AS PEDRAS E OS SAPOS Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 106   Na déca...

 

AS PEDRAS E OS SAPOS

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 106

 



Na década de 60, quando o rio Ipanema botava cheia, nós, os adolescentes, com o rio sempre às vistas, marcávamos a intensidade dessas cheias de acordo com uma pedrada margem direita do rio, logo abaixo das olarias. A pedra tinha o formato de um anfíbio, daí a denominarmos “Pedra do Sapo”.  Se a cheia não chegava até lá, era pequena; se as águas chegavam até a sua base, seria uma cheia média e, se as águas chegassem quase a cobrir a pedra do Sapo ou mesmo a cobrir, seria uma cheia respeitavelmente grande. Tudo indica que foi na década de 80, quando o mangaieiro Zé Preto – que morava nas imediações da Rua São Paulo – por motivo de promessa, ergueu um oratório no topo da pedra e fez um acesso de alvenaria. Pronto, estava acabada a nossa tradição.

Mas, tempos depois, no sítio Barriguda, às margens da AL-220, um funcionário aposentado e artista amador, tendo adquirido uma chácara por ali, notou uma pedra em forma de sapo e usou a sua imaginação: Pintou o animal aproveitando as suas formas. A pintura do artista passou a ser uma grande atração turística. Muitas paradas de viajantes para uma fotografia tirada do pé da cerca de arame farpado. Até invasor subia na pedra para exibir fotografia como troféu. Assim encontramos outros artesãos que aproveitam pedras e árvores da caatinga com formato bruto de bichos.  Pintam a forma ou terminam o trabalho da natureza ao dá acabamento. Mas somente essas pessoas dotadas percebem essas formas de imediato porque a arte já está dentro da sua cabeça. Os olhos estão aguçados.

Tempos depois do oratório com escadaria na pedra do Sapo do rio Ipanema, os vândalos destruíram quase tudo, deixando apenas a escada de alvenaria. Nem chegamos a ver o santo da devoção de Zé Preto. Quanto ao sapo do sítio Barriguda, sempre estava sendo atualizado com pintura. Não sabemos, porém, se a manutenção continuou após a morte do proprietário da chácara. Mesmo assim, o “sapo” da Barriguda foi parar em nosso livro, ainda inédito: “Repensando a Geografia de Alagoas”, fotografado em 2016. (Ver abaixo). Quem marca agora as intensidades das cheias do rio Ipanema, não é mais a pedra do Sapo, pois, a modernidade aciona o Corpo de Bombeiros, cuja sede se encontra no Bairro São José.

Ô meu Sertão curioso!

 

  A MORTE DA RODOVIÁRIA Clerisvaldo B. Chagas, 11 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.105   Após mu...

 

A MORTE DA RODOVIÁRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.105

 



Após muita luta da sociedade santanense, foi construída e inaugurada a Estação Rodoviária de Santana do Ipanema, em 13 de março de 1976; era uma das grandes conquistas da “Rainha do Sertão”. O local, muito agradável que até de mirante servia, ali na Avenida Dr. Otávio Cabral, no Bairro Monumento. Os ônibus que circulavam na linha Santana/Capital e vice-versa, finalmente puderam através da nova rodoviária, melhorar conforto, segurança e organização no transporte intermunicipal. Mas, como as reinvindicações demoraram muito a chegar, a Estação Rodoviária, quase não pega mais ônibus nenhum, pois começara a decadência dos grandes carros de transporte e a modalidade VAN, começa a tomar conta de todo o Brasil e o estado de Alagoas.

A estação, abandonada pelo estado e sem o grito municipal, entrou em ruínas. Tudo se foi acabando aos poucos: cadeiras de passageiros, bancos de bagagens, tento desgastado, fios pendurados, árvores da frente entregues à própria sorte. Ficou apenas um pequeno pega-bebo de cunho particular. Mais tarde, nem vaso sanitário, nem letreiro na fachada, nem energia no letreiro, nem vidro protetor. A marginalidade começou a rondar o prédio. Um ou dois ônibus perdidos no Sertão não encontraram mais apoio e, as VANS, estacionadas por tempo mínimo passou a utilizar a sombra maltratada das árvores defronte ou o meio da rua como ponto. Quem se aventura andar ainda por ali, é com “um olho no gato, outro no prato”, isto é, um olho no solo o outro no teto com medo do desabamento.

