quinta-feira, 30 de abril de 2020

A MODA E A CRIATIVIDADE


A MODA E A CRIATIVIDADE
Clerisvaldo B. Chagas, 1 de maio de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.204
Extração de areia e rodas de pneus, ontem de 40 anos e hoje.
 (Foto: B. Chagas).

Muitas cidades mineiras orgulham-se dos seus ciclos históricos e conservam entre outras coisas, o calçamento bruto dos tempos de vila. Algumas nem permitem mais circulação de veículos por esses patrimônios compostos por edifícios e pedras antigas. Em Santana do Ipanema, Alagoas, a vila também ganhou calçamento bruto em toda a área do comércio, inclusive a Avenida principal Coronel Lucena. Era sim um orgulho santanense para uma vila que agia como cidade e ganhara pavimento moderno para a época. Mais alguém de fora sempre comparava a ignorância de “A” ou de “B” com o calçamento bruto de Santana do Ipanema. No governo municipal do senhor Ulisses Silva, foram demolidos os prédios antigos do comércio e arrancado o calçamento bruto da cidade. As pedras foram substituídas por paralelepípedos, pedras quadriculadas de granito apontadas como mais modernas.
Daí em diante as centenas de carros de boi de roda com aro de ferro, ficaram proibidos de circularem no calçamento novo. As cargas que o carro de boi pegava no próprio armazém e levava para a zona rural, ficaram então sendo transportadas de outra maneira dos armazéns para as areias do rio Ipanema, ponto de estacionamento dos carros de pau. O transporte de areia do rio em carro de boi também teve que ser adaptado. (toda Santana foi construída com areia do Panema). Diante disso, surgiu a nova moda para o carro de boi urbano. As rodas de madeira com aro de ferro, foram trocadas por pneus e seus acessórios no eixo. Assim o carreiro pode continuar seu trabalho rua acima, rua abaixo sobre o calçamento novo do prefeito Ulisses.
Aproveitando a transformação, os carroceiros passaram a imitar os carreiros. As carroças puxadas por burras, também foram adaptadas e as rodas que eram de outra modalidade, passaram a se apresentar com pneus de automóveis. Com pneus ou sem pneus  não parou a extração mineral no rio Ipanema. Mesmo agora em 2020 o seu leito é tremendamente explorado sem nenhuma restrição. Teve gente até que já se apoderou da imensa fatia do rio, extrai e vende o que é de todos os santanenses.
Vergonha!

                                                                                                     


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quarta-feira, 29 de abril de 2020

LATA NA CABEÇA


LATA NA CABEÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.303
FOTO RARÍSSIMA (B. CHAGAS).

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, mesmo que essa imagem tenha seus defeitos relativos ao tempo. Mas uma fotografia faz reviver aos mais velhos e refletir os mais novos. Representa sempre um testemunho inconteste de um passado, de uma situação e mesmo de uma dor. E quando se trata da história, da sociologia, da geografia santanense, sempre fica preso na garganta um ranço de nostalgia por alguns segundos ou por vários minutos. Os abnegados pesquisadores parecem sentir com maior intensidade os apertos emocionais das suas descobertas. E aquilo que não é mais possível acontecer, continua acontecendo na foto hibernosa do baú. Rever foto antiga é suspirar, reviver, lacrimar, esvanecer... Vamos fazer a leitura da foto abaixo:
1.   Voltemos ao passado em torno de 60 anos. 2. Santana sem água encanada. 3. Toda água de consumo vem das cacimbas arenosas do rio Ipanema. 4. Foto do trecho urbano do rio no local chamado Poço do Juá. 5. Leito seco do rio com alguns poços. 6. Vejamos o mundo de areia grossa no primeiro plano. 7. Duas mulheres e duas adolescentes apanham água das cacimbas invisíveis.  Lata e baldes são utilizadas. 8. Fundo médio: pessoas em outras atividades. 9. Terceiro plano, fundos de residências no início do Bairro da Floresta; parte ainda não habitada na barranca do Panema. 10. Mussabês no rio, coqueiros nos quintais. 11. Céu azul de verão. 12. Trajes humildes das pessoas. Foto raríssima do histórico santanense. 13. Faina diária das mulheres ribeirinhas do passado.
É esse o rio que sempre matou a sede do seu povo e alimentou a sua gente. Deu água, deu peixe, deu pasto, deu cura para os males, deu lazer, barro para seus telhados, areia para suas construções, juncos para seus colchões, esconderijos para os casais clandestinos, madeira para seus móveis, para seus carros de boi, monturos para seus descartes.
É esse o rio pai e mãe que tentam matá-lo em retribuição. Obstruem o seu caminho. Não querem deixá-lo escorrer. Mas o velho Panema ainda resiste e não pode faltar ao São Francisco onde se mistura e formam um só.
“Agua corrente, água corrente, teu destino é igual ao destino da gente”






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