UM MUNDO ENCANTADO (Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2011).        Nas últimas décadas, graças a vários pesquisadores, a xilogravura, ...

UM MUNDO ENCANTADO

UM MUNDO ENCANTADO
(Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2011).

       Nas últimas décadas, graças a vários pesquisadores, a xilogravura, aos poucos, alcançou a ressurreição. Arte vinda da antiguidade foi bastante utilizada na Europa do século XV. Seus trabalhos prestavam-se a ilustrar cartas de baralho e imagens sacras naquele continente, segundo estudiosos. A xilogravura é uma espécie de carimbo feito em madeira. Desenhado, entalhado pelo buril, o motivo recebe tinta no alto relevo e fica pronto para imprimir com perfeição. No Brasil, a arte de xilogravar chegou em 1808, com a Imprensa Real Portuguesa, mas se destacou no Nordeste onde casou com o folheto de cordel, também vindo de Portugal. As histórias em versos dos chamados cordelistas são tantas e tão variadas, tornando difícil uma perfeita classificação. Para ilustrar as capas dos seus folhetos, esses poetas populares ─ que se dedicaram e se dedicam a escrever criativas histórias em versos rimados e metrificados ─ adotaram a xilogravura como padrão permanente em seus trabalhos. Encantando gerações no Nordeste brasileiro, vendidos pendurados em barbantes ou não, o folheto divertia, ensinava a ler e transmitia as novidades numa época ainda pobre em meios de comunicação. Visto a princípio como um desenho grosseiro, pesado, malfeito, o exposto trabalho em imburana foi rareando e morrendo juntamente com o folheto nordestino. Inúmeros são os poetas autores desses livros magérrimos, tendo alguns alcançados famas no Brasil e no exterior. Após a fase negra de quase morte, tanto voltou o folheto quanto essa arte da madeira.
       Os vates das páginas populares souberam se adaptar aos acontecimentos modernos para cantarem suas histórias maravilhosas. Os xilógrafos capricharam cada vez mais nos desenhos e detalhes que atraem pesquisadores das mais variadas origens. É tanto que a arte voltou à moda com uma força nunca antes vista. E a prima pobre da arte nordestina, ganha vestido novo, roupa de gala para desfilar as vistas do público e dos críticos que antes torciam o nariz. Caruaru e Juazeiro do Norte, grandes centros do interior, são lugares que mais oferecem esses serviços tradicionais, pois funcionam como receptores e dispersores do folclore nordestino. Outras cidades importantes como Campina Grande, Feira de Santana e Recife, contribuem enormemente com a cultura popular dessa região, hoje tão progressista.
       Entre tantos e tantos folhetos, quem não se lembra daquele que deu origem à novela “Pavão Misterioso”? Com a nova narrativa “Cordel Encantado” ─ rodada em Piranhas ("Cidade Presépio") Alagoas ─ a xilogravura vive a sua fase de princesa. Quando meu caro leitor quiser relaxar dessa vida braba, saia um pouco da rotina tecnológica. Entregue-se por alguns momentos, dias ou semanas aos folhetos de cordel, ao esmiunçar dos xilógrafos, sonhando de verdade em UM MUNDO ENCANTADO.


MULHER DE FIBRA (Clerisvaldo B. Chagas, 6 de abril de 2011).        Não viu quem não quis a notícia da televisão. Dois policias tentaram p...

MULHER DE FIBRA

MULHER DE FIBRA
(Clerisvaldo B. Chagas, 6 de abril de 2011).

       Não viu quem não quis a notícia da televisão. Dois policias tentaram prender um marginal, mas só conseguiram após alvejá-lo. Imobilizado, o fugitivo foi jogado na viatura e conduzido ao cemitério local e não à delegacia. Alvejar um delinquente é a coisa mais normal que acontece em nosso país. Faz parte da violência contada em prosa e versos de todos os dias. Aliás, raramente os jornais impressos divulgam outras coisas, bem como os sites noticiosos. Quando saem da violência caem imediatamente no chamamento pornô que não para de crescer. Mas voltando ao assunto anterior, dois policiais entraram no cemitério, naturalmente viciados, onde puxaram o preso para fora da viatura e executaram-no friamente. Esse tipo de atitude, no cemitério, nas matas, nos caminhos, em qualquer lugar está sempre acontecendo e não parece chocante para ninguém. Após executarem Dileone Lacerda de Aquino, no cemitério em Ferraz de Vasconcelos, os dois policiais foram enfrentados por uma mulher que visitava o túmulo do pai. Surpreendida com a cena brutal, a mulher teve a coragem de telefonar para o Centro de Operações da Polícia Militar, através do número 190, quando denunciou o que ainda estava acontecendo. Nervosa mais segura do cumprimento do dever, a mulher conseguiu passar o prefixo do carro envolvido. Correndo enorme risco de vida, a senhora ou senhorita sustentou a acusação cara a cara com os policias ainda dentro do cemitério. Como Deus é bom e está em todos os lugares, os policiais foram presos em flagrante e estão no presídio militar Romão Gomes. Com o desenrolar dos fatos, é possível que haja justiça, enquanto a mãe do bandido assassinado diz rezar pela testemunha.
       Se todas as pessoas desprezassem o perigo pela causa da justiça, bem que tudo poderia ser tão diferente. No meio de tudo, todavia, existe um sentimento escrito com apenas quatro letras, que toma conta imediatamente de corpos grandes e pequenos. O “medo” aparece imediatamente como um instinto forte de sobrevivência, reduzindo à testemunha a um estágio de horror e vergonha em ficar menor do que ele (o medo). Mas a senhora que se impôs aos bandidos fardados, conseguiu pisar firme no sentimento vil e surgir como heroína diante do povo brasileiro. O caso foi revelado pelo site “O Estado de São Paulo”. Como gostaríamos de banir algumas vezes esse instinto de proteção para não passarmos por covardes, simplesmente com o intuito legítimo de preservarmos as nossas próprias vidas terrenas. E se não conseguimos, nem com esforço superar a covardia, pelo menos lembremos o exemplo decente, corajoso, dignificante no mais alto grau, daquela MULHER DE FIBRA.

