MISSÃO CUMPRIDA E COROA À CABEÇA Clerisvaldo B. Chagas, 4/5 de outubro de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.592 ...

 

MISSÃO CUMPRIDA E COROA À CABEÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 4/5 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano



Crônica: 2.592

Nesse momento em que a SEDUC procura homenagear seus professores em via de aposentadoria compulsória (quinta, passada), vamos refletindo nessa trajetória no Magistério. Aposentado parcial, vamos para a aposentadoria total no próximo 2 de dezembro.  Uma vida inteira servindo à minha Alagoas ilustrado na Geografia a qual completamente me dediquei. Agradeço a convivência profícua nas escolas Ginásio Santana, Instituto Sagrada Família, Colégio Estadual Deraldo Campos, Escola Ismael Pereira, Escola São Cristóvão, Escola Prof. Ernande Brandão, Escola Lyons, Escola Ormindo Barros, Escola Prof. Helena Braga das Chagas, no município de Santana do Ipanema e Colégio Mestre Rei (Olho d’Água das Flores) e Escola Rui Palmeira no município de Ouro Branco.

Estudando em cursos superiores, nunca além de giz e quadro-verde, giz e quadro-verde e mais nada. Tive que partir sozinho para aulas práticas tipo autodidata. Fui pioneiro no sertão nas aulas de campo da Geografia rural e urbana; uma revolução que essa abençoada matéria exigia. Fui referência no Sertão de Alagoas da ciência geográfica até do meu grande mestre, Prof. Alberto Nepomuceno Agra, o melhor da matéria com o qual estudei. Disse-me ele discretamente (não gostava muito de elogiar o homem) “Você me superou”, o que para mim foi uma glória. Tendo a Geografia como segunda esposa, a ela me dediquei como se fosse a melhor das ciências do Globo. Nela viajei com milhares de alunos por Alagoas, pelo Brasil e pelo mundo inteiro, nos livros, nos mapas e nas mentes.

Igual a minha mãe, Profa. Helena Braga das Chagas, constrangida em ser diretora do antigo Grupo Escolar Padre Francisco Correia, dizia que o que queria mesmo era sala de aula. Segui os seus passos com respeito, honestidade e amor ao magistério, cuidando dos filhos alheios como se fossem meus.

Lencinho branco para o dever cumprido e um agradecimento infinito ao Senhor dos Mundos.

Escrevi os maus pedaços na areia e o vento os levou. Os bons momentos ainda estão escritos em rochas de difícil destruição.

Mas nem sei ainda quanto vale um excelente professor!

 

 

 

 

 


  JOANA DO BICHO Clerisvaldo B. Chagas, 28 de setembro de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2,589   Quem joga no b...

 


JOANA DO BICHO

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de setembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2,589

 

Quem joga no bicho se alvoroça. Todos os dias tem que sonhar com um animal que conste na roleta, que se assemelhe ou tenha hábitos parecidos. Quando não sonha com um bicho da roleta, fica desarvorado, procurando na na via um sinal indicativo da sorte. Vê cachorro na rua, joga no cachorro. Vê cavalo na rua, joga no cavalo. Assim vai tentando chegar ao objetivo, sim senhor. Quando o cambista não passa, ele vai à banca. Joga religiosamente como quem paga a água, a luz, o botijão de gás. É uma angústia sem fim do viciado no jogo do bicho, cujo sonho de pobre é ganhar um milhar. Só fala no bicho, vive para o bicho, e cada cambista é um amigo que parece cúmplice alimentador de sonhos.

Em Santana do Ipanema, a velha Joana não dava sossego à vizinhança quando sonhava. Saía de porta em porta indagando: “Tu assonhasse com que, comadre?” Resposta dada, voltava a casa onde o dinheiro já estava enrolado esperando o cambista sabidão. O pouco trocado ganho no jogo, já serve para o ovo, a banana... O tempero. A velha Joana, analfabeta, perguntou ao açogueiro: “com quem assonhass assa noite, compade?”  E ele: “Sonhei com um bicho que começa com a letra “A”.  Joana se alegrou: “já sei. Dessa vez eu ganho”. E a velha Joana iria arriscar o seu dinheirinho suado no tal bicho da letra “A”. A saia varria o chão na alegria incontida de Joana, cujo marido era um dos seus incentivadores ao vício.

Joana aguardou o passar das horas com certa impaciência. Lá nos segredos da tardinha, saiu o resultado do jogo. A velho se encontrou o açogueiro, que lhe perguntou o resultado, se havia ganho na aposta “Ganhei a estrada, cumpade”. “Você me mandou jogar num bicho da letra ‘A’ foi triste”. Resposta: “Como! Eu não ganhei na águia?”. Você ganhou, mas eu perdi quando joguei no Alufante.

Só você, dona Joana!!!