FOI TARDE DE LAZER Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica:   3.150   Para nós...

 

FOI TARDE DE LAZER

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica:  3.150

 



Para nós, a excelente turma de ginasianos, foi uma surpresa. E, diga-se de passagem, uma surpresa boa. Alguém se preocupara com uma atividade um momento de lazer e cultura para a 20 Série, cujas janelas de vidros e madeira davam para a vizinha Praça da Bandeira. A maior classe de todas as quatro da escola. Entre outras atrações apresentadas, trouxeram a filha de um gerente do Banco do Brasil, para algumas apresentações com um belo acordeom vermelho. Claro que eu poderia chamar de Sanfona. Mas, era a filha do gerente, representando a elite bancária de altíssimo prestígio na cidade. Ceci também era aluna em trânsito, do Ginásio. Novinha e simpática deu um belo espetáculo tocando várias páginas musicais que nos encantaram. E se não me engano ”Saudade de Matão”.

Assim, nós notávamos quanta diferença faz, uma atividade cultural e de lazer num curso educacional puxado. Ali estava, Ceci do senhor Barradas, tocando valsas e outras páginas, despertando a música para colegas sem oportunidades. E de sanfona, propriamente dita, só conhecíamos a da fama de Luiz Gonzaga ou os pés-de-bodes dos caboclos nas pontas de rua. Mas, um acordeom chique daquele manejado pela menina-moça da sociedade de cima, era “beleza pura” como se pronunciava o senhor Benedito Pacífico, dono do restaurante “Biu’s Bar e Restaurante da Rua Delmiro Gouveia. Mas isso foi muito antes de professores que gostavam de promover atos culturais, mais adiante, como Guimarães e o pastor “Topo Gígio”.

Entretanto, podemos afirmar que o ambiente estudantil do Ginásio Santana, era tão agradável que as nossas noites de aulas equivaliam à Educação, à Cultura e ao lazer no próprio cotidiano. Frequentamos aquela escola durante seis anos como aluno e vários como professor de Ciências e Geografia. Pelo menos dois prefeitos foram meus alunos, um de Santana, outro do Poço das Trincheiras e, entre tantos outros famosos, o repentista José de Almeida, já na Colégio Santo Tomás de Aquino (Curso Médio de Contabilidade). O Ginásio Santana tinha um encantamento próprio e que brilhava em qualquer lugar de Alagoas através de qualquer um dos seus ex-alunos. Era uma das melhores escolas do estado e muito respeitada na capital Maceió.

GINÁSIO SANTANA EM 2013. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 

 

 

  LAMPIÃO E O TIRO DE GUERRA Clerisvaldo B. Chagas, 20 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.149   Co...

 

LAMPIÃO E O TIRO DE GUERRA

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.149

 



Conta a história sertaneja que na década de 20, Santana do Ipanema, já possuía uma representação do Exército Brasileiro. Era o tão falado na época, Tiro de guerra, composto por, aproximadamente, 25 homens.  E no ano de 1926, Lampião que desceu furioso do Juazeiro do Norte, entrou nas Alagoas e assaltou vários sítios rurais do município de Santana do Ipanema. Mas por que o bandido não invadiu a cidade que se organizou com barricadas na Rua da Poeira? Não foram poucos os que afirmavam o receio do cangaceiro em enfrentar a representação verdinha. Lampião optou por um ataque à vila de Olho d’Água das Flores, totalmente desguarnecida. Pulemos então, para o final dos anos 50 e início dos anos 60.

Naquela época o Tiro de guerra ainda continuava em Santana do Ipanema. Seu alojamento era no “sobrado do meio da rua”, aproximadamente onde funcionou “Arquimedes Autopeças”. Conhecemos o comandando da unidade, um cabra forte e musculoso chamado Cadete, que residia entre a Cadeia Velha e os fundos de uma padaria (não temos certeza se era a padaria do Senhor Raimundo Melo). Em um dia estiado de inverno, os soldados passaram marchando em exercício pela rua sem calçamento Antônio Tavares. Quase defronte à casa da professora Adelcina Limeira, havia uma poça d’água e, o soldado Jaime Chagas (futuro prefeito da cidade) tentou burlar o comandante se desviando da poça. Esse percebeu a manobra e fez o recruta voltar e marchar por dentro da água barrenta.

Não sabemos quando o Tiro de guerra deixou Santana do Ipanema, talvez nos anos 70. Mas, antes de 1964, o Exército construiu um quartel em Santana e que foi abandonado pouco tempo depois. O prédio ocioso passou a funcionar como escola. Ali foi fundado o Colégio Estadual Deraldo Campos, em 1964. Repetia-se a história do Ginásio Santana que passou a funcionar no edifício ocioso que fora quartel de polícia.  Amigos e amigas, se ainda não te contaram isso, é porque faltou a leitura do “Boi, a Bota e Batina, História Completa de Santana do Ipanema”.

O tema lhe interessa?

Quer mais?

TIRO DE GUERRA EM OUTRA REGIÃO.

 

  A COBRANÇA Clerisvaldo B. Chagas, 19 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 148   Não era ônibus mo...

 

A COBRANÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 148

 



Não era ônibus moderno, nem o trem, nem vans, era o caminhão bruto quem levava e trazia passageiros e mercadorias. Os mascates de Santana do Ipanema que davam feira em Olho d’Água das Flores, Carneiros, Pão de Açúcar, submetiam-se a esse único tipo de transporte. Assim, os caminhões partiam para as cidades circunvizinhas lotados de mercadorias para vender naquelas feiras. Os donos da mercadoria, isto é, os mascates, viajavam em cima da mercadoria, sentados em duas alas, pernas penduradas para fora da carroceria. A dureza da profissão fazia surgir tipos engraçados que também iam para feira levando tipos de jogos como negócios. Piadas gargalhadas, histórias curtas e divertidas, procuravam amenizar a tensão nascente do dia.

Quando o destino era Olho d’Água das Flores, por exemplo, a jornada pela rodagem empoeirada, tinha estacionamento na divisa dos dois municípios onde havia uma casa de fundos voltados para rodagem e um grande pé de jasmim no terreiro. Ali, o proprietário do caminhão, o próprio motorista, fazia a cobrança subindo à carroceria e se equilibrando por cima de lona dobrada, caixas de tecidos, louças e tantos outros objetos. Registramos proprietários caminhoneiros como o senhor José Cirilo e Plínio, irmão de Eduardo Prazeres, dono de olaria. Clientela costumeira, sem problema algum, pagamento certinho, cobrança em lugar estratégico e jornada de volta.  Em tempos de inverno, às vezes, no retorno da feira, se pegava o valente riacho João Gomes com cheia violenta e ainda sem ponte. Pense na trabalheira infernal que entrava pela noite!

Essa gente representava os verdadeiros heróis do progresso que abasteciam cidades e municípios de tudo o que eles precisavam

para garantir azeitado o cotidiano. Tempo duro para quem era mole onde o futuro era ali mesmo na hora presente. Ah... E quando o rio Ipanema, também sem ponte, assustava os mascates com suas cheias descomunais! Entretanto, desafios sempre estiveram presentes no caminho da humanidade. Sem desafio tudo vira rotina e monotonia esfriando o caminheiro do planeta Terra. Mas, voltando aos heroicos tempos dos mascates, nunca conseguimos apagar da mente a parada da cobrança, na casa virada do pé de jasmim.

Assim é o caminhar da gente quando, de vez em quando, a vida pára e nos faz a cobrança.

REPRESENTAÇÃO SANTANA