ESTRELA DE ALAGOAS Clerisvaldo B. Chagas, 15 de dezembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.435   Visto que to...

 

ESTRELA DE ALAGOAS

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.435

 





Visto que todos os estados brasileiros e o Distrito Federal são representados no céu por uma estrela, Alagoas também tem a sua. Trata-se da estrela Tete, da constelação de Escorpião. Esta constelação já fazia parte do mapa do zodíaco desde os tempos antigos, quando os europeus estudavam os astros.

Mas também o estado tem sua estrela na terra. Quem ainda não ouviu falar no município de Estrela de Alagoas. Indo do Sertão para a capital, Maceió, a cidade de Estrela de Alagoas, é a primeira do agreste e fica entre os municípios de Cacimbinhas e Palmeira dos Índios para quem viaja pela BR-316.

Antigamente em suas terras havia muitos animais selvagens com destaque para o tatu-bola.  Quando se formou ali algumas casas em aglomerado, recebeu popularmente o nome de Bola, em referência ao animal tatu. E assim esse nome atravessou décadas e décadas até se tornar pejorativo. Viajantes passavam por ali e insultavam os moradores indagando das carrocerias dos caminhões embalados na rodagem: “É aqui o Bola, rebanho de peste?!” Aí a poeira cobria na estrada de terra. Os moradores ficavam fulos e ai se pegassem um daqueles engraçadinhos. Certa vez chegou por ali o Padre Ludgero, 1952, vigário da paróquia de Palmeira dos Índios e celebrou a primeira missa no povoado e trouxe também a primeira escola. O padre, diante do progresso do povoado, sugeriu que fosse mudado o nome para Estrela de Alagoas. Sua primeira feira aconteceu em 9 de janeiro de 1959. O nome de estrela se deu em 1989 e sua Emancipação Política deu-se em 5 de outubro de 1992.

Após passar a município, Estrela de Alagoas começou a dar passos fortes em direção ao progresso, conquistando o respeito e a admiração dos passantes. Foi coberto de asfalto, implantou calçamento de ruas, ampliou sua feira-livre e atraiu centenas de empreendimentos particulares e estatais. Sua fatia Agrestina possui clima agradável, terras férteis e muita arborização em sua periferia. Prédios novos e casas comerciais chegam por ali todos os dias e sua feira já faz sombra a sua antiga sede, Palmeira dos Índios que fica somente a um pulo dali.  Tem como grande atração os serrotes do Cedro e do Vento, pontos turísticos bastante visitados na Semana Santa por pesquisadores, turistas, religiosos e curiosos da região.

Bola, uma nova estrela radiosa de Alagoas.

CENTRO DE ESTRELA DE ALAGOAS (YOUTUBE).

 

 

 

 

 

 

 

 

  NÓS NO ZABUMBA Clerisvaldo B. Chagas, 14 de dezembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.434 Vamos matar a saud...

 

NÓS NO ZABUMBA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.434




Vamos matar a saudade do nosso tempo, trazendo-o de verdade até nós. Lembra quando havia novenas nas periferias e na zona rural? O aviso era dado através da banda de pífanos composta por pífanos, caixas e zabumba. O pequeno grupo de tocadores saía pelas ruas da cidade tocando e parando nas casas para anunciar onde haveria a novena e pedir dinheiro para o santo anunciado. À frente, um homem ou mulher carregava um quadro cheio de fitas com a imagem do santo da novena, quase sempre de São José ou Santa Luzia. Após o rito novenário, iniciava-se o leilão fruto das arrecadações comunitárias, como: bolos, ovos, galináceos, carneiros e garrotes.  Às vezes também as novenas rurais e periféricas eram anunciadas durante as missas da Matriz de Senhora Santana, em Santana do Ipanema.

Nas novenas dos sítios tanto se rezava quanto se namorava, pois um rabisco de olho sempre escapava para lá e para cá entre as matutas aprumadas do sertão e a sagacidade dos rapazes “praciantes”. Muitas novenas tornaram-se famosas como as de Zé Rosa, no subúrbio Maniçoba, em Santana do Ipanema. Logo cedo do dia, a zabumba estava nas ruas da cidade anunciando a festa e animando o povo. Lembramos de certa música tocada no pife que era preciso entendê-la: A Onça. Tratava-se de uma caçada de onça onde os cães de caça acuavam o bicho do mato , iniciava-se um ataque e uma briga medonha entre a onça e os cães. Os tocadores imitavam no pife os tapas do felino e os caim caim dos cachorros. Uma obra de arte e atestado de competência do pifeiro.

