DESENGANOS (Clerisvaldo B. Chagas, 27 de agosto de 2001) Só quem sabe cantar meus desenganos É a flor madrugada e mais ninguém Fracassam o...

DESENGANOS

DESENGANOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de agosto de 2001)

Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Fracassam o passado e o presente
Diniz, Zé Catota e Vitorino
Zé Limeira, Lourival, José Faustino
Zé Gaspar, Zé de Almeida, M. Clemente
Geraldo, Zé Viola, R. Vicente
Lourinaldo, Mocinha e Jó, além
De Daudeth Bandeira e mais uns cem
Ivanildo, versejos sobre-humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem o Nelson Gonçalves, Altemar
Cauby, Lupicínio ou Alcione
Agnaldo Timóteo ao microfone
Netinho ou Sangalo à beira mar
 Moacir, Martinho ou Alcimar
Zé Ramalho, Belchior, Fafá Belém
Ciganas canções que vão e vem
Que apaixonam demais seres humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem as flores suspensas do jardim
Nem a rosas dos prados coloridos
Nem as brisas dos vales mais perdidos
Nem o céu de safira ou de carmim
Nem gorjeios de aves no capim
Baladas sensíveis de um trem
O aceno do lenço de alguém
Não tocam na alma dos arcanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O vento que sibila à cordilheira
O cravo que nasceu no pedregulho
O balanço das águas no marulho
O convite da sombra à quixabeira
O melaço da cana da caldeira
O aroma da carne no moquém
O pipilo insistente do vém-vém
Vão pingando poesia nos meus planos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O escuro das noites mais escuras
O cenário de atos tenebrosos
As fossas abissais de assombrosos
Seres que habitam nas funduras
Fogo-fátuo de águas tão impuras
Cobre em moeda de vintém
Fuligem que ao vício faz refém
Vão rondando seus golpes mais tiranos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém.
 
                                                               FIM











Ê MEU FIO (Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2010)           Ainda lembro o cidadão santanense, já em avançada idade, Benedito Serra ...

Ê MEU FIO

Ê MEU FIO
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2010)

          Ainda lembro o cidadão santanense, já em avançada idade, Benedito Serra Negra, em suas visitas esporádicas a nossa loja de tecidos. Referia-se ele a certo pássaro da caatinga que durante o sofrimento do povo nas estiagens prolongadas, cantava. E o seu canto parecia mangação quando o povo interpretava assim: “ê, meu fio!...”
         Durante a Alta Idade Média, o pensamento filosófico recebia grande influência do cristianismo. Houve momentos em que essas idéias confundiram-se com a teologia, porque se amparavam na fé e em dogmas religiosos. Destacou-se naquele momento histórico, um dos maiores doutores da Igreja que foi Santo Agostinho, responsável pela síntese entre a filosofia clássica (platônica) e a doutrina cristã. Segundo a teologia agostiniana, a natureza humana é, por essência, corrompida. A remissão, a salvação eterna, estaria na fé em Deus. Santo Agostinho tem como principais obras: “Confissões” e Cidade de Deus”. Para muitos estudiosos, essa era uma visão pessimista em relação à natureza humana. Entretanto, na Baixa Idade Média surgiu uma concepção mais otimista e empreendedora do homem. A filosofia escolástica procurou harmonizar razão e fé. Nesse caso, o progresso do ser humano não dependia apenas da vontade divina, mas também do esforço do próprio homem. Com isso os atributos racionais do homem passam a ser valorizados. E por outro lado, não deve mais existir conflitos entre a fé e a razão. Os escolásticos são considerados precursores do humanismo e tiveram o mérito de restituir ao homem medieval a confiança em si próprio. Se a escolástica valorizou a razão substituindo o termo predestinação por livre arbítrio, mas continuou deixando para o clero o papel de orientador moral e espiritual da sociedade. O mais influente filósofo escolástico foi São Tomás de Aquino, professor da Universidade de Paris. São Tomás muito influenciou o clero, inspirado na teologia cristã e no pensamento de Aristóteles. Obra de São Tomás de Aquino: Suma Teológica.
         Com tantos estudos históricos e filosóficos ficamos a imaginar o comportamento do homem nos dias atuais. Será que são suficientes essas pesquisas da Sociologia que agrupam o ser humano em camadas sociais, estamentos ou castas? O homem moderno, preocupado com o seu padrão de vida, nessa luta feroz da concorrência empregatícia ou com a violência desenfreada nas ruas, tem tempo de pensar? Já perguntaram a algum assaltante de bancos ou aos consumidores inveterados de drogas se eles estão lendo a Suma Teológica? Já indagaram aos compradores de consciências sobre o pensamento escolástico? Será que todo sistema educacional está falido? Nada afirmamos nem analisamos. Apenas, em um momento de parada refletimos. Nesse emaranhado do tal “correr atrás”, fica bastante difícil correr a frente. E com essas filosofias que se arrastam pelo mundo o saudoso cantor Nelson Gonçalves se sai com a dele:

(...) “pois a vitória
Não pertence ao infeliz...

         Volto à ternura de Benedito Serra Negra, “filósofo” bem menos complicado. Diante de tantas coisas esquisitas que estão acontecendo com a humanidade, com certeza ele apenas repetiria o pássaro das caatingas alagoanas: “Ê, MEU FIO!...”

VIRANDO FUXICO (Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2010)           Sem telefone fixo e Internet no apartamento, vou ficando aborrecido...

VIRANDO FUXICO

VIRANDO FUXICO
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2010)

          Sem telefone fixo e Internet no apartamento, vou ficando aborrecido com a prestadora ou imprestadora de serviços. Cuidando de legítimos outros interesses, vou perdendo contato com meus trabalhos publicados. Passo a enviar as crônicas através de terceiros que as conduzem em pen-drives. Eles as enviam das suas repartições para o blog, para os portais Santanaoxente e Maltanet. Quero me comunicar com o Malta e “João Neto de Dirce, mas não tenho os seus telefones na minha agenda. Aí veja compadre, como são as coisas no Brasil. Através de amizade, funcionário de certa empresa promete que vem ligar o aparelho, consequentemente a Internet. Pede para que fiquemos calados, sem dizer para os demais vizinhos que por certo também iriam querer o privilégio obrigatório. O cabra marca para as catorze horas, deixa-me aguardando até as dezessete para dizer que não vem mais. A empresa acaba, diz ele, de receber  certa resolução que impede a sua vinda. Inventaram para lá um calendário diferente, de modo que somente em torno do dia trinta essa ligação poderá ser feita. Agora nem por cima, nem por baixo do pano. E a Justiça, o PROCON e o jeitinho brasileiro não resistem as manhas da inrespeitável empresa. Quem acredita nesse tal dia trinta? No final de semana estarei na terrinha para examinar a caixa de correspondência.
          Recebo não boas notícias sobre um derrame que teria sofrido a esposa de um dos muralistas do Portal Maltanet. E como não posso ter certeza no momento, não publico o nome, mas vamos ajudar com orações.
          Quanto a essas companhias que vão engolindo umas as outras, parecem carregar a paranoia do lucro fácil e rápido, meta de todos os ambiciosos. Transportam o sádico prazer do mau atendimento, da indiferença e da certeza de que o castigo pequeno é lucro. Esquematizadas dentro de brechas de leis, de impunidades, de corrupção ativa e de cansaço do poder público, vão levando as economias de milhões de brasileiros através de serviços “marca peste”, como fala irritado o sertanejo alagoano. Muitas são estrangeiras que vem com um título à frente e o tenebroso conteúdo atrás. As listas de reclamações do Brasil inteiro demonstram esse infame descaso com o usuário. Causam-nos espanto e incredulidade, medidas radicais tomadas em países diferentes do nosso. Mas dizem que “remédio para um doido é doido e meio”, expressão que vem desde os tempos dos nossos avôs. E assim essas devoradoras da economia do povo quase sempre se dão mal diante de um martelo muito mais firme. Ante o escancarado desmando, o trabalhador vai se sentindo cada vez mais lesado, com sensação de ser apenas mais um palhaço diante da bocarra do estrangeirismo. Ê, comadre Salete, já nos viciaram na Internet, mulher! Quando ficamos sem ela a impressão é péssima. Ainda bem que o cronista não marcou reunião com os amigos da Cultura aí em Santana. O que acha Paulo Fernandes? Continue divulgando nossas crônicas no seu site “Tangará”; Jornalista Antonio Noya em suas revistas e, o site “Besta Fubana”, para o Brasil inteiro. O nosso mural de recados continua em aberto. E como diria o colega, amigo e empresário Juarez (Bêinha), vamos esperar que o filho da “foice” venha fazer minhas ligações. Afinal, comunicação sem a web vai VIRANDO FUXICO.