quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

 

SÃO BENEDITO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.019

 



Nunca faltou tinta no mundo, mas a Igreja de São Benedito, em Maceió, sempre foi escura e nem sabemos por que. Situada ali no Comércio, defronte a, então, Secretaria de Educação, imediações da Praça Deodoro, sempre teve aquele aspecto de esquecida e discreta. Ali passei inúmeras vezes nas minhas andanças pela capital. Foi onde faleceu o ex-dirigente de Santana do Ipanema, ainda no tempo de vila, padre Capitulino, filho de Piaçabuçu, pároco de Santana, depois dirigente, substituto interino do governador Fernandes Lima, por alguns meses. Na época da vila quem mandava era a família Gonzaga, quando a irmã do padre casou com um deles. Padre Capitulino, terminou substituindo os Gonzaga, na política e fazia as duas funções em Santana do Ipanema.

Dividido pela opinião pública por ser um padre politiqueiro, estava quase sempre ausente do município. Foi ele que no ano de 1900, realizou a primeira reforma da Igreja de Senhora Santana. Com o governador afastado por problemas de saúde, Capitulino assumiu o cargo e que aproveitou para elevar à condição de cidade, a vila de Santana do Ipanema. Depois se dedicou somente à carreira sacerdotal e veio a falecer na igreja de São Benedito. Fora um ataque fulminante de coração, quando se preparava para celebrar a missa. Sua visita à Santana do Ipanema, como governador, é registrada no livro de cônicas do brilhante escritor santanense, Oscar Silva, “Fruta de Palma”.

Mas voltando a igreja de São Benedito e que tem sua marca na história santanense. Quando as igrejas pararam de receber defuntos, somente foi permitido receber cadáveres naquele templo. E na observação do início, sempre nos deparamos com aquela igreja escura por fora e por dentro, apesar da sua localização privilegiada na capital.  Acho que chegamos a um ponto em que havia muitas igrejas, poucos padres e verbas escassas, problemas esses que também notamos em nossa região. Porém, a Igreja de São Benedito, ali nas proximidades da Praça Deodoro, continua resistindo. E apesar de ser uma igreja discreta, somente notada por que já a conhece, é aberta a todos os devotos do santo e a todos aqueles que dela sempre precisaram para suas orações diárias ou visitas esporádicas de robustecimento da fé.

IGREJA DE SÃO BENEDITO EM MACEIÓ (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

 


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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

EU VI O POÇO

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.019

 


Fui ao Bairro Domingos Acácio – o herói da Guerra do Paraguai – e fiz questão de dá uma espiadinha no antigo Poço dos Homens. Poço do rio Ipanema, imortalizado pelos meus escritos, especialmente no livro RG de Santana “Ipanema, Um Rio Macho”. A ponte General Batista Tubino, construída em 1969, foi o golpe final no poço da minha infância e dos meus antepassados. Todos os jovens e adultos da minha terra tomaram banho do Poço dos Homens, inclusive, até o, então, futuro governador Geraldo Bulhões. Poço dos Homens foi a página mais saudosa que escrevi na vida e que está registrada no livro acima. Mas quando espiei de cima da ponte, por estes dias, vi o mato aquático por cima do aterramento natural e do abandono. Doeu fundo ao vê a maior fonte de lazer de outrora da minha terra naquela ridícula e humilhante situação. Nem sequer, por cima das suas pedras grandes e lisas, um monumento de ferro ao banhista, como daqueles que o artesão Roninho Ribeiro sabe fazer.

Vem à memória o comerciante Júlio Silva e seu dente de ouro, o único homem que vi tomando banho de sabonete no Poço; Seu Alberto Agra, dando lição ao negro Zé Lima dizendo que o nome do que ele estava imitando na água não era microscópio e sim, periscópio; a adolescente Nicinha, nadando igual à piaba e seu irmão Gorila, dando sucessivas sapatadas na superfície, sem mostrar o rosto imerso. Os maldosos passando “tamiarana” nas costas dos companheiros. Toinho Baterista, pescando mandim; O alfaiate Seu Quinca, sem dá sorte de pesca para ninguém; As andorinhas revoando e molhando o peito nas águas, e indo à pousada na torre da Igreja; e o maior cantor da minha terra Cícero de Mariquinha mexendo na alma da gente cantando em dia frio e nublado, músicas de Cauby Peixoto:

Deu para entender agora o que senti ao olhar da Ponte General Batista Tubino, o poço sepultado a cerca de 20 metros da ponte, rio abaixo? Não tiveram piedade em deixarem pelo menos uma cruz, onde jaz o Poço dos Homens, isto é, um monumento, por mais simples que fosse! Acho que irei fazer uma campanha para tal fim, mas nem sei por onde e nem com quem contar.

POÇO DOS HOMENS NO PRIMEIRO PLANO. IMAGEM VISTA DA PONTE GENERAL BATISTA TUBINO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 




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