O COMPRADOR DE CINZAS Clerisvaldo B Chagas, 28 de fevereiro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.846   Homenag...

 

O COMPRADOR DE CINZAS

Clerisvaldo B Chagas, 28 de fevereiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.846



 

Homenagem ao comprador de cinzas para os patrões dos curtumes de Santana do Ipanema do século XX. Compravam cinzas, cal e cascas de angico para curtição do couro.

 Jumentos e burros transportavam o material comprado: cal e cinzas em sacos de pano e, cascas de angico em feixes amarrados com embira. A poesia vai ser encaixada no livro “Santana, Reino do Couro e da Sola”.

Dê a sua opinião se a homenagem é justa. Caso não entenda o sentido de algum verso da estrofe, indague nos comentários. Responderemos. Gratos pela leitura e apreciação.

   

O COMPRADOR DE CINZAS

Autor Clerisvaldo B. Chagas.

 

O comprador de cinza é empregado

Do dono usurário dos curtumes

Sai à noite com céu iluminado

Pelo dia vagueia pelos cumes

 

Vão as cinzas nos sacos encardidos

Que seus burros transportam com firmeza

Paga a compra dos preços discutidos

Pela rua do rico ou da pobreza

 

Um idílio na mente viageira

Do seu rancho à trilha é transladado

       Para o casco do burro e da poeira

 

E se amor de caminhos não embasa

Como a cinza mais frágil do comprado

Mas no rancho, não cinzas... Só a brasa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  CASO PAÇOCA Clerisvaldo B. Chagas, 28 de fevereiro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.845   Continuando a pa...

 

CASO PAÇOCA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de fevereiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.845



 

Continuando a palestra de ontem, vamos falar da paçoca que foi atrelada à matéria apresentada. No geral, podemos dizer que a paçoca de hoje, comprada em mercadinhos, é uma pasta básica de amendoim com farinha de milho, apresentada em tablete tipo cocada. Pode ser uma pasta de amendoim moído ou de amendoim inteiro grudado à massa. Isso já era costume do fabrico da paçoca caseira de outras regiões, não da nossa, e que passou a ser industrializado. Assim leva um susto danado, o   sertanejo diante da surpresa diferente da roça e também com nome análogo. Pois, ainda lembrando as explicações do mais velhos, vamos novamente registrar essa curiosidade que na época seria uma verdadeira delícia no Sertão das Alagoas.

A paçoca – cuidado para não transformar o nome num palavrão – era feita com carne de sol, farinha de mandioca e queijo, tudo misturado e batido num pilão de pau, daqueles brutos feitos com madeira de lei e com, aproximadamente, 70 centímetros de altura. A batida se dava com a chamada mão de pilão, e que fazia parte do conjunto do artefato. Essa comida delícia era mais usada nas longas viagens a pé ou a cavalo que era o transporte da época. Quanto ao pilão era de uso obrigatório na zona rural e com ele se fazia quase tudo, pilava café, arroz com casca, milho e tudo mais que viesse à cabeça. O difícil era fazer o pilão apenas com as ferramentas do período pelo artífice roceiro habilidoso. Já ouviu falar em mulher da cintura de pilão? É coisa da época.

Assim já vimos muitas iguarias nossas aproveitadas e transformadas pela indústria. Bem assim são os brinquedos de pau, de mola e de pano que comprávamos nas feiras e nos satisfaziam. As fábricas copiaram tudo e tivemos os brinquedos de volta com novas roupagens. Quanto ao pilão de madeira bruta, também foi copiado para miniaturas utilizadas nas cozinhas e nos enfeites de qualquer apartamento; utilitário para pilar tempero. E mesmo assim, o tempero já vem pronto para o uso. É por isso que existem os museus que retratam o presente para netos e bisnetos do futuro.

Desculpe o jeito de provocar água na boca, mas lembrar o saboroso café de pilão ou café de caco, é coisa inevitável.

 

 

 

  PROVANDO REQUEIJÃO Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.842   O mundo e...

 

PROVANDO REQUEIJÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.842

 

O mundo está sempre evoluindo em todas as áreas de atuações que conhecemos. É inevitável, porém, as comparações. E entre as comparações do antigo e do presente, têm as melhoras e as pioras, tudo exposto à mesa e ao gosto do freguês. Todos agem para a criação de coisas mais práticas e capazes de abastecer o planeta. Deixando de lado todos os complexos das tecnologias, vejamos algo simples com inspiração no campo e na sabedoria da vovó. Trata-se do famoso requeijão, uma iguaria original sertaneja, modificada por invenção mais recente. Existe no campo o queijo normal como o conhecemos, tal o queijo de coalho e o de manteiga ou de fogo. È que o queijo de coalho não vai ao fogo e até recomendado para a saúde como queijo branco.

Segundo os mais velhos, o requeijão era uma espécie de queijo de manteiga ou de fogo, geralmente feito para ocasiões especiais e de durabilidade. Não era raro encontrá-lo nas bancas de feiras das cidades sertanejas de Alagoas. Os nossos antepassados   desenvolveram um método no fabrico do produto em que o miolo continuava normal como o conhecemos, todavia o seu envoltório ou sua casca era robusta, muito grossa mesmo. Era bastante utilizado para as grandes viagens em que o nordestino passava 15 dias em viagem a São Paulo, rodando em caminhão pau-de-arara. Também utilizado nas viagens de romarias ao Juazeiro do Norte para visitas ao padre Cícero Romão Batista. Quinze dias a pé cortando caminhos de pedras e areia. Nos malotes, a paçoca e o requeijão de companhia.

E sobre a paçoca, também era diferente dessas coisas que vendem em mercadinhos com nome usurpado. Graças a um senhor, falecido recentemente, segundo a mídia, foi inventado o requeijão pastoso e que atualmente é vendido em potinhos nas redes varejistas. É prático sim, tira com uma faca e se passa no pão seco. É bonito? É. Mas não tem gosto de nada. Mesmo assim, dizem alguns especialistas que é o melhor para a saúde entre a manteiga e a margarina. Não sabemos informar, entretanto, se o requeijão à moda da vovó ainda é fabricado e vendido em nossos sertões.  De qualquer modo, fica o aqui o registro de uma tradição nordestina que talvez já tenho morrido. Sobre a paçoca falaremos depois, como filha da mesma fonte do falado requeijão.