Não era somente o famoso João do Pife que era bom na arte.

Agora mesmo, depois de décadas e décadas do auge da zabumba, sexta-feira passada a Rua Antônio Tavares é surpreendida por um grupo regional da zabumba, denominado São José, devidamente fardado e originário da cidade de Pão de Açúcar. A novidade para a nova geração surpreendeu os moradores. Houve uma parada na frente da casa dos meus pais, onde moram duas irmãs. Festa para a vizinhança! Veja na foto, dois pifes, uma zabumba e duas caixas. Ainda bem que os habitantes da rua lembraram de fotografar as raízes do nosso folclore sertanejo.

Não sabemos, entretanto, se os “cabras da peste”, tocaram a onça acuada pelos cachorros.

BANDA DE PÍFANOS, SÃO JOSÉ (FOTO: MORGANA).

 

 

  PALAVREADO Clerisvaldo B.   Chagas, 11 de dezembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.433   Já alcancei Seu ...

 

PALAVREADO

Clerisvaldo B.  Chagas, 11 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.433

 



Já alcancei Seu Né, nosso vizinho da direita, na sua idade avançada. Era casado com Dona Zezé e que não lembro mais suas feições, mas lembro bem da morena Zefinha, filha do casal. Na sala da frente havia uma imagem de Nossa Senhora da Conceição que muito me atraía da janela baixa da casa.  A santa tinha os braços estirado para baixo e das suas mãos saíam feixes de luz. Seu Né Lecor – que o povo chamava de licor – era calmo, cabeleira cheia e branquinha, fumante inveterado e arredio. Raramente saía de casa. Tinha um compartimento na residência que fora uma bodega, por mim não alcançada. Ligeiramente encurvado, Seu Né era a cópia fiel do cangaceiro de Lampião, Ângelo Roque o Anjo Roque, Labareda.  Os mais velhos diziam que ele fora muito perigoso. Ainda era parente dos escritores Floro e Darci Araújo, falavam. Dona Zezé faleceu e Seu Né casou pela segunda vez com Dona Maria dos Santos que teve um filho, Benedito, o qual apelidávamos de “Benedito Bacurau”.

Maria dos Santos chamava o próprio marido de Se Né.

Todos os personagens acima já partiram, mas ficou na minha cabeça a profissão que seu Né exercia: cubador de terras. Vez em quando chegava um matuto perguntando pela casa de Seu Né “Licor”. E minha mãe Helena Braga que fazia deliciosos licores, me fazia lembrar o vizinho fumador. Seu Né saía lá dos fundos, vinha para sala da frente, abria as portas da antiga bodega e chamava o cliente para suas garatujas no papel. Cubador de terras, indivíduo que mede quantas tarefas de terra tem numa determinada área, uma espécie de agrimensor. Depois descobri que o meu professor de Matemática, engenheiro, conhecido como Neco da Maravilha, também fazia no papel a mesma coisa que Seu Né. Hoje falo para o meu neto essa frase estranha: cubador de terras.

Outra palavra esquisita é o cavouqueiro. Vim saber sobre essa palavra no governo Paulo Ferreira, quando homens estavam abrindo uma rua e detonando pedras. Que diabo é cavouqueiro? profissional que trabalha abrindo pedreiras, especializado em escavar e usar explosivos nas rochas. Se essa palavra e frases regionalistas já eram difíceis para mim, imagina para o meu neto Guilherme, bom de celular e distante das ruas! Podia-se até imaginar que o cubador e o cavoqueiro fossem alguns tipos de tarados.

Assim vamos vivendo e aprendendo entre o passado e o presente e entre o próprio presente que não deixa caber na cabeça tantos termos novos e fabricados na hora. Isso até faz lembrar o apelido exótico de um ferreiro santanense: “Pé Espaiado”. Aí a conversa é outra.

Cavoqueiro dá uma boa letra de forró.

Cubador se inicia com desvio de função.

Eita Nordeste arretado!

CAVOQUEIROS ( foto: gazetaonline.com)