BULA INEFFABILIS DEUS (Clerisvaldo B. Chagas, 8 de dezembro de 2010)      Hoje é dia de Nossa Senhora da Conceição. Feriado em meio de sema...

BULA INEFFABILIS DEUS

BULA INEFFABILIS DEUS
(Clerisvaldo B. Chagas, 8 de dezembro de 2010)
     Hoje é dia de Nossa Senhora da Conceição. Feriado em meio de semana para quem pretende descansar, viajar ou colocar em dia suas devoções religiosas. Muita gente que arma sua árvore de natal no início de dezembro, escolhe o dia oito para assegurar a crença na bondade divina. Como no Brasil foram reduzidos os dias santos e feriados, quando um deles surge na folhinha torna-se motivo de alegria para o empregado e de praga para o empregador. Estamos totalmente dentro do poço dos metais onde a força do lucro comanda os sentimentos mercantilistas. Os escravos negros não trabalhavam aos domingos para os patrões, mas cultivavam suas próprias lavouras, se quisessem melhor alimentação. Assim não sobrava tempo para o descanso apregoado pelo Cristianismo. Nos tempos atuais inúmeros empregadores não dispensam nem o sábado nem o feriado. Outros nem sequer o domingo. E nessa briga constante e perene, o trabalhador que consegue escapar por vinte e quatro horas das unhas do patrão, procura usar da melhor maneira possível esse intervalo precioso. Muitos santos foram forçados a deixar o calendário civil, mas dificilmente os corações dos seus devotos. Entre sábados, domingos, feriados e dias santificados, avulta-se o dia oito de dezembro como marco importante para os sentimentos católicos que rompem com a descrença.
     É nesse dia que a Igreja comemora o dogma da Imaculada Conceição, conforme o definido pelo Papa Pio IX, em 1854. Portugal foi um país que sempre manteve essa crença, mesmo antes da oficialização papal. Se formos observar pela história, iremos encontrar certa dificuldade da Igreja Ocidental em aceitar a Concepção. Entretanto, no século XIII, o teólogo e franciscano Duns Scotto, defendeu a tese mostrando que era conveniente que Deus preservasse Maria do pecado original. Maria era destinada a ser mãe do filho dele e que isso era possível pela Onipotência de Deus. Daí foi, então, que a doutrina da Imaculada Conceição de Maria, foi introduzida no calendário romano. Em 1830, a própria virgem apareceu à Santa Catarina de Labouré, pedindo que se cunhasse uma medalha com a oração: “Ó Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. Quatro anos depois, a Igreja oficialmente reconheceu e declarou solenemente como dogma, em 1854, através da bula “Ineffabilis Deus”, do Papa Pio IX, “Maria isenta de pecado original”. Na sua aparição em Lourdes, a própria Virgem confirmou a definição dogmática dizendo para Santa Bernadete Soubirous: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
     Entre os que aceitam a Imaculada Conceição e os que a rejeitam, estamos usando esse tempo útil para sentimentos nobres. Nada como um poço límpido nas longas travessias para alimentar o corpo e a alma. Maria é refúgio seguro para quem a procura. E para mim, como os portugueses mais antigos, nem precisaria essa abençoada BULA INEFFABILIS DEUS.






O NOME DO PESTE (Clerisvaldo B. Chagas, 7 de dezembro de 2010)      Já contamos aqui um fato engraçado com o senhor Abel Mendonça (já falec...

O NOME DO PESTE

O NOME DO PESTE
(Clerisvaldo B. Chagas, 7 de dezembro de 2010)
     Já contamos aqui um fato engraçado com o senhor Abel Mendonça (já falecido) mestre em adestrar passadas de cavalos. Não custa repetir. A pioneira no semi-árido, Rádio Correio do Sertão, criou um programa de forró que funcionava ao cair da tarde. Esse programa também passou a atuar ao vivo com vaqueiros, forrozeiros, aboiadores, repentistas e todo movimento rural da região. Havia espaço direto também para recados. Ao toque da sanfona, do coco de roda, repentes e aboios improvisados, as mensagens eram enviadas pelos seus ativos convidados. Na vez do senhor Abel Mendonça ─ homem rude que nunca havia usado o microfone ─ ele se saiu com essa. Mandava recado para os compadres e conhecidos, quando os ouvintes de casa perceberam que Abel esquecera um nome engatilhado. Assim só se ouvia o gaguejar do adestrador batendo as mãos, tentando lembrar: “Esse recado vai para... para... para... (E as mãos: ploc, ploc, ploc...) Ô minha gente, como é mesmo o nome do peste?” Gargalhada geral na rádio e nas casas dos ouvintes.
     Ficou para ontem, o final do caso comprido que só o hino nacional, sobre a compra de aviões a ser realizada pelo Brasil. Também já visto por nós esse tema, quando o governo resolveu prorrogar o suspense, após conversar o que não deveria. Para mostrar independência dos Estados Unidos, Lula firmou parceria estratégica com o governo francês que também busca destaque de líder na Europa. E por viverem essa crise que atingiu os ricos, França, Estados Unidos e Suécia, procuram vender seus caças nessa transação bilionária com o Brasil. Não é interessante para o nosso país, comprar avião sem trazer junto a tecnologia. Se, como exemplo, comprássemos aviões americanos e precisássemos fazer um ataque a um aliado deles, tudo que envolvesse reposição para as nossas aeronaves nos seria negado. Portanto, o Brasil opta por quem lhe fornece tecnologia e parceria para que também possamos fabricar aqui no Brasil esses aviões de guerra. Além disso, com a concessão de venda para outros países da América do Sul. Lógico que o Brasil iria aprender e desenvolver seus próprios métodos construtores, virando fabricantes de aeronaves de ponta. A França e a Suécia oferecem coisas que o americano não faz. Querendo driblar o tempo, Lula adiou a decisão para não causar constrangimento aos Estados Unidos que ficariam bravos com a não preferência pelas suas máquinas.
     Mesmo deixando a decisão para o finalzinho do seu governo, o presidente Lula parece ter perdido toda a influência sobre o assunto que teve que ser enfrentado por Dilma. Convocando o Jobim para decidirem sobre o avião a ser escolhido, a presidenta eleita mostra querer a situação imediatamente resolvida. Até a entrada dessa crônica no ar, havia um sigilo absoluto sobre a conversa ocorrida entre os dois. Apelamos para a presidenta eleita: Dilma, qual foi mesmo o avião escolhido? Diga aqui para o nosso blog como é mesmo O NOME DO PESTE!


HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS (Clerisvaldo B. Chagas, 6 de dezembro de 2010)      Quando não havia asfalto entre o Sertão e Palmeira dos Índios, ...

HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS

HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 6 de dezembro de 2010)
     Quando não havia asfalto entre o Sertão e Palmeira dos Índios, em Alagoas, a viagem a Maceió era longa e difícil. Geralmente as paradas eram divididas em quatro partes, para os que usavam o automóvel, à preferência do viajor: Palmeira dos Índios, Cabeça Danta, Corumbá ou o Salgado. Palmeira, terra adotiva do Graciliano Ramos, surgia aos olhos dos viajantes do Sertão e Alto Sertão como um oásis interessante. Aspecto de cidade civilizada e limpa. Água de coco e café da manhã representavam à procura de quem passava. Cabeça Danta ─ perto de Belém e da famigerada curva do “S” ─ fornecia frutas dos sítios locais, puxadas pelo coco verde, muito procurado pelos passageiros. No Salgado, sopé das montanhas sempre verdes, após a cidade de Maribondo, o atrativo era o café da manhã com bolachas cream cracker e poções de manteiga em minúsculas manteigueiras de vidro, além da cristalina e pura água da serrania. A quarta opção, sítio Corumbá, perto de Atalaia, oferecia o café com uma chamada macaxeira ouro, que fazia jus a cor e ao sabor. Em alguns pontos da estrada, como no trecho da fértil Canafístula, a atração da estrada eram bancas de frutas e abóboras produzidas nas terras do local, por trás das casas dos moradores. O condutor parava o automóvel, enchia a mala de produtos frescos, deliciosos e baratos. Quem fazia o trajeto de ônibus, tinha como certas duas paradas costumeiras: a churrascaria Brasília, em Maribondo, que pertencia a um italiano e, cujas paredes eram repletas de provérbios cívicos, escritos à tinta; e a churrascaria do Josias na cidade Cacimbinhas, bem defronte ao posto de gasolina do Galego, um dos raros postos do Sertão e que prestou serviços décadas a fio.
     Algumas coisas mudaram na paisagem. Do Sertão à capital, o asfalto reduziu de quatro horas e meia para três ou duas horas e meia o trajeto. A “Princesa do Sertão” saiu do mapa das paradas, para quem vai de carro pequeno. O ponto Cabeça Danta está desativado, permanecendo, ainda hoje, com a pequena construção onde se vendiam os frutos da terra. A casa do sítio Salgado encontra-se abandonada e quase em ruínas. O ponto do Corumbá há muito tempo fechado e sem sinal de vida. Atualmente, a parada única de quem vem do Sertão e Alto Sertão, agora é Maribondo, cidade cortada pela BR-316, a cerca de setenta quilômetros da capital. É ali em churrascaria ou lanchonete o ajuntamento de bestas, micro-ônibus, automóveis particulares e de órgãos públicos que vão resolver negócios no litoral. Parada obrigatória para os de Santana, Canapi, Poço das Trincheiras, Mata Grande e todos os do semi-árido que trafegam pela BR-316.
     As bancas de frutas ainda são encontradas, mas também não são mais a mesma coisa. Muitos produtos vem da feira, são de qualidade duvidosa e preços elevados. A pureza dos quintais tornou-se rara. Os viajantes escaldados passam direto, receosos de explorações azedas. E assim os tempos vão mudando como mudam as nuvens tangidas sob o céu azul e eterno. Maceió ─ Sertão, Sertão ─ Maceió. Reminiscências despregando-se das lameiras... Da vida, que não estaciona para chorar. Desculpe aí leitor, a HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS.