A CARNE É FRACA Clerisvaldo B. Chagas, 29 de novembro de 2016 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.598 Arredores de m...

A CARNE É FRACA

A CARNE É FRACA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.598


Arredores de matadouro.
É óbvio se dizer que o anúncio do governo estadual sobre construções de matadouros foi bom, muito bom, excelente.
A notícia é que será construído um matadouro em Matriz de Camaragibe, Região Norte, com capacidade de abate de 100 animais por dia no que será frigorífico público. O referido matadouro atenderá, segundo o comunicado, aos municípios de Paripueira, Barra de Santo Antônio, São Luiz de Quitunde, Porto Calvo, Matriz de Camaragibe, Jacuípe, Japaratinga, Maragogi, entre outros.
Nada demais lembrar que dois novos matadouros regionais estão em fase final de conclusão, o de Viçosa e de Murici.
Ainda se noticia que o governo estadual pretende construir matadouros em Santana do Ipanema, União dos Palmares e Penedo.
Diante do que vimos ficamos sem saber por que os marchantes, como os de Santana do Ipanema, por exemplo, que são mais de duzentos, não se uniram para a construção do frigorífico. Tantos homens esperando apenas o dinheiro do governo para o trabalho. Sem liderança, sem união, cada qual puxando o naco maior do lucro para si e o povo sabendo de todo tipo de carne, até reses cancerosas que procuram vaga no descuido da vigilância.
Os matadouros de quase todas as cidades de Alagoas recordam os tempos medievais. Não são matadouros, são “matanças” onde a podridão domina o núcleo e a periferia das machadadas. Muitas pessoas que visitam esses lugares chegam a vomitar e abandonam o consumo de carne bovina desses antros. Alguns deles foram fechados, mas o jeitinho político da imundície fez reabrir alguns, levando até à mesa a ignomínia que o povo come.
Essas “matanças”, sem as mínimas condições de higiene, são semelhantes às fabriquetas de queijo que de vez em quando são fechadas e perdem toneladas do produto com moscas para a Vigilância.
Dentro do século XXI com os pés no século XV, a mentalidade humana é pior do que a dos bichos. “Morra quem quiser, deixando o lucro é o que vale”, pensam muitos assim. Quando faltam gatos, os ratos tomam conta. Bem que o governo, nesse caso, vai ao rumo certo, mas se depois das construções não houver rigor na vigilância, o população voltará ao prato de ontem.











A MORTE DAS ESTAÇÕES Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2016 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.597 Estação Ferr...

A MORTE DAS ESTAÇÕES


A MORTE DAS ESTAÇÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.597
Estação Ferroviária de Lagoa da Canoa em 2014. (Divulgação).
     Morreu a esperança de quem partia, secaram as lágrimas de quem ficava. Desapareceu o romantismo ingênuo. Sumiu o longínquo apito do trem. As afirmações da laranja doce, o grito da tapioca quentinha fugiram com a fumaça do cavalo de ferro.
     A via férrea alagoana que tanto ajudou no progresso estadual teve início muito cedo e saiu marcando o norte e o vale do Paraíba do Meio. Levando e trazendo mercadorias, marcando territórios na vida das pujantes lavouras em terras férteis, descobria montes, fundava estações. De palmo em palmo, de cidade em cidade, a linha parecia representar um porvir de glórias e riquezas nas terras dos marechais. E a conquista dura chegava a Viçosa, Paulo Jacinto, Quebrangulo e finalmente descia o Planalto do Cristalino para degustar a pinha doce da Princesa Palmeira.
     Enquanto a Sertão ansioso aguardava também o abraço do trem, o cavalo virava-se para o sul ganhando os tabuleiros rebaixados do Agreste, correndo cabeça abaixo rumo ao rio São Francisco. Resfolegante da longa viagem iniciada em Maceió, chega o trem às margens do Velho Chico apitando forte em Porto Real do Colégio.
     E as pesquisas geográficas levantam-se aqui e choram ali diante do quadro atual das antigas, simpáticas, idílicas e fraternas cúmplices estações ferroviárias. Suspensas às viagens, ferrugens nas linhas, abandono nos prédios, refúgio de almas penadas. Poucas estações foram vistas com bons olhos pelas autoridades. Algumas, recuperadas e descaracterizadas transformaram-se em museus, bibliotecas... Residências. Outras, tangidas pela ignorância, o desprezo e a falta de coração, deixaram cair o teto, crescer o mato, abrigar formigas, cupins e fantasmas. 
    O destino das nossas antigas estações ferroviárias, é semelhante ao destino das também nossas lagoas interiores cansadas de uma luta inglória contra a tendência aniquiladora do bicho homem. Pesquisador sério nos estados nordestinos não anda somente com máquina fotográfica e caderno de anotações. Mas também com lenço quilométrico, igual ao do pescoço de Lampião, pois a qualquer momento pode se deparar com cenários exigentes de fontes lacrimais. 
       
     



A MORTE DAS ESTAÇÕES Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2016 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.597 Estação Ferr...

A MORTE DAS ESTAÇÕES


A MORTE DAS ESTAÇÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.597
Estação Ferroviária de Lagoa da Canoa em 2014. (Divulgação).
     Morreu a esperança de quem partia, secaram as lágrimas de quem ficava. Desapareceu o romantismo ingênuo. Sumiu o longínquo apito do trem. As afirmações da laranja doce, o grito da tapioca quentinha fugiram com a fumaça do cavalo de ferro.
     A via férrea alagoana que tanto ajudou no progresso estadual teve início muito cedo e saiu marcando o norte e o vale do Paraíba do Meio. Levando e trazendo mercadorias, marcando territórios na vida das pujantes lavouras em terras férteis, descobria montes, fundava estações. De palmo em palmo, de cidade em cidade, a linha parecia representar um porvir de glórias e riquezas nas terras dos marechais. E a conquista dura chegava a Viçosa, Paulo Jacinto, Quebrangulo e finalmente descia o Planalto do Cristalino para degustar a pinha doce da Princesa Palmeira.
     Enquanto a Sertão ansioso aguardava também o abraço do trem, o cavalo virava-se para o sul ganhando os tabuleiros rebaixados do Agreste, correndo cabeça abaixo rumo ao rio São Francisco. Resfolegante da longa viagem iniciada em Maceió, chega o trem às margens do Velho Chico apitando forte em Porto Real do Colégio.
     E as pesquisas geográficas levantam-se aqui e choram ali diante do quadro atual das antigas, simpáticas, idílicas e fraternas cúmplices estações ferroviárias. Suspensas às viagens, ferrugens nas linhas, abandono nos prédios, refúgio de almas penadas. Poucas estações foram vistas com bons olhos pelas autoridades. Algumas, recuperadas e descaracterizadas transformaram-se em museus, bibliotecas... Residências. Outras, tangidas pela ignorância, o desprezo e a falta de coração, deixaram cair o teto, crescer o mato, abrigar formigas, cupins e fantasmas. 
    O destino das nossas antigas estações ferroviárias, é semelhante ao destino das também nossas lagoas interiores cansadas de uma luta inglória contra a tendência aniquiladora do bicho homem. Pesquisador sério nos estados nordestinos não anda somente com máquina fotográfica e caderno de anotações. Mas também com lenço quilométrico, igual ao do pescoço de Lampião, pois a qualquer momento pode se deparar com cenários exigentes de fontes lacrimais.