Até quando a Estação Rodoviária de Santana do Ipanema vai permanecer se diluindo até a última pá de cal? Estamos ainda aguardando, talvez sem esperanças, uma reforma boa, valorosa onde os novos veículos possam atender as básicas necessidades de condutores e passageiros que pagam seus impostos e precisam manter a dignidade em trânsito. Poderia indagar novamente quando é que o povo santanense será respeitado? Não se admite mais ali no bairro Monumento, área nobre da cidade, um monstrengo assombrando passageiros desinformados, inseguros e receosos. Venha senhor, governador, se servir da Rodoviária que se encontra em suas mãos. Como o senhor faria numa dor de barriga braba na hora de uma visita à estação?

RODOVIÁRIA EM 2013 (FOTO: LIVRO 230/ B. CHAGAS).

 

 

  JUAZEIRO/AMOR COM ESPINHO Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.104   Sim...

 

JUAZEIRO/AMOR COM ESPINHO

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.104

 




Sim, o juazeiro é mesmo a árvore símbolo do Nordeste, mas existem várias outras representantes. Pode crescer entre 4 a 5 metros e é mais conhecida por causa da sua resistência às secas. Pode-se escovar os dentes com a rapa do seu tronco e suas folhas são consideradas medicinais. Os seus frutos são pequenos, amarelos e arredondados. O homem pode comê-los em pouca quantidade. É adocicado e bastante apreciados pelos caprinos. Dizem, porém que o vegetal é abortivo. O juazeiro está sempre verde e no verão é convite para um bom cochilo na sua sombra. Aconselhamos, no caso, dá uma varrida primeiro por causa de fezes de animais e de pequenas galhas que se quebram e caem com o vento. Os galhos têm espinhos terríveis e não caem individualmente, mas sempre em fileiras de quatro ou cinco.

O espinho do Juazeiro é comprido, marrom, roliço, duro, pontiagudo e torneado. Penetra firme pelo calçado mole de borracha e provoca uma dor terrível e grossa. O Juazeiro (Ziziphus joazeiro), coopera com sua madeira para fabricação de móveis, barcos, artesanatos, peças finas e muitas outras utilidades. Nunca vimos, porém, alguém derrubando Juazeiro no Sertão onde todos procuram preservá-lo. Entre os poucos pássaros que procuram nele um bom abrigo, está a rolinha que, em casal, gosta de cantar bastante entre a sua folhagem. Terreno varrido, uma boa esteira, deve ser delícia gozar esse cochilo na sombra em pleno verão. O Juazeiro gosta de gemer, atritando seus galhos com o vento, o que bota para correr qualquer desavisado.

Em nosso romance DEUSES DE MANDACARU, existe uma cena em que um personagem fugitivo, depara-se com os gemidos de um juazeiro, ao descer da serra do Gugi altas horas da noite. Pois, o Ziziphus é assim mesmo, cheio de surpresas nos exemplos da sua resistência no mundo rural nordestino. Luiz Gonzaga foi muito feliz quando cantou e imortalizou o Juazeiro, inspirador do nome da cidade do padre Cícero no Ceará e da pujante urbe da Bahia.  Porém, bonito mesmo é você que não o conhece e o arrodeia ao vivo, curioso e com seu caderninho de anotações. E por falar nisso, a região da Bacia Leiteira Alagoana é pródiga na espécie, cuja figura se acha semeada pelas terras férteis e onduladas de um Sertão rico e agrestado.

Em Santana do Ipanema existe o poço do Juá, na parte mais larga do trecho urbano do rio Ipanema.

JUÁ E JUAZEIRO.