AS CUECAS DE LABIRINTO Clerisvaldo B. Chagas, 26 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 116   Vou c...

 

AS CUECAS DE LABIRINTO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 116

 



Vou contar de novo com outra roupagem. Uma vez por ano uma turma de homens casados jovens e alguns rapazes, saiam para Pernambuco para pescaria no riacho do Navio. Isso se tornou tradição. A medida que o tempo passava novos elementos iam aderindo à viagem de lazer que durava, aproximadamente uma semana. A turma levava a feira total, acampava sob às craibeiras de um poço, armavam redes e inventavam mil divertimentos, chamados pelos participantes de “cachorrada”. Tinha muitas brincadeiras pesadas no meio. Entre eles, se entrosou o cidadão com mais de 60 anos, Sebastião Gonçalo, vulgo Sebastião Labirinto. Fumava muito, era sério ou fingia, mas gostava das cachorradas dos parceiros. Contava seus casos vantagens, mas não escondia as rebordosas.

Certa feita Sebastião estava palestrando defronte à loja de tecidos de meu pai, quando os amigos das “cachorradas” começaram a acuá-lo dizendo que “ele só tinha uma cueca”. Este cerco durou vários dias e, Sebastião Labirinto fazia que não estava ouvindo, mas intimamente, gostava da “cahorrada”, como já foi dito. Entretanto, não era somente os companheiros de pesca que mexiam com ele, mas também outros que procuravam agastá-lo, mas, Labirinto continuava fumando e rebatendo de outras maneiras. Um dia apertaram tanto: “Sebastião só tem uma cueca”, que Labirinto, saiu e foi até a sua casa onde ultimamente morou, na CONHAB velha. Pois não é que Sebastião Labirinto retornou com um pacote e o entregou a um dos zombadores dizendo: “Abra”.

Os cabras, pegos de surpresa, abriram o pacote. Estavam ali entre dez e doze cuecas brancas tipo samba-canção, moda da época. Os colegas ficaram pasmos, pois jamais esperariam uma atitude daquela.

Calmamente, disse labirinto: “É porque são todas brancas.

As brincadeiras não paravam entre eles e muitas vezes eram sobre fatos acontecidos nas pescarias do riacho do Navio.

Os enfrentantes das viagens foram adoecendo, morrendo, e a tradição teve fim em Santana do Ipanema.

Sebastião se foi também, muito feliz com as “cachorradas”. Depois do pacote, nunca mais ninguém duvidou das CUECAS DE LABIRINTO.

  PRIMAVERA Clerisvaldo B. Chagas, 24 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 114   É, meus amigos e a...

 

PRIMAVERA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 114

 



É, meus amigos e amigas, foi domingo, primeiro dia de primavera que fiquei eufórico por ter terminado o livro que estava escrevendo sobre o padre Cícero Romão Batista. Muitos percalços nesses 12 anos de pesquisas, inclusive o COVID. “Padre Cícero, 100 milagres Nordestinos”, agora foi para a segunda fase que é consultas a gráficas para orçamento. E com outras etapas, se Deus quiser, o livro será distribuído gratuitamente, primeiro entre os depoentes/testemunhos, depois aos romeiros que estiverem na Pedra do Padre Cícero no dia 20 de julho, em Dois Riachos, Alagoas. Grande romaria tradicional à Pedra pelo dia de morte do padre Cicero. Mas como ia falando, chegou a primavera trazendo esperanças para o nosso hemisfério e para todas as nossas almas.

O sertão, nesse primeiro dia da estação, amanheceu, nublado, úmido e ainda com as últimas friezas do inverno que se foi. As árvores da caatinga estão floridas se preparando para o Natal, a exemplo da belíssima craibeira de flores amarelas. Pela intensa arborização dos quintais de Santana, vamos notando a mudança do tempo com flores e frutos de época. Mesmo na arborização das ruas, diversas árvores como a Acácia, o Pau-Brasil... Vão soltando seus pequenos frutos que atapetam o chão. Os montes que circundam a cidade, convidam para um domingueiro passeio familiar. E pelas ruas da cidade, pelos sítios, pelos povoados, o ritmo febril de campanhas políticas, parece nem ligar muito para a Natureza. Mas a primavera avança acenando para o mundo.

Infelizmente, o rio Ipanema continua poluído, pelo próprio povo inconsciente. E como foi dito acima, faz parte de belas paisagens genuinamente sertanejas. Mesmo cheio de descartes dos poluidores, suas areias mostram muito o verde, formando um belo jardim entre os pedregulhos, bolsões de lixo, poços afogados e pedras lisas. E os jardins primaveris que se formam no trajeto do leito sem água, igualam-se a quaisquer outros belos jardins, mas também depende dos olhares do observador.

Pensamento positivo, leitoras e leitores para contribuirmos com uma PRIMAVERA verdadeira na faxina dos mundos e baseada no coração magnânimo do Grande Arquiteto do Universo.

IGREJA AO PADRE CÍCERO. LAJEIRO GRANDE (B. CHAGAS/ACERVO DO AUTOR).

 

  O HOMEM TEIÚ Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.113   O lagarto Tiú, T...

 

O HOMEM TEIÚ

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.113



 

O lagarto Tiú, Teiú ou Tejo, é muito inteligente, quase sempre ganha as brigas com as cobras e, sua carne com sabor galinha, é muito apreciada pelo sertanejo. Gosta de tomar o Sol da manhã esparramado nos lajeiros. Numa briga com a cobra, ao se sentir picado, abandona rapidamente a luta, vai morder uma batata contraveneno e retorna ao embate. O Tupinambís, assim como o Cágado ou Jabuti, já foram muito caçados e vendidos, principalmente para os farristas dos anos 60 em Santana do Ipanema. Com a caça proibida volta o fôlego a esses importantes animais da fauna nordestina.

Em Santana do Ipanema, entre os fundos das casas comerciais e o rio Ipanema, morava a família dos Biu. Pobre e amundiçada viviam principalmente de esgotar fossas e realizar os serviços mais sujos da “Matança”, assim chamado o lugar aberto de abate de bovinos. Diziam que comiam de tudo, cães, gatos e vísceras de animais. Dormiam em amontoados e os parceiros sexuais pertenciam a mesma família, pai com filha, mãe com filho e assim por diante. Isso são histórias contadas pelo povo. Entre os Biu, surgiu a figura carismático de um caçador de Tiú. Homem esmolambado, aparentando 60 anos, tinha as feições agradáveis e de aspecto permanentemente alegre. Era sempre visto entre o Beco São Sebastião (Comércio) e o Mercado de Carne. Usava um bornal velho sebento, tipo aió, onde guardava a caça e procurava comprador. Por onde o homem passava, chovia alegria no povo e vinha cumprimentos por todos os ângulos: “Teiú, Teiú, fala Tiú! Tudo bom, Tiú?”...

Nunca vi uma figura tão popular e querida igual ao caçador Tiú! Quantos e quantos políticos gostariam de possuir aquele carisma do homem esmolambado e paupérrimo que emergia e submergia no Beco São Sebastião! Gradativamente a família Biu desapareceu da terra santanense, provavelmente pelas condições contínuas da miserabilidade, sem médico, sem farmácia, sem dinheiro, sem a misericórdia dos grandes da cidade.  Assim, nem a força simples e carismática de Tiú, foi capaz de despertar solidariedade.

O Beco São Sebastião é repleto de histórias sertanejas.