PEDRO GAIA (Clerisvaldo B. Chagas, 5 de abril de 2011).           Os dirigentes de municípios deixaram de ser chamados intendentes. Para r...

PEDRO GAIA

PEDRO GAIA
(Clerisvaldo B. Chagas, 5 de abril de 2011).

          Os dirigentes de municípios deixaram de ser chamados intendentes. Para receber o título de sétimo “prefeito” interventor, chegou a Santana do Ipanema, um cidadão das raízes dos fundadores da cidade para tomar posse no dia 28 de julho de 1938. Vindo de Palmeira dos Índios, Pedro Rodrigues Gaia, não trazia nenhuma ideia do que havia acontecido naquela madrugada e nem o que o esperava em Santana, cujo destino descortinava um dia histórico. Conduzido o seu mandato pelo dia marcante, essa gestão durou de 1938 até 1940, quando já no finalzinho desse último ano, o prefeito renunciou por motivos pessoais. Foi durante o discurso da sua posse que um telegrama alvoroçou a população de Santana do Ipanema, do Brasil e do mundo. Através do papel chegava à alvissareira notícia da morte de Lampião, Maria Bonita e mais nove sequazes do cangaço (ampla cobertura detalhada no livro “O Boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”, breve).
          O tema central, entretanto, dessa crônica, não é sobre o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, mas sim sobre uma das obras do governo Pedro Rodrigues Gaia, que foi a construção da estrada Santana ─ Águas Belas. Pedro Gaia também construiu cinco escolas, terminou as obras da nova prefeitura (não a atual), e reconstruiu trechos da estrada Santana ─ Água Branca, entre outros empreendimentos. A estrada Santana ─ Águas Belas, foi importante para Alagoas e Pernambuco, numa época em que as estradas começavam a se modernizar, deixando aos poucos os carros de boi e recebendo os primeiros automóveis. Por outro lado, havia uma intensa comunicação desde os primórdios entre Santana, Mata Grande, Água Branca (Alagoas) Água Belas, Gara-nhuns e CIMBRES (Pernambuco). Hoje, quem vai para Águas Belas, diz que vai “por dentro”, evitando um rodeio enorme via entroncamento Carié ou cidade de Ouro Branco. Lamentavelmente, mesmo com esses laços antigos entre essas duas cidades irmãs, a estrada de Pedro Gaia, nada mudou, setenta e três anos depois. O asfaltamento do trecho ajudaria a desenvolver a região serrana, desde os sítios Salgado, Camoxinga dos Teodósio, serra do Poço, Tigre, Pinhãozeiro serra do Almeida e mesmo dando fôlego ao povoado São Félix. O comércio de Santana e os serviços ganhariam a clientela de Águas Belas, por ser um centro importante mais perto dali. Pedro Gaia passou a ser nome de rua em Santana do Ipanema.
          Como dissemos antes, não se pode deixar tudo para os políticos. Outras forças sociais poderiam movimentar-se nesse sentido junto aos governos de ambos os estados, bem como para reivindicar cobertura asfáltica também de Carneiros, diretamente a Santana. Aproveitava-se a construção do Canal sertanejo, para atrair investimentos dos mais altos gabaritos para a nossa terra. Tudo, porém, para essa falta de visão estratégica, acomodamento ou desinteresse, vai deixando o nosso município somente com abelhas e carne de bode. Lembram-se qual foi o presidente que disse: “Governar é abrir estradas”? Quem irá à luta pelo novo asfalto? Com certeza não será o espírito de PEDRO GAIA.