MOVIMENTOS DE CULTURA (Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2010) Os amantes da cultura em nossa Santana, nunca tiveram um lugar natural ...

MOVIMENTOS DE CULTURA

MOVIMENTOS DE CULTURA
(Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2010)
Os amantes da cultura em nossa Santana, nunca tiveram um lugar natural de reunião, como a Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro ou o Café Central de Maceió. Após tentativas intercaladas por décadas, eu, o Marcelo Almeida, juntamente com outros admiradores das letras e das artes, fundamos a Academia Interiorana de Letras. Não se pode dizer (e essa é uma das raras vezes) que o poder público não quis ajudar. Contávamos com o apoio do prefeito Dr. Marcos Davi e da Secretária de Cultura Selma Campos. O movimento não continuou, graças à fraqueza de pessoas que não se julgavam capaz, juntamente com as desculpas conhecidas sobre comparecimento. Há pouco tentei formar um movimento de interesse pela cultura da terra, com o único compromisso de reunião uma vez por semana para trocarmos ideias. Esse movimento foi quebrado por duas autoridades ligadas à prefeitura que iniciaram conosco. Ficaram de enviar o segundo convite para a próxima reunião e até hoje espero. Deixaram-me a ver navios diante das outras pessoas que fizeram parte da primeira assembleia. Que coisa feia! Falta de palavra, carência de ação. Deixando o negativo de lado, estamos numa segunda tentativa de formar novo grupo a princípio independente. O movimento está bem adiantado e apesar de ser apenas para reuniões semanais e troca de ideias sobre letras, artes e coisas da nossa terra, bebendo o chá ou o café das quatro, coisas novas já surgiram, aliás, pensamentos importantes que poderão se materializar.
Já foram sugeridos dois excelentes lugares para as futuras reuniões, porém, distante do centro. Estamos tentando descobrir outro mais central, se possível, no comércio ou nas proximidades. Se o (a) prezado (a) santanense estiver interessado (a) em ouvir e ser ouvido (a), (por favor, sem vínculo político partidário) dentro da proposta apresentada, escreva para o nosso e-mail, telefone, mande um recado, venha a nossa casa. No momento ainda não tenho autorização dos demais companheiros para divulgação dos seus nomes. Posso assegurar, entretanto, que surgiram várias propostas além do simples bate-papo cultural. Inclusive, já temos oferta de mãos beijadas de amplo terreno para um projeto de cultura nota dez. Um segundo plano é adquirir certa casa para uma realização antiga. Temos certeza de que o proprietário será sensível a nossa solicitação. Quer saber mais? Vá chegando para a ciranda.
Aproveito para agradecer ao professor da Zona da Mata (ainda não nos conhecemos) que fez um trabalho com meu romance “Defunto Perfumado”, ganhando o primeiro lugar em Brasília. Agradeço ainda a manifestação da palavra de ilustre pessoa que me visitou domingo próximo, ao dizer que “Defunto Perfumado” foi um dos melhores livros que já leu na vida. Aos outros leitores que me escrevem, empolgados com “Ribeira do Panema” e o mesmo “Defunto Perfumado”, também meu muito obrigado pelo incentivo. A próxima batalha é pela apresentação de ambos na TV, assim como os inéditos romances “Deuses de Mandacaru” e “Fazenda Lajeado”. Após o lançamento do “Boi a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema”, vamos para a luta mais leve de publicação do “Ipanema Um Rio Macho” (memória de viagens) paradidático e o livro de poesias “Colibris do Camoxinga”. Aguardamos seu interesse pelos MOVIMENTOS DE CULTURA.

BILOCAÇÃO (Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2010) (Para meus compadres professores Alberto Pereira e Salete Bulhões assíduos e importa...

BILOCAÇÃO

BILOCAÇÃO
(Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2010)
(Para meus compadres professores Alberto Pereira e Salete Bulhões assíduos e importantíssimos leitores das nossas crônicas diárias).
Victor Mature estava no papel de escravo. Olhava com espanto para ti, Senhor, no filme “O Manto Sagrado”. Mas por que me levaste até o Gólgota? Estou mais perto de ti de que o ator de cinema. Estremece as minhas carnes, vibra o meu espírito. Irmano-me a tua dor. Atravesso a dor. Sinto a sua dor... Mas não é, Pai, a dor que traz a dor. São formas de translúcidos cristais que fulminam as minhas veias mutantes de crisálidas. O sangue listrado do teu corpo é o encarnado escarnecido do teu manto. Por que meus passos não são passos, não passam dessa cruz? Vigorosa, martirizante... sacra. Minha íris débil reluta a tua íris santa. Cai em mim, silêncio morto, cheio de vida do reluzir grande. Um soldado inerte, um rei no trono que a madeira ampara. Mas eu vejo na transparência fluida o que não via. Por que me elevas, Senhor, ao nível do teu sofrido e sereno rosto? Sim, vejo sim, pontos de luzes brancas em ordem de esfera. Cabelos com respingos escarlates nos fios naturais. Terríveis espinhos do horror humano. Estou vendo, Senhor: o céu é plúmbeo, à hora é nona. Faíscas de ouro escapam dos picantes ecúleos. Dardejam mistérios divinos nesse temerário céu. Longas manchas negras de caudas leitosas cortam o etéreo por trás de ti. Estendo meus dedos que se alongam em busca das tuas chagas. Um poderoso imã impede a proximidade profana. E sinto meus dedos suavemente girando em torno das tuas feridas. As mãos, as mãos, Senhor, por vontade espontânea erguem o interior das palmas e recebem fragmentos de ferro que ardem como fogo. Novamente olho nos teus meigos olhos. E o sangue dos teus ferimentos forma jorros finos que sobem, curvam-se, caem nos espalmados das minhas mãos. Vão-se os fragmentos de limalhas. As dores baixam, aliviam, desaparecem.
Vejo tua boca, Senhor, ouço o teu brado. Vou além sem saber como, na velocidade/luz. O véu do templo rasga em minha frente e meu ser estremece como em busca do teu espírito. Volto lentamente ao Gólgota e já não encontro o teu calvário. Tua cabeça pendida me expulsa lágrimas como o jorro do teu sangue. Da baixada, sobe um ornejar. À altura do teu corpo, a mesma força me conduz a te examinar sem toque da cabeça aos pés. Como o colibri que esvoaça em torno da flor, vou circulando sucessivamente em tua volta. Não pode ser irreal esse coro que ouço e não conheço. Porque ele toma o que sou e me permite a retirada. Não vejo centurião, não enxergo centúria, ignoro apóstolos. Somente o céu, a música e ti. E a mesma força que me conduziu a Judeia, vai me afastando como cheguei ao monte.
Sem saber se isto é uma crônica, um sonho, um conto... Olho as minhas mãos, descubro vestígios vermelhos dos tiranos pregos. E um perfume profundo que supera as rosas, emana fortemente das marcas encontradas. Choro copiosamente. Vacilante, espio a sua imagem hirta na parede do quarto. E fico entendendo sem compreender essa BILOCAÇÃO.

OLHANDO DE CIMA (Clerisvaldo B. Chagas, 13 de agosto de 2010) Quando em sala de aula, fiz o possível e o quase impossível para colocar a Ge...

OLHANDO DE CIMA

OLHANDO DE CIMA
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de agosto de 2010)
Quando em sala de aula, fiz o possível e o quase impossível para colocar a Geografia Física na cabeça da juventude. Sempre achei um absurdo às marteladas constantes nas paisagens alheias e o esquecimento interminável das nossas. O rio Amazonas e a serra do Mar são importantes. Muito mais importante para nós é o rio Ipanema que construiu essa cidade, que nos permite a ventilação vinda pelo seu leito seco. Muito mais considerável de que a serra do Mar é o serrote do Gonçalinho (do Cristo) que nos ampara no inverno de uma frieza excessiva. Se todos os professores fizessem assim na cultura, no folclore, na História, na Geografia mesmo, talvez os jovens tivessem muito amor a terra e não se envergonhassem do seu berço. Certa vez saí sozinho a fotografar pelas redondezas, pois gosto das chamadas fotos artísticas. Projetei um dos meus slides que representava belíssimas flores silvestres à margem de um lago. Os alunos ficaram abismados com tanta beleza. Dei três países como opção para que eles dissessem a origem da fotografia. A maioria apontou o Canadá. Fiz suspense e depois revelei a verdade. A foto representava o açude público Bode, hoje, vizinho das últimas casas da Lagoa do Junco, a cerca de seiscentos metros da ESSER. A gargalhada foi geral.
O riacho do Bode na sua pequenez nasce nas imediações da serra da Camonga, corta os arredores de Santana e despeja no rio Ipanema, no lugar chamado Cachoeiras. Sua localização permitiu a existência do açude do Bode, construído na época em que Santana lutava por água encanada do rio São Francisco. Do seu paredão se avista a “Baronesa”, serra da Camonga, com toda sua majestade, que também é vista da ESSER. Pois foi com espanto que recebi uma foto da bacia hidrográfica do riacho do Bode, tirada da cabeça da “Baronesa”. Coisa do “Primo Vei” (João Neto de Dirce) que a enviou por e-mail lá do Mato Grosso e que poderá servir de papel de parede para qualquer computador do Brasil. Não. Não senhor, não é do Canadá meu camarada. É de Santana do Ipanema, mesmo.
A brincadeira da IV caminhada movimentou bem o Portal Maltanet. Relatam uma caminhada cheia de saudosismo, curiosidades e amor ao torrão. Notamos, entretanto, uma maioria veterana, fato que nos leva a perguntar onde fica o espírito aventureiro dos mais jovens. A nossa fazenda Santa Helena ficava no sítio Timbaúba, sopé do lombo da Camonga. Nunca fui até o cimo por falta de oportunidades, mas nunca deixei de galgar outros montes do mesmo maciço: Poço, Macacos, Gugy, Pau-Ferro e Caracol. Sempre repito: quem não conhece a Geografia das serras, os costumes dos seus habitantes, não conhece Santana. Que tal um incentivo aos alunos de todas às escolas da cidade: incursões, divertimentos e aulas para conhecimento total do município? Deixe, deixe... deixe, já sei a resposta. Estou cansado de saber. Voltando ao antigo assunto, vênia aos participantes da IV caminhada. Menos vê quem não vai OLHANDO DE CIMA.