quinta-feira, 31 de outubro de 2024

 

OS JACARÉS DE FERNÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 DE novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.140



 

 Nunca tive aptidão para a Matemática, mas o professor não gostava de faltar. Vinha de longe, lá de Fernão Velho, montado em moto da época ainda chamada Lambreta. Eu sabia que Fernão Velho era um distrito de Maceió, queria conhecê-lo, mas as circunstâncias não permitiam. E o professor Arnaldo, moreno, novo e sisudo, ensinava bem, cumpria o seu dever, mas não era chegado a conversas particulares com seus alunos. E difícil era pegar um professor bom em um colégio já em decadência. Como seguir estudando numa turma para engenharia se eu não gostava de Matemática? Terminei migrando do Colégio particular famoso para uma escola do governo no CEPA, onde vi maravilhas e como funcionava bem o ensino público. Em cada matéria dois professores competentes formando um Curso Médio seguro e competitivo.

Década depois, cismei em conhecer Fernão Velho e terminei chegando lá. Após um aclive enorme, pus os pés ali na beira da lagoa e fiquei encantado com a beleza do lugar. Da antiga e famosa ‘Fábrica de Tecidos Carmem”, restavam apenas as ruínas e que alguns moradores ali jogavam dominó. O que mais admirei foi o cais na lagoa Mundaú. Uma maravilha, tanto o cais quanto as suas imediações. Outras décadas após, retornei ali, até desejando conhecer o frigorífico de jacarés que se tornara famoso e exportava o bicho para o restante do Brasil. Mas, qual não foi a minha decepção. Encontrei o lugar decadente, feio, desorganizado e sem nexo. Não existia o cais de outrora nem lugar que eu pudesse me sentir bem. Voltei tão ligeiro quanto fui e nunca mais quis saber e nem recomendar lugares de visita a ninguém.

Como nunca mais estive por ali. Não sei se o meu professor de Matemática, Arnaldo, se formou em Engenharia como estava querendo, se é vivo ou se já fez sua passagem. Espero também que a comunidade pobre e pescadora de Fernão Velho, tenha encontrado um ou mais administradores para devolver o progresso e a beleza que o distrito merece. De um lado as águas da laguna Mundaú, do outro, parte importante da Floresta Tropical (Mata Atlântica) dominando as encostas que levam a Maceió. Após a extinção da Fábrica de Tecidos Carmen, não havia surgido nada em grande estilo que empregasse toda a mão-de-obra local que congregava a fábrica. E assim, aquele tesouro que muitos estados gostariam de possuir, talvez continue sofrendo por falta de política pública.

BAIRRO FERNÃO VELHO

 

 

 


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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

 

SERTÃO ORNAMENTAL

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.139

 



A história se repete no Sertão quando se aproxima o Natal, descrito tantas vezes neste espaço. Quase todas as árvores sertanejas prestam tributo ao Criador dos Mundos.  Árbustos, cactáceas, árvores, arvoretas e gramíneas enfeitam parte do sertão diante dos olhos dos animais selvagens, domésticos e do ser humano. É o mandacaru, o facheiro, a coroa-de-frade, a favela, o alastrado o rabo-de-raposa, as margaridas do campo, o pereiro, o jasmim, a craibeira... E vamos nos deleitando com as variadas flores que surgem isolada ou não nas trilhas, nas veredas, nos caminhos, nas baixadas, nos cocurutos dos serrotes, nas beiras das lagoas. Em muitas dessas vezes nos sentimos pequenos, mínimos, sumidos, diante da grandeza da flora e sua homenagem ao Senhor Jesus e às suas criaturas.

E vamos terminando o mês de outubro numa primavera típica: dias ensolarados e quentes, noites úmidas e ventos frios nos conduzindo para novembro que às vezes nos brinda com trovoadas, primeiras. E como não temos mar, vamos marcando presença nos açudes, nas represas, nas praias do “Velho Chico” em Piranhas, Pão de Açúcar e se aventurando para as bandas de Belo Monte, Olho d’Água do Casado, Delmiro Gouveia...  Novembro, o mês tradicional dos ventos por aqui, há muito os antecipou e ainda continuamos vivendo essa realidade.  E se as matas, no geral ficam crestadas, pontos isolados da caatinga destacam-se com seus preciosos ornamentos ao viajor de olhares perscrutadores.

É por isso que também na paisagem urbana, vamos nos surpreendendo com as maquiagens das nossas damas representativas como a craibeira que surge por cima dos quintais nos pátios de escolas tais como A Francisco Correia e a antiga Helena Braga, já tem adolescente com mais de 15 metros de altura. Lançar um olhar de aprendizado aos vegetais neste período é prazeroso e cultural onde aprendemos com a Natureza a resistir, a acreditar, a ornar a alma e fortificar as virtudes. A aproximação do final de ano é mais um motivo de reflexão, na igreja, no quarto, na varanda, no alpendre, na rede...  Pois, como nos foi ensinado no catecismo da Igreja Matriz de Senhora Santana: “Deus está aqui, aqui, aqui, ali, em todos os lugares”, mas você é quem decide se quer se encontrar com Ele.

CRAIBEIRA NA ANTIGA ESCOLA HELENA BRAGA. FILHA AO LADO QUERENDO FLORAR. (FOTO: B. CHAGAS).


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