HOMENAGEM A MANIÇOBA/BEBEDOURO Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.371       ...

 

HOMENAGEM A MANIÇOBA/BEBEDOURO

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.371

                             (Foto/crédito: sertão na hora).

Quando os fundadores de Santana chegaram à Ribeira do Panema, 1771, um deles comprou a fazenda “Picada” de João Carlos de Melo que depois foi morar em terras da atual Poço das Trincheiras. A fazenda Picada ia do Lajeiro Grande, Pedra do Barco, até o riacho Mocambo, passando antes pelo riacho da Tapera do Jorge e Lagoa do Mijo. O documento de venda é datado do lugar Maniçoba, onde talvez morasse João Carlos de Melo. A fazenda Picada nada tem a ver com a fundação de Santana. A fazenda que deu origem a Santana foi a de Martinho Rodrigues Gaia e ninguém nunca soube se tinha nome. Ribeira do Panema era a região de todo o rio Ipanema, e não nome de fazenda, Ribeira quer dizer rio. (foi publicado alguma coisa equivocada).

Maniçoba e Bebedouro cresceram emendados numa rua comprida e algumas rebarbas laterais, mas haviam parado no tempo.  Maniçoba, arvoreta que produz o látex da borracha. Bebedouro por ser lugar de bebida para o gado. Maniçoba e Bebedouro formaram-se ao longo do rio Ipanema a cerca de 2 km do centro da cidade e já foi estrada para Maceió. Também já foi palco de festas religiosas e folclóricas do município. Lutando com unhas e dentes por melhoria, sempre foram desprezados por inúmeras gestões seguidas de intendentes e prefeitos. Pobreza intensa. Somente nas duas últimas décadas começou a receber melhoras significativas, uma longe da outra. Assim chegou o calçamento para a rua principal, a água e a luz elétrica. Ficaram lhes devendo ligação com a cidade através do Bairro São Pedro, o mais perto de lá em cerca de apenas 1 km.

Esse subúrbio cresceu, ampliou uma estrada de aveloz que saía na BR-316, e foi sendo povoado de fora para dentro na região da nova estrada que sai por trás da UNEAL, perto do Batalhão de Polícia. Toda aquela área atualmente progrediu e está irreconhecível para quem a conheceu há dez anos atrás. Finalmente agora, quase no fim do mundo, vai ganhar a ligação Maniçoba – Bairro São Pedro (1km) milhares de vezes negadas. O asfalto chegará até o calçamento da rua principal, marcando de vez o resultado do esforço e da luta de mais de cem anos. Mas a prefeita deveria aproveitar e puxar o asfalto do Largo Lulu Félix, que antecede aquele calçamento, também pela estrada bifurcada que sai na BR-316. Não dá 2 km, ajudaria na mobilidade urbana quando teríamos uma nova alternativa de saída para a capital, sem passar pelo centro, descongestionando o trânsito e ganhando tempo.  

A priori, Maniçoba e Bebedouro já movimentaram vários curtumes que alimentaram de couro e sola toda a nossa região. Sumiram por falta de incentivo das autoridades. Parabéns a este subúrbio pelo asfalto, coroa das batalhas infindáveis dos seus moradores. Pena a líder comunitária e ambientalista da AGRIPA, Dona Joaninha, moradora do Bebedouro não ter tido mais um pouco de vida para contemplar a vitória. Parabéns à prefeita Christiane Bulhões pela visão acertada em favor de um lugar que já existia há 249 anos e traduz o primeiro documento conhecido de Santana do Ipanema. Dona Joaninha poderia ser nome do nome do novo trecho que está sendo asfaltado.

 

 

 

 

  SANTANENSE QUER SABER Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.370 FOTO: CARSIL E ...

 

SANTANENSE QUER SABER

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.370

FOTO: CARSIL E EX-PREFEITO HENALDO BULHÕES. (B CHAGAS).

Entender o passado é se prevenir para o futuro. Infeliz a pessoa que ignora suas raízes e vive navegando como filho de chocadeira. Para isso desdobram-se as escolas transmitindo às novas gerações como conseguimos chegar até o presente momento, nossas lutas, nosso suor, nossas dores em busca de um porvir assegurado a nossa juventude. Diz o ditado que “Quem ler sabe mais”. Alimentar a alma com boas leituras, faz a diferença entre o vacilante e a Fortaleza. Uma foto é apenas a ilustração do conteúdo do texto. Somente clicar na fotografia é sinal de preguiça mental e leva ao vício do não conhecimento proposto no texto. Mas, chega de conselhos para os apressados que não querem conteúdo.

Nasceu a Cooperativa Agrícola de Santana do Ipanema – CARSIL -  em 1942. Passando e vencendo crises, chega hoje em torno dos 78 anos de aniversários. Continua sua sede à Av. Coronel Lucena, defronte a prefeitura municipal da cidade. Prestou, além dos seus reais objetivos, relevantes serviços a Santana, abrigando no primeiro andar da sua fachada e na sua extensão, alguns órgãos públicos que para ela apelaram.

Foi ali em suas dependências onde ocorreu a fundação do Ipanema Atlético Club de modo oficial. No dia 5 de maio de 1954, os trabalhos de fundação estavam a cargo de funcionário do  Banco do  Brasil, Hermes Souza. Contam que a sigla do clube que levava  as iniciais IAC, dentro de um losango, teria sido ideia do cidadão José Batista Sobrinho. O terno ficaria com as cores verde-escura no calção e o amarelo queimado na camisa. O Ipanema passou a ser denominado “Canarinho do Sertão”.

Naquelas dependência também funcionou um serviço radiofônico chamado a “Voz do Município”, que transmitia para a cidade através de alto-falantes, os trabalhos da prefeitura, recheados com músicas e notícias. Uma espécie de rádio no governo Hélio Cabral.

Ali  ainda funcionou no primeiro andar, a Bibliodeca Pública, por longo período, bem como  outro período na parte de trás do edifício.

Foram também ali criados a Bandeira e o Brasão do município de Santana do Ipanema, a partir da gestão do prefeito Henaldo Bulhões Barros, com a publicação da Lei 388/70 de 27 de abril de 1970. 50 anos de bandeira. A inauguração do Estádio Arnon de Mello, na parte alta do Bairro Camoxinga. Aconteceu na mesma data acima.

E assim são muitos prédios da cidade que guardam episódios históricos do município, episódios estes, invisíveis aos olhos dos transeuntes.

 

FOTO ABRIL 1996

 

 

 

  CASA VELHA Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.369 (FOTO: OSCAR SILVA): Após ...

 

CASA VELHA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.369

(FOTO: OSCAR SILVA):

Após vencer na vida (coletor federal) um dos escritores mais antigo de Santana do Ipanema visitou sua terra e a casa em que nascera e fora criado pela avó, em 1953. Fugira da fome para se alistar na Revolução Paulista. Sua casa era defronte a nossa. Eu estava com 7 anos na ocasião da visita. Convivi muito com a sua avó “Zifina” Flandreleira. Somente conheci Oscar em uma outra visita, já adulto, jantei com ele no Biu’s Bar e Restaurante, Rua Delmiro Gouveia, quando ele me pediu para escrever a história de Santana.

Veja o que ele escreveu após a visita de 1953. Não poderia ficar escondida uma das mais belas crônicas que eu já li. Na íntegra:

 

“A casa velha da Rua do Sebo, a casa de minha avó, dava na vista de todo mundo que passava por ali. Trepada em verdadeiros rochedos, frente de taipa, reboco a cair pela metade, oitão esquerdo exposto à chuva e à tempestade, de pé ainda, ou quase agachado, o velho pardieiro resistia e desafiava o próprio tempo destruidor, os antigos donos morreram ou fugiram e deixaram-na abandonada. Ela, porém, mau grado a vontade dos que a queriam demolida, ali ficou e ali continuava (1953), página dilacerada da grande história do povo santanense. Data nossa.

Antigamente, quando Santana fincava no morro da Goiabeira o cruzeiro que marcaria a chegada do século, aquela casa era simplesmente um quartinho de pólvora de algum fogueteiro da vila, a catingueira ou o marmeleiro, em redor, teús lutando com cascavéis, enquanto  mocós e preás corriam espantados à procura de abrigo contra o perigo iminente.

Passaram-se os dias. O quartinho de pólvora virou casa. E nessa casa nasceram lutas que eram de toda uma geração.

Casa velha da Rua do Sebo. Ali se viveu e lutou. Nela se hospedaram matutos para as missas dos domingos ou das sextas-feiras. Nela morreram os primeiros donos e dela fugiram os que não morreram. Casa velha da Rua do Sebo, festas ao Divino carpinteiro, casamentos de moças e rapazes, menino nascendo em ano de seca, menino dormindo para entreter a fome, menino fugindo da paz em procura da guerra! Casa velha da Rua do Sebo, página dilacerada da grande história do povo santanense”.

·         SILVA, Oscar. Fruta de Palma. Caetés, 1953, Págs 89-90.