quinta-feira, 21 de março de 2019

AINDA SE FABRICA CALENDÁRIO

AINDA SE FABRICA CALENDÁRIO
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de março de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.077

FOTO: B. CHAGAS.
O tempo passa rápido por conta do mundo tecnológico. E Assim como o aparelho eletrônico, também muda o modelo da cueca, embora o costume da nudez seja de forma crescente. Mas você já usufruiu ou ouviu falar dos brindes de final de ano que recebíamos das casas comerciais. Havia vários tipos de ofertas para agradar o cliente: um pouco a mais da mercadoria, um chaveiro, um calendário de parede (folhinha) ou um calendário de bolso. Padarias, farmácias e armazéns, principalmente, nunca deixaram de presentear a freguesia. Havia ainda a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, esta vendida pela Igreja Católica. Retirava-se uma folha por dia cujo verso trazia uma universidade de informações.
Lembro-me bem de que a Farmácia Vera Cruz – uma das mais antigas de Santana do Ipanema – nunca deixou essa prática agradável e salutar. O seu proprietário, o saudoso professor Alberto Nepomuceno Agra, também costumava oferecer almanaque com meio mundo de conhecimentos: piadas, fases da lua, época de plantio, curiosidades e muito mais. Esse costume foi sendo reduzido, parece-me, que pelos preços abusivos das gráficas. Em casa estampávamos na parede os doze meses do ano com a propaganda da casa comercial. Quanto às estampas, havia de todo tipo. As sensuais eram mais usadas em lugares como barbearias e oficinas de automóveis. Nada melhor do que realizar consulta na hora sobre a data que se queria.
Pois bem, a prática desse tipo de brinde ainda continua na praça. Fico muito feliz quando recebo a folhinha. Em Maceió recebemos uma de um açougue. Em Santana, de uma farmácia. Nem precisa esse negócio de celular, gente, basta levantar a cabeça e acusar o dia de São José. E para provar que isso ainda existe, fiz esse artigo com foto de pães na hora. Vamos marcando o valor da tradição na utilidade e beleza do que o matuto chama de bloco. Já o calendário de bolso foi parar direto no celular, nunca mais o vi no papel laminado das gráficas. A Farmácia Vera Cruz mudou de dono e eu nem sei se o novo distribui almanaque “veracruziano”.
Obrigado, amigo, pela folhinha.



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terça-feira, 19 de março de 2019

A PEDRA ESQUECIDA DO RIO IPANEMA

A PEDRA ESQUECIDA DO RIO IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2019
Escritor Símbolo de Santana do Ipanema
Crônica: 2.076

RIO  IPANEMA. (FOTO: B.  CHAGAS).
Não é somente o saudosismo, mas parte da história da cidade que vai formando um todo nas narrações do mundo. E os segredos, pequenos episódios, as peculiaridades encantam a alma de poetas, artesãos... Escritores. O simples se agiganta aos olhos do escolhido que avalia a grandeza na pequenez das coisas. Desse modo revolve-se jardim adormecido, invisível, machucado, onde os soberbos não enxergam. Apenas os simples, mesmo dentro da grandeza, são os escolhidos para divulgação das coisas do Criador. E se Deus “enxerga a formiga preta, na pedra negra, na noite escura”, os seus artistas do povo, não enxergam a formiga, mas aprenderam a enxergar a pedra negra na noite preta. Só eles, só os convidados pelo mestre maior podem.
No trecho urbano de Santana do Ipanema, uma pedra em forma de cururu, marcava a intensidade das cheias do rio. À margem direita da corrente, a rocha denominada por nós de “pedra do sapo”, anunciava cheia grande quando ficava totalmente coberta pela água. A graduação distribuía-se com o líquido chegando perto, lambendo a base, subindo até a metade, perto do cocuruto ou distante da pedra. Claro que torcíamos pela cheia total que nos causava espanto, medo e êxtase. Ah... Nunca mais o rio Ipanema botou cheia de respeito. Mas a pedra do sapo saiu de cena duas vezes para ser apenas um marco esquecido, um monumento ao rio sem espectador. E se as grandes cheias são apenas lembranças, a pedra não encontra motivo para ser admirada.
Mas naquele cimo, entre três e quatro metros de altura, foi construído pequeno oratório com escadaria de concreto. Imaginação do “manganheiro” Zé Preto, promessa cristã baseada na fé. Não demorou muito o oratório a ser profanado e destruído pelos vândalos. E o homem que vendia “mangaio” (bugingangas) no chão das feiras, nada pode fazer em defesa do seu pequeno monte santo. O rio Ipanema com raiva não botou mais cheias. Finalmente, passando por ali com alguns companheiros, subimos a rocha, registramos a cena e tivemos trabalho para não tocar à pedra com lágrimas santanenses.
É duro vê...
Vê a pedra esquecida do rio Ipanema.



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