segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

 

ZERO CARNAVAL

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.667


 

A proibição de Carnaval este ano, pareceu uma justa homenagem às vítimas de Covid no Brasil e às vítimas da invasão na Ucrânia. Mas, independentemente disso, o que encontramos em Santana do Ipanema nestes dias de folia foram ruas desertas e pequenos grupos de pessoas, esporadicamente bebendo defronte às suas residências.  Um silêncio absoluto nas avenidas semelhante aos antigos dias de finados. Para quem gosta de Carnaval em Santana, deve haver ainda a recordação de um homem que brincava o Carnaval sozinho. Chamava atenção porque além de ter sido interventor, era comerciante e fazendeiro. Nunca participava de bloco algum. Com apenas uma dessas máscaras finas e simples compradas em lojas, perambulava rua acima, rua abaixo, sem nenhum outro aparato, fora a máscara fina, que pudesse disfarçá-lo.

Firmino Falcão Filho, o seu Nouzinho, na época, proprietário da Sorveteria Pinguim, parecia antecipar o presente Carnaval da COVID 19. Um Carnaval solitário, pessoal, intimamente ligado as entranhas do eterno brincante. Se o prezado leitor quer saber sobre aquelas turmas de santanenses que deixavam Santana em direção a Pão de Açúcar ou Piranhas, não sabemos responder. O Carnaval está proibido em Alagoas confirmado por vários municípios. Seria um correr sem graça para outros lugares. Assim os que não pulam no reinado de Momo, repetem a mesma cena de outros tampos, sentam na esquina do antigo Hotel Central, em pleno Comércio, para apreciarem bandos e blocos que não passam mais. Restam apenas as fofocas que não são exclusividade das mulheres.

Saudade dos homens:

 

Você pensa que cachaça é água

Cachaça não é água, não

Cachaça vem do alambique

E água vem do ribeirão.

 

Paródia das mulheres:

 

Você pensa que babado é bico

Babado não é bico, não

Babado se bota em vestido

E bico em combinação...

 

Tempos de incertezas e melancolia.

Só Deus na causa.

CARNAVAL EM SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 


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domingo, 27 de fevereiro de 2022

 

NA PERIFERIA DA HISTÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de fevereiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.663


 

Histórias que os mais velhos contavam. O prefeito de Santana do Ipanema, em 1926, era o comerciante Benedito Melo, que tem nome de rua e que também é chamada Rua Nova até os dias de hoje. Benedito era comerciante e conhecido como Beneguinho. Sua gestão ficou marcada pela incursão do bandido Lampião no município e pela formação de barricadas civis e militares diante de  uma iminente invasão à sede municipal. Naquela ocasião estava tendo uma crise de asma, mas com a ajuda de homens resolutos conseguiu formar a resistência, com pelo menos a metade de homens em relação ao bando de Virgulino. O tão famoso padre Bulhões engajou-se na defesa e descobriu pessoalmente muitos rifles entre seus amigos.

O comerciante, segundo contam, tinha o hábito de sentar à porta do estabelecimento em palestra com os seus. Gostava de esgaravatar as unhas com um canivete e quando passava uma senhorita não perdia à vez. Indagava quem era a moça. Respondida a pergunta, o homem juntava o polegar ao indicador e tornava a indagar: “Fala francês?”. Era uma clara alusão à riqueza ou não da moça transeunte. Quem abriu à Rua Nova, não sabemos, porém, que a denominou Rua Benedito Melo, foi o, então, prefeito interventor, Firmino Falcão Filho, o Seu Nouzinho, o mesmo que construiu a Ponte Cônego Bulhões (Ponte do Padre). Nouzinho, a pedido, deixou a inauguração da ponte para o próximo gestor, ano seguinte, Coronel Lucena, eleito pelo voto direto com o nome de prefeito.

E como estamos em pleno Carnaval, tivemos na década de vinte registros de bons Carnavais em Santana do Ipanema. Havia um acolhimento grande de blocos nas residências de pessoas extremamente influentes como o padre Bulhões e o Coronel Manoel Rodrigues da Rocha – este, um pouco antes da década de vinte. Detalhes são contados e, a conclusão é que tanto era bom o Carnaval de rua quanto o de salão. Essas tradições da época vila/cidade, continuaram por inúmeras décadas, fazendo de Santana uma espécie de Central dos Foliões. Nos últimos tempos, porém, houve um arrefecimento nas brincadeiras de Momo, a ponto de os brincantes deixarem a cidade em busca das folias do São Francisco como Pão de Açúcar e Piranhas.

SANTANA ANOS 60 (FOTO LIVRO 230/DOMÍNIO PÚBLICO).

 


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