quarta-feira, 25 de maio de 2011

SÓCIO DO DIABO

SÓCIO DO DIABO
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de maio de 2011.

          Com a nossa incursão por muito tempo pelo mundo dos cantadores nordestinos, depositamos inúmeras pequenas histórias que se tornaram imortais. Como iniciante na arte ou como apologista, ficamos impregnados do mundo mágico da criatividade, sensibilidade e beleza da poesia fabricada na hora, da melhor qualidade e aos borbotões. Muitos anos antes de penetrar nesse mundo maravilhoso do repente, conhecemos um apegado apologista, já tocado por nossos trabalhos anteriores. Antes, vivíamos às voltas com Bilac, Pederneiras, Varela e outros da Literatura. Hermínio Tenório, o Moreninho, dono de farmácia, prático de Medicina e boêmio de farras colossais, repetia e repetia passagens marcantes das grandes cantorias. Gostava também de recitar Catulo, Zé da Luz e Castro Alves. Moreninho tinha predileção pelo famoso encontro em Alagoas de Manoel Neném com Joaquim Vitorino. Manoel Neném era, então, o predileto dos grandes de Viçosa, onde residia. Joaquim, de solo pernambucano. A abertura do encontro ansiosamente esperado foi assim:

“Sou Joaquim Vitorino
Filho do velho Ferreira
Natural de Pernambuco
De Afogados da Ingazeira
Sou o maior cantador
Dessa terra brasileira”

          O representante alagoano de origem pernambucana, respondeu:

“Eu sou Manoel Neném
Cantador que não se braia
Sou vento rumorejante
Nos coqueirais de uma praia
Sou maior que Rui Barbosa
Na Conferência de Haia”

          O salão foi abaixo com o início e o desenrolar da cantoria. Vitorino foi muito aplaudido, gerando ciúmes e terrível inveja naquele que ainda não enfrentara um gigante igual a Joaquim. No final, lá nos escuros do terreiro, Manoel Neném partiu para apunhalar o adversário, mas foi seguro por um dos figurões que disse: ”Um canário desse não se mata em Alagoas”.
          Vimos assim que a inveja está em todos os lugares, desde o mundo encantado da poesia aos salões de velhos gabinetes. O invejoso é um frustrado tão profundo que mata com o olhar, com bruxaria, colocando pedras nos caminhos, anonimamente desvalorizando. Julga-se invisível nas suas nuances maquiavélicas, mas são facilmente detectados pelos galos de calejados esporões. O prezado leitor já foi vítima da inveja? Não acredita? Rezemos, então, ao anjo de guarda do (a) seca-pimenteira porque ser invejoso é ser SÓCIO DO DIABO.





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