O ROMANCE QUE ESTÁ SENDO ESCRITO Clerisvaldo B. Chagas, 28 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.153 ...

 

O ROMANCE QUE ESTÁ SENDO ESCRITO

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.153



 

Caso você tenha lido a nossa crônica 3. 151, “O Romance Que  Não Foi Escrito”, saiba que houve uma reviravolta na mente do autor. Antes, em Maceió, como estudante, pretendia escrever um romance com epicentro na Laguna Mundaú, retratando o cotidiano de pescadores de sururu e de marisqueiras. A ideia não foi à frente, mas hoje o mesmo desejo surgiu com as lembranças da crônica “O Romance Que Não Foi Escrito”. Releia. Escravo desse desejo, delimitei com a mente o cenário de uma novela ou romance da região do rio Ipanema, onde conheci como crianças todos os personagens ali vividos como: Mário Nambu, Alípio, Zefinha, Antônia, José Quirino, Elias, Zé Limeira, Salvino Sombrinha, Seu Tou, Carrito, Tina prostituta, Zé Alma, Dadinho, Beroaldo Zé Alves, Joaquim e Zé Preto manganheiros, Bento Félix, Maria Lula, Adercina, Júlio Pezunho, Zuza, Nego Tonho, Caçador, Genésio Sapateiro e outros mais.

Iniciei um romance com esses personagens, não completou ainda uma semana e já estou no nono capítulo. Isso fez com atrasasse minhas crônicas geralmente diárias. Calculamos que nesse ritmo poderemos terminar a obra, lá para o dia 15 ou 20 de dezembro, ocasião em que já estarei, se Deus quiser, com 78 anos. Todos estes personagens reais estão sendo resgatados da região delimitada como centro do romance, a região do curral de gado do senhor José Quirino, fundador da rua que levou o seu nome e hoje se chama prof. Enéas. A vizinhança, Perfuratriz, Fomento, Sementeira, Rio Ipanema, Olarias... E ainda com personagens fictícios como protagonistas, para não comprometermos à memória daquela gente com fatos negativos.

A princípio, esse resgate histórico transformado em ficção mista, caso haja interesse das autoridades, poderá ser transformado em novela ou em longa metragem que poderia elevar bem alto o nome da nossa cidade com tema social, econômico e humano tão relevante. E o livro, em havendo patrocínio, seria distribuído gratuitamente aos amantes da cultura santanense, nordestina e brasileira.

A capa do novo romance é surpresa, com motivos do rio Ipanema, até agora somente mostrada aos escritores, Marcello Fausto e José Malta.

Vamos voltar ao computador para escrever o nono capítulo, já está todo na cabeça. Fui.

 

 

 

 

  O RELÓGIO DA MATRIZ Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.152   Sim, ele ...

 

O RELÓGIO DA MATRIZ

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.152

 



Sim, ele veio da reforma 1949-1953, da Matriz de Senhora Santana, em Santana do Ipanema. Representava um dos grandes charmes da torre de 35 metros que encantava a região sertaneja. Em cada uma das quatro faces da torre, um enorme mostrador que ajudou em muito o comércio local e a população. Passou a ser a hora oficial da cidade e os comerciantes abriam e fechavam o comércio baseados nos seus quatro mostradores. Assim o, Comércio abria as 7.30 horas e puxava para o fechamento às 11.30. Parada para o almoço.  Reabria a 13.30 e seguia para o fechamento às 17.30.  Uma marreta automática batia as horas em um sino sem badalo e o som era ouvido por toda periferia de Santana e por alguns sítios rurais com as Tocaias.

Lá da Rua Antônio Tavares, dava para avistar a hora e, nesse caso fomos muitas vezes para defronte à casa do Senhor Severino (pai de Valda) e que dava para enxergar bem as horas na Matriz. O relógio gigante parecia regular a hora de todos em Santana do Ipanema. Depois que deu o prego, pronto. Muito difícil se dá um jeito em coisa tão antiga. Sobre sua origem, nada ficou registrado, bem como as origens dos sinos no compartimento imediatamente inferior. Entretanto o relógio da Matriz nunca foi retirado da parede. Mesmo parado há décadas, continua ocupando seu espaço antigo como quem diz: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Funcionando ou não, mantém a beleza intacta da torre. Inúmeras vezes foi o meu guia nas idas para o Grupo Padre Francisco Correia e nas aberturas e fechamentos da loja de tecidos de meu pai, no Comércio.

Sim que a Igreja Matriz toda sempre foi o cartão postal do nosso município na sua totalidade. O relógio podia até nem chamar atenção, mas sua utilidade era praticamente escravagista das incontáveis consultas públicas. Já ouvi suas badaladas encolhido na torre dos sinos. Morto de medo, é verdade. E no romantismo do inverno, quando as andorinhas sentavam no alto da torre e no sobrado do meio da rua, as fortes badaladas da casa do relógio, faziam-nas voltar a rodear a torre com seus piados característicos. E se você viu que andorinhas, relógio e torre eram tão românticos no inverno, não pode imaginar também a expectativa do verão.

MATRIZ DE SENHORA SANTANA.

 

  O ROMANCE QUE NÃO FOI ESCRITO Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.151   ...

 

O ROMANCE QUE NÃO FOI ESCRITO

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.151

 



Sim, todos aqueles personagens que moravam perto do rio Ipanema, naquela rua sem calçamento, repleta de barro de louça, sabiam de sobra o que era a pobreza e a miséria. Alípio, Tributino, Mário Nambu, Zefinha, Antônia, Abelardo, Arnaldo, jisus, a prostituta Tina e a vasculhadora de casa Maria Lula. Estamos falando dos anos 50-60, em Santana do Ipanema. Oscar Silva já havia escrito um romance Maceió-Sertão, mas havia sido há mais de trinta anos passado: “Água do Panema”. Estou lamentando que nem eu, por não ter pensado nisso antes, e nem outro escritor da terra, fez um romance com os personagens acima, narrando o cotidiano daquele lugar. Falei várias vezes em crônicas e vou lembrar novamente Maria Lula. Todos moravam defronte do curral de gado do senhor José Quirino.

Na última casa da rua, casa pequena e de taipa, Maria Lula vivia sozinha. Olhos azuis, alta, forte, branca galega, parecia uma alemã. De modo grosseiros, não era bonita. Sempre estava indo ao Ipanema, lavar a roupa e apanhar água para beber. Transportava pote de barro com água de cacimba, ou no ombro ou na cabeça, com rodilha. Era convidada pelas casas de pessoas abastadas, para vasculhar a casa, usando vassoura de palha e vara comprida. Vez em quando, Maria Lula tomava uma bicada de “cana”, o que a deixava mais vermelha do que chapéu de mestra de pastoril. Maria Lula também podia abastecer alguém com água do pote.

E bem que um romance de amor naquele terreno escorregadio de inverno, seria interessante: Maria Lula, vasculhadora; Mário Nambu cantor; Tributino, pescador; Zefinha, engomadeira; Antônia, lavadeira; Alípio, ébrio e ex-jogador do Ipanema; Jisus, carregador de sacos; a vizinhança: Genésio, sapateiro, Zé Preto e Joaquim, manganheiros, Silvino Sombrinha, consertador de guarda-chuva; Santana e Carrito, bodegueiros; Tina, prostituta; Caçador, policial civil; Zé Limeira, fazedor de malas; Nego Tonho, muito novo.... Veja que romance supimpa! Quem sabe...  Quem sabe...  Quem sabe!

POVO DA BEIRA DO RIO (FOTO: JEANE CHAGAS).