nordeste, o relâmpago dá sinal de vida. Esfrego os olhos sem acreditar. Serão apenas reflexos dos faróis da noite! Procuro em vão um matuto igual ao mim para ansioso perguntar à moda tão distante: Pra cima chove?
No outro dia embarco para a minha terra e a pergunta da noite anterior vai confortando a alma. Estar chovendo muito em Santana do Ipanema. Toró brabo, diz um sujeito, após ouvir o celular. E o tempo nublado da capital até Dois Riachos vai fechando, fechando, e, o carro com ar ligado e a chuva gradativamente forte vai dando aspecto de inverno ao sertão de meu Deus! Nuvens pesadas pairam sobre as serras da Lagoa, Gugi, Macacos... Velhas conhecidas nossas. A Rainha do Sertão e todo o município confirmam as informações e a meteorologia. É muita água dos céus, meu camarada! Dessa vez o Bairro Lagoa do Junco, formou de fato uma lagoa à beira da BR-316, parte de cima escorrendo sobre a pista.
Pronto! A vaca não vai mais produzir leite em pó. As galinhas deixarão de comer pipoca apressada e eu não mais precisarei perguntar aos velhos conterrâneos: Lá PRA CIMA CHOVE?  


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